Cadu moraes
Não, não é que eu seja feito de mentiras. Sou feito de medos, na verdade. Medo de perder a mim mesmo novamente. Medo de me entregar e perder a minha esperança nas pessoas. Medo de ser eu e não receber recíproca. O tempo, as pessoas ou seja lá o que chamam isso, talvez amadurecimento, tenha me feito ficar um pouco mais arredio, ranzinza, menos romântico e tudo o que tenho a oferecer são as minhas atitudes passionais enquanto me jorram incertezas.
Eu sou como café, podendo ser doce ou amargo, forte ou fraco, pra quem souber me coar e me fazer na medida certa pra si mesmo. Tudo é uma questão de manuseio.
Divido pessoas de duas formas: As que são divisores de águas em nossas vidas e as que são pequenos moinhos ou pequenas fases. As primeiras têm a tendência de participarem da nossa vida por um longo intervalo de tempo, modificarem a nossa rotina, acrescentarem conceitos e depois nos deixarem com a missão de jogar todos os planos, sonhos, vontades, desejos na lixeira. As segundas têm a mania de nos cicatrizarem sem deixarem uma única lembrança memorável, mas nos fazem perceber o quão importante é seguir em frente, tocar a nossa vida sem a ideia fixa de que só tendo um outro é que se pode ser feliz.
Eu posso ser um pouco louco, eu posso ser um tanto disperso, mas só quem conhece o meu coração lá dentro, lá no fundo, sabe o quanto eu valho à pena. Não se julga um coração pelas suas defesas, pelos muros levantados a sua volta, mas pela capacidade que ele tem de ceder para amar novamente. E eu acredito que a minha capacidade de amar é incondicional. Eu sou possível. As pessoas são possíveis. O problema é que as pessoas não lidam bem com dificuldades. As pessoas não querem lutar por nada nem ninguém nem qualquer coisa que possa no final das contas valer mais do que todo o dinheiro do mundo. As pessoas só querem a comodidade, o conforto do travesseiro mais acolchoado, a bebida mais cara, as melhores festas, enquanto um menino que vive lá dentro de você, sedento por amor sofre, calado, sozinho, sem voz, morrendo de medo de ser infeliz. E esse menino é a única pessoa que estará ao seu lado quando todo o dinheiro, esse conforto, essa comodidade não servir de mais nada. Esse menino que se chama Coração é a única chave da felicidade, do pra sempre, das coisas que de tão simples são as mais bonitas. E será que você tem cuidado bem desse garotinho? Será que você tem parado pra pensar que o seu orgulho é só um sentimento e não te faz levar socos na boca do estômago? Será que tudo o que você deixou pra trás não merecia mesmo uma segunda chance?
Tenho de carregar todos os meus erros, porque não nos dizem que é impossível apagar o ontem. Não nos ensinam que é preciso ser coerente antes de terminar um dia e por isso erramos tanto, tanto que a bagagem não cabe na mala. E, por conta disso, algumas vezes, sentimentos tão bonitos ficam pra trás.
Eu não sou nada. Eu nunca fui nada. Eu só sinto. Sinto tanto que não tenho tempo pra outra coisa. Se me perguntarem o que levarei daqui, do que levarei da vida, posso dizer que apenas os meus pensamentos. As minhas tristezas, pra ser mais honesto. As minhas inúmeras mágoas. E, principalmente, o desejo de saber se depois de anos e anos, eu ainda faria alguma falta.
Eu não consigo dormir, eu não consigo fazer sequer outra coisa senão chorar. E pesar o que tenho, quem eu sou, onde estou e concluir que o que fiz até aqui foi tão pouco. Foram só rastros. Foram só farelos jogados pelo caminho. Eu não tenho história, eu não tenho laços, eu não tenho identidade... Eu só tenho a mim mesmo tentando suportar cada dia que passa. A vida sorri, inquieta, me jogando um outro coração tão doente quanto o meu, mas nem isso eu sei valorizar. Eu nunca sei valorizar nada, porque isso também não nos ensinam. Ensinam só o que é obrigação. Nos ensinam só que um dia encontraremos o caminho da felicidade e que tudo passará a ser mais fácil, mas não é verdade. A cada dia que passa a vida pesa mais, ela te empurra pra baixo, as pessoas te empurram pra baixo, o sempre se torna mais uma palavra vazia e a solidão é tudo o que sobra. Eu fico imaginando o quão fácil seria se a solidão fosse física e não um sentimento, porque só assim o pra sempre teria sentido e as pessoas seriam completas.
Mas eu vou continuar tentando e juro por Deus, amanhã eu vou tentar com todas as minhas forças ser alguém melhor pra quem quer ser alguém melhor pra mim. Tem feridas que nunca cicatrizarão, tem vazios que nunca serão supridos, mas tem sentimentos que nos fazem esquecer o quão difícil a vida é. E é por essa pessoa, é por esse sentimento que eu continuo lutando.