Carlos Daliga
A chuva que cai,
escorre pelos telhados,
limpa as janelas,
do velho casarão .
Molha a porta e desce pela rua,
desaguando no ribeirão.
Enche os rios, lagos e lagoas,
numa grande imensidão,
levando a natureza para sua perfeição.
Ondas
De todas as suas ondas,
eu gosto daqui vai,
daqui vem,
daqui me joga,
daqui me leva,
daqui me afoga.
A ponte
De dia é importante,
a noite é dos amantes,
na lua é brilhante.
A ponte.
Suas curvas emocionante,
te vejo no mirante.
A ponte.
Se tem algo mais elegante me aponte.
Não vejo no horizonte,
o sol se pôr.
Nem aquela estrela brilhante,
que você nomeou.
A velha nuvem não apareceu,
pra sombrear o que aconteceu,
foi apenas tinta guache,
que a água desmanchou.
Não tem mais cor,
não tem mais graça,
este amor.
Se for pra ficar só,
eu fico aqui, descalço, pensamentos
produzidos no meu jardim.
Se for pra dormir só,
eu durmo aqui, nas nuvens frias
ouvindo som tupiniquim.
Se for pra falar só,
eu falo aqui, comigo
numa viajem que não tem fim.
Se for pra olhar,
olho pra mim, elogios, me abraço, beijo enfim
Aqui em cima tudo é azul,
solto meu fogo no seu corpo nu.
O vento me leva e você entrega,
aqui em cima onde tudo é azul
Somente as flores
no meu jardim,
o cheiro da rosa e do jasmim.
O verde, vermelho e amarelo,
enfim, somente as flores no meu jardim.
Silêncio pra ter,
com fome pra comer,
com fone pra te ouvir,
com sono pra dormir.
Silêncio.
Silêncio pra ter,
sempre! Perto de mim.
Silêncio pra ter, até o fim.
Silêncio.
Com sono e com fone consome minha fome.
Silêncio, sempre!
E você perto de mim.
Abro o cadeado, dou três passos
e vejo uma nuvem, escura!
Do meu lado uma linda flor, ternura!
Um passo pra frente lá em cima tudo é azul, infinito!
A natureza me alcança, oxigena com seu verde, bonito!
Abro a janela só pra ver o rosto dela, singela!
Volto para o sofá com os pés no chão, solidão!
Não ando mais,
nem menos,
não corro para o futuro.
No passado que planejei
vejo as luzes do noturno.
Com pressa de ir!
Para onde?
Melhor ficar aqui neste presente de natal.
Sonhei que meu jardim não era verde,
que a flor adormecia,
não tinha banho de sol,
nem a lua aparecia.
O chão estava seco, sem molhar,
a água que pingava, era pouca,
muito pouca,
e escorria de seu olhar.
A roda é gigante,
o cavalinho é brilhante,
o patinho é elegante,
a montanha e gritante,
o trem é aterrorizante,
o tapete é flutuante,
voltei a ser criança neste instante.
Olho para o teto,
penso no que sou,
penso no que não sou.
A um passo, um pássaro se joga a voar.
Quase conheço e desconheço o ato de se libertar.
Negros cabelos,
olhos claros,
bocas sabias,
cores raras,
pele desnuda,
quarto fechado,
palavras e suspiros,
escuro barulho,
silêncio e mais nada.