Bruno Velásquez Rosa
UM PROFESSOR QUE ENSINOU EM SILÊNCIO
Cão inanimado,
De morta pelúcia
Que ganhava vida
Em meus devaneios.
Abrindo-me as portas
De um mundo encantado
Onde eu era tudo
Que quisesse ser.
Jamais proferiu
Sequer um latido,
Mas aos meus ouvidos
Dizia palavras,
Contava segredos.
Revelava uma alma
Repleta de sonhos
E de sentimentos.
E assim, me ensinou
A enxergar beleza
No que é faz-de-conta,
No que não se vê
Com olhos comuns.
Mas passou-se o tempo
E nossa amizade
Tornou-se tolice
Aos olhos do mundo.
Pois é proibido
Para nós, adultos
Ver a poesia
Do que é mais singelo.
Tive que crescer
E perder as chaves
Desse mundo mágico
Ao qual me levavas.
Mas quero que saibas,
Saudosa pelúcia,
Que nunca me esqueço
Do que me ensinaste.
Mesmo sem dizer
Nenhuma palavra.
Bruno Velásquez Rosa
LEITE DE VIÚVA NEGRA
O mesmo seio que alimenta, esmaga
Por saber quão pequeno é o bebê!
Rangendo os dentes, num deleite sádico,
Sorri, sufoca um choro lancinante!
Com sua teta vil e gigantesca!
Que jorra o fel que é sumo do suposto
Amor que dedicou ao filho de outra.
Na face esfacelada e esfomeada
Do bebê que nunca aprendeu a andar.
Toda vez que ele tenta, rastejando
Desprender-se da teia umbilical,
Mal se move. A matrona predadora
Já sugou sua essência. Só lhe resta
Para não definhar, sorver o fel!
ECLIPSE INSÓLITO
O solo suntuoso do Astro Rei,
Ilustre absolutista.
Num fenômeno, jamais, antes visto,
Sobrepôs-se à lua.
Com seus raios pungentes, sempre em sol maior,
Travessando, entrevando as insolúveis trevas,
Movido por um narcísico intento:
Dissolver e devassar
As ilusões-solo onde persiste
Insólito, insular, insolente,
Bruno, como a bruma:
Branco, sombrio, silente.
Cabendo parcamente em seu vazio,
Que a humanidade quer colonizar,
E acima de tudo,
Pelo mais implacável dos algozes:
O mais argucioso e perigoso:
O que mais conhece seus pontos fracos.
Sim, o sol, por não tê-lo entre seus súditos,
Tirou de toda a humanidade, o sono
E o entregou ao pior dos inimigos:
Seu próprio Reflexo
O Adeus é uma proteção do inconsciente
Nosso Transpirar-certeza, nossas ejaculações, de extensão vocal raquítica, nossos fluidos comprimidos em meros arquétipos nos tornam incapazes de sorver, com todas as suas notas e nuances, e degustar, em toda a sua corpulência, as sinfonias de tormenta, ocultas em um novo
"Olá!"
A plenitude, talvez, nos seja mortal, por isso, há que se dosar a exposição a tamanha beleza.
Bruno Velásquez Rosa