Carlos Augusto Cacá
Pra mim, você era tanto
Que não podia alcançar.
É como uma estrela no canto
Do céu de qualquer lugar.
Sendo assim inatingível,
Eu deveria evitar
Esse amor tão impossível,
Tão distante a cintilar.
Mas, se o coração reclama.
Eu me ponho a imaginar
Que dorme em minha cama
E fico assim a sonhar.
Acaricio a roupa
Que trouxe pra se deitar.
Não sei se é você a louca,
Se sou eu a delirar.
Só sei que te vejo ardente
Querendo se entregar.
Ou vira estrela cadente,
Ou eu aprendo a voar.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Lá estão elas rompendo a estrada.
Deixam distantes seus dias risonhos.
Já desistiram dos contos de fadas.
Hoje cultivam os seus próprios sonhos.
Lá estão elas cerrando fileiras.
Trazem enxadas e foices nos ombros.
Fadas Madrinhas se tornam guerreiras.
Marcham por sobre seus próprios escombros.
Se já não têm o destino nas mãos,
Se, sob os pés, lhes retiram o chão,
Ainda assim vão em busca da vida.
Se lhes acuam, empurram pra morte,
Criam desvios, mas mantêm o norte.
Seguem marchando feito Margarida.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
A segurança do palco
Não seduz a trapezista.
A sua alma de artista
Projeta-a para o alto.
Se há um risco no salto,
Há outro na plataforma:
Viver essa vida morna,
No máximo, balançar.
Porém, se quiser voar,
E se confia em meus braços,
Salte e ouça os aplausos
Quando eu te colher no ar.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Um fantasma paira sobre nossos sonhos.
Esbraveja, ameaça e desanima.
Tanto alarde, tantos brados tão medonhos
Que há perigo de aceitarmos uma sina.
Mas será tão forte assim o nosso algoz?
Pode alguém subtrair nossa esperança?
Só se não soubermos nem quem somos nós
Nem de onde brotam os sonhos de criança.
Sendo assim, façamos a declaração:
Nascem os sonhos do fundo do coração.
É o sangue que os liga às raízes.
E o que somos é fruto do que fazemos.
E, por isso, hoje nos reconhecemos
Proletários de todos os países.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Tanto o desejo a tomou
Pelos braços, pelas pernas,
Que a mulher retirou
O seu homem das cavernas.
Deu-lhe à luz pra que enxergasse
A maravilha das cores
E esperou que ele voltasse
Trazendo ramas de flores.
E seu homem, agradecido,
Ao vê-la assim se dando,
Foi ficando enternecido.
Foi ficando, foi... ...ficando.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Carlos Augusto Cacá
Eu faria o seu poema.
Não o que você merece,
que não é fácil fazer tanto.
Mas, um poema sincero,
pra gravar dentro de mim
as linhas do seu encanto.
Ele seria incompleto,
que nem tudo a gente vê.
E mesmo que eu pudesse
percebê-la como é,
não saberia explicá-la.
É que a poesia é falha
e o poeta, mais ainda.
Mas faria com vontade,
que a vontade me sobra
de te traduzir em traços,
rabiscos e embaraços
que eu pudesse entender.
Eu faria seu sorriso
de quem gosta de sorrir.
Suas pernas pelo mundo
abrindo trilhas de vida
e os pés firmes no chão.
Faria as suas mãos,
o seu abraço, os seios,
seus sonhos e devaneios,
e seu cansaço ocultado.
Eu faria seu rosto,
cabelo, boca e olhos.
Até sentir o seu cheiro
Perfumando meu papel.
E te gravaria em mim,
no escuro do meu dentro
pra cintilar como estrela.
Mesmo te fazendo errada,
incompleta, inacabada,
Sempre poderia vê-la,
mostrando o rumo da estrada.
Eu faria a caminhada
se eu pudesse fazê-la.
Esse homem de que fala
bem que podia ser eu.
Suas pernas, duas alas
conduzindo ao apogeu.
O seu corpo como vi,
até as marcas de dores
que imagino em ti,
nos meus versos sonhadores,
as palavras provocantes,
presentes desde o começo,
já são coisas de amantes
e ainda nem a conheço.
Meu amor não é fogueira nem sopro.
Não se desfia nem se desdobra à toa.
É cauteloso e principia pouco
Para crescer a cada coisa boa.
Amor bondoso, resistente ao tempo,
Constante mesmo quando se magoa.
Envolvedor e, em seu envolvimento,
É mais amor e, sendo assim, perdoa.
Embora possa parecer maduro,
É meu amor também insaciável,
Sem rumo certo, amargo e inseguro.
É meu destino, mesmo tão amável,
Tornar o amor, além de insuportável,
Ao mesmo tempo, eterno e sem futuro.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Descobri que tu me amas,
Ainda que amor pequeno.
De fato, tu não derramas
A insensatez do extremo.
Mas que me amas é certo.
Assim como é certo a lua
Esparramar seu afeto
Na escuridão da rua.
E sendo assim como és,
Ama pouco. É o bastante.
Não te convém o viés
De inconseqüente amante.
Ao amar suavemente,
Deixas clara, transparente
Tua alma comedida.
Me inspiras confiança,
Renovando a esperança
De iluminar-me a vida.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
O cravo gostou da rosa.
E ela foi tão gostada
que o cravo fez um pedido
E a rosa foi encantada.
O cravo ficou contente.
A rosa foi visitar.
O cravo queria toda
A rosa pra se abraçar.
A rosa era tão linda
Que o cravo tentou prendê-la.
Assim quebrou o encanto
E agora não pode tê-la.
(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Chapeuzinho Vermelho,
quando sonha seu sonho,
tem o lobo no meio
e um medo medonho.
Mas também tem vontade
de seguir seu caminho.
E encara a verdade,
modifica o destino.
Se perder a esperança,
ao olhar-se no espelho,
não verá a criança
e desbota o vermelho.
Se não é confiante,
já não come nem sonha.
Tem o lobo distante
e a cara tristonha.
Mas, se grita o vermelho
e o sonho se solta,
tem o lobo no meio
e alimenta a revolta.
(do livro Fadas Guerreiras, com adaptação do autor)