Camila Maccari (autora)
Ninguém pode verdadeiramente se colocar no lugar do outro, mas apenas na sua ideia do que é o lugar do outro e assim acabava, invariavelmente, voltando para o seu próprio lugar.
Ela se recuperaria a tempo de ver tudo que ainda existia em volta dela porque a tristeza era uma coisa muito grande, mas ainda era apenas uma das coisas.
Fingia que tudo acontecia em volta dela e perto dela e em cima e embaixo dela, mas que nada disso a atingia, porque logo tudo terminaria e a ideia era voltar a viver a vida a partir de um momento zero – não a mesma vida, isso ela sabia –, mas uma vida diferente.
O bom era o cheiro da mãe, um cheiro puro conforto e refúgio e não existia lugar mais seguro e confortável no mundo do o que o colo da mãe, com o cheiro doce da mãe, que era um cheiro que acalmava tudo.
Discordava com veemência disso, de o cinza ser a cor da tristeza, ao menos daquela tristeza, porque isso seria nomeável, se fosse cinza, era facilmente possível definir uma cor e uma densidade, e cinza eram todos os dias triste sobre todas as coisas tristes que existiam no mundo para ela.