Prestam-se a toda graça,
como a todo granizo,
sempre e em qualquer praça,
a reza, a queixa e o riso.
Não é porque sou grato,
que não grito:
às vezes é fino o trato
e fato o atrito.
Pensando bem,
acho que ser amado por ninguém
é bem melhor
que pouco amado por alguém.
O melhor lugar para estar
é onde estou agora.
O lugar a que pertenço
quando saio lá de fora.
Eu falo do dentro de mim,
que é de onde não posso ir embora.
Não sei dizer se meu verso
é ateu ou à toa,
mas ele segue em paz na turbulência.
Quanto do seu tudo vale o nada de quem nada tem?
Quanto da sua convivência restará da sua conivência?
Seu tempo vale para o dia o que o dia vale para seu tempo?
O que importa para você exporta você para onde?
Conhecer a si significa coexistir no sujeito e no objeto?
O sorriso é o mínimo produto da gratidão.
A reciprocidade é o justo produto da gratidão.
O óbvio despercebido costuma ser relevante.
Reconhecer-se passageiro é dar o primeiro passo consciente rumo à paciência.
Resumo
da existência hoje:
sonhos de hashtag
e emoções de emoji.
Nada faz eco
num coração oco.
Entre as possibilidades, há sempre o impossível.
A acidez
é básica
aos sinceros.
Um poema,
às vezes,
é um movimento
do silêncio.
Contradição:
contato sim,
com tato não.
O devir,
dever do vírus,
há de vir e
hei de ver.
Contradição:
a acidez, sim,
é básica ao não.
Dia cretino, a saber:
este verso de menino
fazendo-me crescer.
Hão
de vir os dias
de versos dos momentos
diversos dos momentos
de vírus-dias.
Nas máscaras, temos
nova contradição:
as nossas mais vestiremos,
as deles mais cairão.