Camila Custodio
Nem sempre o trevo corresponde à minha sorte, mas não importa: por via torta ou reta palavras dominam. Escrevo, escrevo, escrevo, escrevo!
Seria o amor, tempestade enfurecida que chega desfolhando árvores ou brisa suavemente molhada de orvalho matutino, quase imperceptível?
Não sou orquídea ao vento. Sou rosa carmim e comum. Necessito de jardineiro fiel, que sinta minha "raridade" e beleza no perfume e espinhos.
Amores verão!Verão a chuva cair em pingos grossos. Chuva rápida que lava alma,refresca mas não nutre a terra que se abastece de si própria.
Sinta a minha calma, alma. Coma a aura, espalme a palma, abra a chaga e verás o profundo de mim transbordar em ti. Assim, poderás me julgar.
Sou presente sem embrulho, sem estardalhaço, atrasado, em dia errado, sem laço...
Mas dou-me de presente. Estou presente, não sente?
Quando a sua fúria passar, vou escancarar sua mania de querer me decifrar sem me olhar, que nos afasta milhas e milhas além das que existem.
Aquele momento ficou suspenso no ar...
Etéreo, vital, invisível, especial. Virou lembrança de filme. Virei atriz de cinema mudo. Revirei-me.
E nesse papel, juro, ainda ganho o Oscar.
Beijarei a estatueta e beberei vinho olhando meu triunfo e derrota.
Eu gosto de muros, protegem e dão sombra. Convido o grafiteiro para escrever em cores Alberto Caeiro: "Sou alheio ao espetáculo que vejo..."
Escuridão?
Enxergo tudo claramente. Intuição que ilumina meus sentidos mas se choca com muros e paredes separando o céu do infinito...
As luzes multicoloridas da felicidade estão dentro de nós. É preciso nos bastar, nos devorar, nos amar, nos nutrir de nós mesmos.
Nessa via de mão dupla não sei se dirijo na contra mão, se acelero, se páro e contemplo o horizonte.
Estou rodando em vícios, em círculos.
Ficou o rascunho,o rabisco de seus olhos entre palavras escritas não ditas, censuradas, jamais publicadas. Apenas estas escaparam fugidias.
Seria capaz de conjugar-me? Verbos e verborragias de cansar às vistas, a língua, a poesia, a teoria, o dia a dia...
Intensa. Aguenta?
Se ardo, se atino, se concedo, se falto, se sobro eu não me importo. São os meus dias ensolarados que preenchem todos os espaços e sentidos.
Andei bebendo vinho de mãos dadas com Dionísio. Agora páro e corro para as direções retas e corretas de Apolo. Racionalidade é tudo!
Quanto mais tempo eu observo a vida, mais tenho a certeza que a felicidade está nos pequenos goles da bebida chamada sonho.
Embriago-me!
Desculpe, fui-me. De tão pouca gula, de tão inexistente ronco como sinais de fome convenci-me que não sou uma pílula para abrir apetite...
Se venho repetindo que o instante é o bem mais precioso, é coerente e justo que eu o viva intensamente e despretenciosamente...
Da poesia ao desbaratinamento.
Jogo tudo para o ar? Rodopio em redemoinhos estonteantes de sons, magia, melodias, bobeira...