BURLAN, Cristiano (1975 -) et al.
Traição e assassinato são inerentes à natureza humana, os meus fantasmas são meus piores inimigos, assim como aquelas almas que ainda pulsam e rodeiam essa cabeça como abutres...
Depois que tudo isso passar. Depois de todas as paixões, depois de todas as dores, depois de todas as alegrias, de todas as incertezas, de todas as memórias, depois de todas as crueldades, depois de todas as purezas, depois de toda ternura refreada, todos os beijos dados, depois de todos os amantes abandonados, depois de toda solidão sentida, só vai restar as cidades e os ventos que por ela passam.
Sou um homem errante que circula no subterrâneo de uma grande cidade, a vida é contraditória e banal, o mundo está intoxicado de imagens e carente de formas. Eu preciso abolir a diferença entre sensações reais e ilusórias… eu desejo questionar e contestar tudo, inclusive a minha própria existência, todas as monstruosidades violentam os meus gestos, a bandeira se agita na paisagem imunda.
Dentro desta enxurrada de emoções, de ações e reações, eu só queria um pouco de paz e felicidade. Eu sou o poeta da dor, as vísceras do mundo, o amor do avesso, eu fui tudo e não sou nada. Eu tentei compreender e fui incompreendido, as minhas lágrimas reprimidas, tento fazer um esforço de análise sobre o passado, sem véus de encantamento, as frustrações das relações humanas sem piedade, a incomunicabilidade do sofrimento, a solidão na vida e na morte sem anestésicos amortecedores, forçam-nos a olhar as chagas em carne viva, a nossa miséria é impotente para magoar e para doer, num leve espasmo de vida.