Candido Nicola -1996
A AMIZADE
O mais belo sentimento com que Deus adornou
a humanidade foi, sem dúvida, o da AMIZADE.
C. N.
No campo da perfeição. No sentido mais elevado do termo. AMIGO é aquele que ama outra pessoa sem que busque nela qualquer interesse utilitário, ou pretendendo utilizá-la em proveito próprio, ou usá-la como meio de alcançar determinados fins.
Quem se dispõe a ser amigo doutro, terá de o aceitar tal qual ele é - o seu feitio, a sua personalidade, reacções e problemas - como sentir-se disponível, se praticável, para o acompanhar em tudo
o que lhe possa acontecer - de bom e de mal. Para que se complete este ciclo de amizade é absolutamente necessário que haja, do lado do outro, recipro- cidade de sentimentos e atitudes.
A correspondência de afecto, disponibilidade e sacrifícios (quando
importe fazê-los) têm de ser idêntica para que não haja desequilíbrios na balança da amizade, a que aproxima os amigos
é algo de indefinido, uma mútua cativação latente: uma espécie de muda sedução que, libertando-se, se vai manifestando em pormenores, em leves ou marcadas sintonias. Uma quase adivinhação. ou visão de algo que há no ar de agradável, achegando-se entre ambos.
O que atrai na amizade é sentirem-se acolhidos pelo outro, o que equivale quase a dizer - serem uma só alma em dois corpos. Estabelece-se uma total confiança, dada sem reservas entre si.
A vida da amizade é urdida tanto de palavras como de atitudes e silêncios. Quantas vezes só a presença basta.
As palavras usam-se para obter confirmações já pressentidas ou reforçar sentimentos adivinhados, sabidos ...
Os silêncios procuram-se para dar ocasião a que as sintonias se cimentem, ganhem dimensão e calor. As atitudes sublinham tudo o que se intuiu.
A amizade em comunhão é uma linguagem que turbilha numa interioridade mais profunda e que, como num vulcão tranquilo, meio adormecido, vai desbordando para o exterior, toda a «produção» que a amizade fabricou.
Ela não surge repentina. Processa-se de modo lento, passando por uma série de experiências e tentativas, de modo a conhecerem-se melhor, a descobrir afinidades, gostos. tendências... Também a registarem reacções, evasivas, acolhimentos, recuos, aceitações...
Há, digamos, entre ambos uma sucessão de «apalpações» cuidadosamente medidas, delicadamente efectuadas. Tudo serve para que os dois vão fabricando a malha, que o tempo vai tecendo, mas sendo eles os obreiros. Se a malha agrada, ambos se empenham em aprimorá-la e nela vão, crescendo, apurando, aperfeiçoando e consolidando o «trabalho» em que estão empenhados. Se a textura começa a sair irregular e rapidamente não a corrigem, a amizade fica em perigo e tende a acabar.
O nascimento da amizade desenvolve-se um pouco como o da relação do recém-nascido com a mãe. Se a criança se sente bem instalada e recebe constantes atenções da mãe, a relação é boa: cresce e desenvolve-se confiadamente, sente-se protegido e aceita, até outros relacionamentos. Se, pelo contrário. se sente abandonada e em vez de carinhos lhe caiem em cima ralhos, rispidez, instala-se o medo na criança, passa a «jogar à defesa" torna-se permanentemente desconfiada e será uma criança difícil. Assim, também na amizade. Precisa de clima favorável.
A virtude propicia a amizade quando encontra eco noutro ser, também virtuoso. Segundo Epicure - a amizade é o supremo dos prazeres puros. Quando alguém encontra amigo verdadeiro e fiel, encontra riqueza inestimável (Pr 15. 17; 18-24; SI 133; 2Sm 1.26). Poder-se-á admitir uma amizade sobrenatural de Deus pelos homens e, na recíproca, dos homens por Deus. A Sagrada Escritura no-la revela. Quando Deus envia Seu Filho à Terra, fê-lo em amizade pelos homens. Seu Filho, ao demonstrar essa amizade, tentaria que os homens oferecessem uma amizade, reconhecida, a Deus. Essa seria uma importante aliança. Tanta coisa fica por
dizer da Amizade! …
Cândido Nicola
1996
Vida Ascendente -
07.07.1996
(Publicado no Boletim Informativo da Diocese de Santarém)
ESPIRITUALIDADE
É o espírito humano a reflectir
o Espírito Divino.
É o princípio pelo qual o cristão
vive uma vida digna e superior e
a orienta segundo a força e os
valores desse mesmo espírito.
Cândido Nicola
1996
ESPIRITUALIDADE
É o espírito humano a reflectir
o Espírito Divino.
É o princípio pelo qual o cristão
vive uma vida digna e superior e
a orienta segundo a força e os
valores desse mesmo espírito.
Cândido Nicola
O homem cansado e desiludido de não encontrar respostas aos seus anseios, adversidades e sofrimentos; desesperado por numa luta em busca de uma paz interior que não chega e de pausas serenas e tranquilizantes que se oponham e travem a vida agitada e desgastante que é obrigado a viver, volta-se para outras fontes que lhe ofereçam o que procura e imperiosamente necessita, para que a vida seja, verdadeiramente, uma apetência válida.
Ante a oferta de uma espiritual idade recheada de valores' de superior importância, de bens inestimáveis, de exposições esclarecedoras; de apreciações e entendimentos; de juízos de valor, o homem mergulha fundo, serve com avidez toda a preparação que pode colher e vive, finalmente, livre de pressões obsidiantes.
Encontra, graças ao bom Deus, na espiritualidade, a serena paz que tanto desejava. Mas, para além disso - o que considera uma cura milagrosa - descobre novos caminhos, novos horizontes mais radiosos; novas perspectivas mais aliciantes.
À medida que avança, vê nascer uma luz, a princípio pequena, tremeluzente, mas que cresce e vai aumentando dissipando a escuridão e nos inunda não só de luz como de esperança e confiança, num futuro promissor. Será uma ilusão? ... às vezes me interrogo. Mas logo me belisco e me verifico bem desperto, pés bem assentes.
Sorvo a espiritual idade com a mesma necessidade do ar que respiro. Será isto um milagre, ou a simples resposta que se procurava?
Neste meu pesquisar deparo com o Sr. Bergson (filósofo, francês
- 1859 - 1941) que nos diz da necessidade de oferecer ao mundo moderno «um suplemento de alma» que permita ao homem não ser esmagado por suas próprias produções e encontrar-se a si mesmo, de modo autêntico. E põe em equação e em contraste a impulsividade que o homem sente de recorrer ao «ocultismo», na ânsia de encontrar solução aos seus problemas, fragilidades e frustrações ... O que não o impede de sentir-se cada vez mais confuso e manietado ante a chuva de «magias» que só contribuem para adensar o mistério em vez de o esclarecer.
Na definição de um leigo a Espiritualidade é uma forma superior e
transcendente da inteligência e do pensamento que leva o homem a dar
relevante importância aos valores. espirituais por oposição aos valores
materiais; hedonistas e superficiais.
E claro que, graças a Deus, a espiritualidade não se esgota aqui.
Cândido Nicola
1996
(Vida Ascendente)
(Publicado no Boletim Informativo da Diocese de Santaré)
ESPIRITUALIDADE
É o espírito humano a reflectir
o Espírito Divino.
É o princípio pelo qual o cristão
vive uma vida digna e superior e
a orienta segundo a força e os
valores desse mesmo espírito.
Cândido Nicola
O homem cansado e desiludido de não encontrar respostas aos seus anseios, adversidades e sofrimentos; desesperado por numa luta em busca de uma paz interior que não chega e de pausas serenas e tranquilizantes que se oponham e travem a vida agitada e desgastante que é obrigado a viver, volta-se para outras fontes que lhe ofereçam o que procura e imperiosamente necessita, para que a vida seja, verdadeiramente, uma apetência válida.
Ante a oferta de uma espiritual idade recheada de valores' de superior importância, de bens inestimáveis, de exposições esclarecedoras; de apreciações e entendimentos; de juízos de valor, o homem mergulha fundo, serve com avidez toda a preparação que pode colher e vive, finalmente, livre de pressões obsidiantes.
Encontra, graças ao bom Deus, na espiritualidade, a serena paz que tanto desejava. Mas, para além disso - o que considera uma cura milagrosa - descobre novos caminhos, novos horizontes mais radiosos; novas perspectivas mais aliciantes.
À medida que avança, vê nascer uma luz, a princípio pequena, tremeluzente, mas que cresce e vai aumentando dissipando a escuridão e nos inunda não só de luz como de esperança e confiança, num futuro promissor. Será uma ilusão? ... às vezes me interrogo. Mas logo me belisco e me verifico bem desperto, pés bem assentes.
Sorvo a espiritual idade com a mesma necessidade do ar que respiro. Será isto um milagre, ou a simples resposta que se procurava?
Neste meu pesquisar deparo com o Sr. Bergson (filósofo, francês
- 1859 - 1941) que nos diz da necessidade de oferecer ao mundo moderno «um suplemento de alma» que permita ao homem não ser esmagado por suas próprias produções e encontrar-se a si mesmo, de modo autêntico. E põe em equação e em contraste a impulsividade que o homem sente de recorrer ao «ocultismo», na ânsia de encontrar solução aos seus problemas, fragilidades e frustrações ... O que não o impede de sentir-se cada vez mais confuso e manietado ante a chuva de «magias» que só contribuem para adensar o mistério em vez de o esclarecer.
Na definição de um leigo a Espiritualidade é uma forma superior e
transcendente da inteligência e do pensamento que leva o homem a dar
relevante importância aos valores. espirituais por oposição aos valores
materiais; hedonistas e superficiais.
E claro que, graças a Deus, a espiritualidade não se esgota aqui.
Cândido Nicola
1996