Caio Sóh

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Há quem decore a vida na ponta da língua, outros rabiscam o próximo passo na ponta do acaso.
Aqui, nessa estação, onde um outono instrumental inspira a queda das palavras, minha força escorre poemas pelo cedro desse palco, assim como meus pés cravam a fidelidade aos sonhos desses guris atrevidos que aqui brotarão virtuosos, aguerridos com seus estilingues de cordas vocais de nylon e de aço, apedrejando a covardia dos homens secretos a si.
Fábula em partituras da Gata de Botas! Maria e seus Joões cantam o caminho de volta para o íntimo, hasteiam leves uma bandeira toda bordada de mocidade, doces rendas melódicas, ponto a ponto terras descobertas, a cada acorde um ensaio para acordar um moço jeito de existir. Sem a intenção de trocar de mundo, apenas unir quem não coube em sua acidez.
Inventemos aqui, nesse solo fértil, veraneio da arte, palco do palhaço “ Randevu”, um baile de amigos em pleno velório do falecido monstro que cobria o horizonte de quem ama o que se pode ser. Aqui jazz uma solidão ignorante. Naufragam agora todas as farsas escritas pelo cão. Dionísio, arauto de tudo que se une fantasticamente, abre alas desse concerto para os desconcertados se banharem. A partir de hoje uma nau de solidão navegará aliviada dos apegos impossíveis, e uma nova geração desvendará a ilha daqueles que sonham antes de dormir.
Notas serão como uma leve pluma, lançadas ao vento com destino certo: afago no espírito, cócegas na alma, mimo na paz, inibir agonias, afrouxar todo o receio de ser devaneador. Na Rua do Acalanto, primeiro peito franco à direita, casa de janelas sempre abertas e dispostas ao novo, jardim de lindas rosas de espinhos prósperos, varanda ao infinito, mansão cor de legítimo coração, em frente ao público dessa nossa solidão. Ali a pena dançará e nenhuma câimbra na felicidade, nem faíscas de isolamento nos fará desistir de estarmos “todos juntos”.

Amo-te em todos os seus detalhes
Teu gosto ocupa um espaço em mim que nunca soube existir
Minhas esquinas, meus cantos, minhas vagas, minhas varias faces, meu cais que antes era a solidão... Não existe mais distancia entre o que sou e o que sinto
Qualquer vulto de felicidade tem agora os traços de seu jeito certeiro
E assim, fatalmente amo-te em todo o meu futuro pois serei sempre a conseqüência da perfeição de sua aparência na minha presença
Difícil existir sem a frequência do seu quadril trombando com o meu.
Mesmo que a ausência hoje seja sangue do nosso sangue dormirei grande por saber que a distancia de nossos corpos tem companhia de nossos toques infinitos
Queria ter a sorte que só você tem de ter você tão perto si durante todos os segundos
Sou como um espelho inseguro diante de ti: vejo você em todo o meu ser mas te tenho apenas no reflexo do que sonho
Nada me molha, mata, esfria, queima mais do que cair em seu desuso
Afogo-me mais nessa falta de uma única gota sua que num gole do oceano de qualquer outra mulher
E agora, nessa brincadeira de mau gosto do destino, minha vida sem tuas linhas na palma das minhas mãos aos poucos acostuma-se a ser menos vida.

Pareço de carne e rosto
Porém, meu desgosto maquia meu tanto
Do pranto sei desaguar pouco a pouco
No louco tento me desatar de tempos em tempos
Enquanto minha marcha tropeça nos fardos
Os poemas me vestem de um trapo denso
Pinto-me de vento, distraio-me de branco
Alento, solto traço, ao ponto de morar no beco
Rego o tempo, como quem distrai a biografia do prazo
Pesco teatro, indico fábulas, enquanto vou morrendo...