Cabral Sousa
[...] por semanas viveram felizes, se encontravam no nascer e morrer do sol. Desfrutando de uma paixão tão intensa, a qual o frio só esfria o que o fogo não consegue aquecer mais.
Para o vento
Sopre vento, sopre suave e cantando,
em melodia extraordinária que cativa nosso prazer.
Teu sopro é tão agradável,
em tua persistência ainda há de me levar.
Desistir para que? Se tentar é tão bom!
O sorriso é suave, é lindo, algo jamais impedido de ser mostrado. É cobrado de nós, desde que nascemos, como requisito básico para a vida.
Esse belo feitio, ainda assim não ensina, não edifica, não muda.
Não, não o sorriso, só as lágrimas.
Como escrever um bom poema?
Bem, estrutura e fonética nunca estão boas por completo. Contente - se em ver suas obras prontas virarem rascunho novamente, pois é assim com os poemas. E é assim com a vida.
Poetas não são manipuladores, nem mesmo se dão bem com seus próprios sentimentos, vivem em um mundo onde tudo é exorbitante e épico, e quando se dá o fim de um amor. Eles têm as palavras, as quais serão o seu consolo, sua arte!
E se no meu dia
Eu fizesse nuvem
Se eu fizesse vento
Se eu fizesse chuva
Se eu fizesse frio
Se eu fizesse escuro
O mais belo pôr do sol
pós temporal
Seria você.
O amargor que sobe ao peito dos apaixonados, em seus amores não correspondidos, é o mais angustiante poema a ser compreendido.
Dona – fia
Eu conheci hoje a avó de um amigo, mulher e pessoa incrível,
mora em uma pequena fazenda, quase nunca vai à cidade,
seu lugar é no campo sendo acordada pelos pássaros.
É Inconfundível com seus óculos grandes já amarelados pelo tempo,
famosos óculos de fundo de garrafa, creio que ela os adquirira antes mesmo
desse nome ter sido atribuído a eles.
Com sua coluna já um pouco torta pelo peso da vida, mulher baixinha, sim!
Em estatura, e imensa em coração.
Conhecê-la foi como se Deus tivesse me permitido ver e tocar no rascunho da humildade, da bondade e da hospitalidade, beleza nobre e peculiar.
Carrega consigo o olhar de um poeta.
É uma verdadeira poetisa, corrijo! Mas seu rascunho é a vida.
E porque é chamada de “Dona – fia”? Bem, porque fora uma moça a vida toda.
Verdade! Que a idade é pretexto da vaidade para querer manter-se sempre jovem. No mundo onde juventude é beleza e virtude já não existe, mal sabem o quanto é belo o sorriso de uma velinha gentil.
Escrever é retirar do papel desabafo, as palavras são a fuga e o abrigo, o grito e o corpo. Não devem ser arremessadas, mas acomodadas, caso contrário não gerariam paz. Pensamentos, devaneios e delírios que seriam facilmente esquecidos, agora são eternizados e viverão mais do que seus autores.
São chamadas de noites incompletas as que não contam com o brilho das estrelas.
O desalento faz do amor forte, e a perseverança o faz completo.
No mar de adversidades, seria certo persistir? Estou certo que sim,
pois quando o lápis toca o papel, única inspiração que me toca é você.
(Para um amor. Ops, uma flor)
Entre inocência e perversidade o ser humano aprisiona a si mesmo. Há tanto medo em libertar palavras que há muito prazo sofrem cativas, receio que o medo nasça do pretexto de cometer algum equívoco, não percebendo que o cometemos exclusivamente quando hesitamos em viver. Privar os sentimentos de serem expressos é amordaçar a alma. Deve preocupar-se em existir de forma plena e incerta. Levar consigo a dádiva de conhecer apenas o passo e não o caminho todo. O que seria a jóia do sonhador, senão o amanhã; a do pecador, senão a paz; a dos seres livres, senão o verde; a dos pássaros, senão a perfeita afinação; a dos poetas, senão um amor que não há de esvair-se; e a minha? Bem, até ontem, serias tu.
[...] e o que me arrasta da fantasia dos sonhos é a perfeição dos teus traços. Sorte minha, pois o sonho em que ela existia foi me dado enquanto eu ainda estava acordado.
[...] portanto sua diversão está em despertar amor em tolos, um dos quais eu sou o pior. Ou melhor dizendo, o melhor – em ser tolo.
Para que não se engane, digo a vós: até o veneno mais mortal, temperado em paciência e astúcia, pode disfarçar sua intenção.