Carla Dias
Tem dias em que não somos nós mesmos, somos outra pessoa, um indivíduo gritante, um gigante que nos acotovela por dentro na tentativa de nos abortar, que, sedento por liberdade, não se importa em nos extinguir, alimenta-se do que nos fere, ganha força ao vislumbrar nossa impotência diante da fome dele: nos rasga e emenda quando bem quer.
Uma lasca de desejo
Uma oração sem razão
Três pares de desejos
Uma confissão em construção
Três melindres descarados
Três autos de redenção
Um desfecho recusado
Três tempos de contemplação
Dois suspiros compassados
Dois pensamentos em vãos
Dois ramos de pecados
Quatro compassos de canção
Eu desejo
que nos dias de chuva
você se permita escutar
a melodia dos telhados
que à mercê das mágoas
busque lembranças que prezem
pela alegria
Desejo que a vida lhe abrace
no dia em que você precisar
de companhia
e que o vento lhe sopre pistas
sobre onde encontrar
paixões e sonhos
Tenho tuas mãos sobre os meus ombros,
como se fizessem parte,
da arquitetura imperfeita
da minha existência.
Nas mãos cabe gosto
Cabe sal
Nas mãos cabe
Ternura e uma canção
No olhar distrído
Cabe procura
Na alma intranquila
A solidão...
Na alma cabe desejo
Cabe mágoa
Na alma cabe
Cantatas e paixões
No corpo tremulo
cabem charadas
na falsa indiferenças
Razões