CaiodeAmorim

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Há muito tempo eu não encaro o vazio de uma página em branco, Tanto tempo quanto o que eu não paro para analisar o que eu desejo pôr na mesma. Isso, porque tento me esquivar das obrigações impostas por meus sentidos, sentindo aquela ignorância mundana e pensamento oco de o que vale é somente deixar tudo de lado.

E não posso, ou pelo menos não consigo desta vez.

Me deixar levar por uma respiração pesada desencadeada por um material tão insignificante quanto um cigarro é me permitir remediar feridas com o que me parece fácil, prático, suficiente. E não é, não é o que eu preciso. Não quero calar o meu corpo e muito menos a minha boca, não com a fumaça da minha derrota envergonhada, desistindo de mim mesmo, de me ouvir, de me permitir falar.

Eu sinto um grito em cada barulho à fora, conversa fiada de outros, e troca de mensagens mudas entre mim e o nada pairado sobre a janela nua do meu quarto em silêncio, um grito do meu corpo querendo atravessar meus dentes e satisfazer o meu corpo com a paz do falado. Eu quero dizer "basta" para o que me enfurece e achar soluções pra o que me desanima, eu quero falar do meu dia enlouquecedor e de como eu quase me perdi em falsos "obrigados" e "eu entendo", eu quero falar sobre nós e como eu estou
me perdendo em cada dose engolida à seco de orgulho e medo de perder o meu amor. Eu não quero me perder assim,
perdendo primeiro as palavras e logo em seguida os gestos, os modos, e então a minha cabeça. Eu quero deixar livre e solta a minha vontade de conversar, dizer, gritar, implorar.

Então aqui eu me deixo livre para escolher que caminho seguir: Aceitar aquele convite para falar o que for preciso, ou abrir outra página em branco?

Ele afunda em silêncio, consumido por "ais" e "uis" e "por quês". Poderia se juntar à cerâmica fria, se imaginar em um isolamento perfeito, imerso em lágrimas, longe de todos os elementos que fervorecem o ambiente, gritam, gemem, o fazem querer escapar. Por fim, torna-se uma concha, que um dia já foi forte e neste momento tenta provar mais uma vez sua força, tentando continuar selada, protegendo-se, envolvendo em nácar tudo aquilo que a ameaça. Ao fim, obtém sua pérola e a segura com sua mão trêmula, protegendo-a, apertando-a contra seu peito.
Sua pérola, nada mais do que uma coleção de má lembranças que justo agora não deveria abrilhantar, uma aglomeração de invasões de espaço; vinda de tempo, de outros, de sua própria protetora.

Ele sente, se amedronta, aloca possíveis acontecimentos porvir. Teme que possam cutucá-lo, abri-lo, simplesmente afim de explorá-lo.

Sem contra-ponto ele retorna, não seguro de si, não seguro dos outros, mas seguro de que agora sua rígida pele irá protege-lo como um forte manto, sua capa cristalizada em cálcio, seu próprio escudo, parte de sua idealização.

Ele só quer ser lembrado por sua forma, seus traços, sua força. Como uma concha ele enfeita o ambiente, traz consigo sua beleza, seus segredos.

Tudo deve permanecer assim