Brunno Leal
Vamos combinar uma coisa: Saudade, agora, só duas vezes ao dia. E com hora marcada. Havendo imprevisto, avise-me com antecedência.
Perfeição é a antítese do amor. Se o teu amor é perfeito, alguma coisa está errada. Ou encenada. Desisti da busca pelo amor estudado e encantado, e me insinuei para as oportunidades que esbarram comigo na esquina, de supetão, tão imperfeitas quanto humanas.
A mulher vive em busca de um homem que a preencha em todos os requisitos. Se um dia o encontrar, não tardará a deixá-lo. Perceberá que o homem que desceu do céu para adorá-la precisaria, antes, ter feito um estágio no inferno. Só por precaução.
Não faço crise por pouco afago. Acometo-me das maiores loucuras em estado sóbrio. Sei dizer que é o momento, reconheço face de quem diz não. Sou enganado por palavras, mas nunca por gestos. Aprendi a ler o rosto e descobrir a conversa expressada, mas só havia o lado avesso. Me fiz marola quando poderia ser maré. Fui lagoa quando restava oceano. Fui casto quando caberia a impureza de uma flecha com mira certa, mas afiada em excesso.
Não peço licença pra entrar na vida de ninguém. Meu plano é ser espalhafatoso, porque quem chega de mansinho é condenado ao esquecimento. Não passo em branco. Sou folha rabiscada. Corro o risco do vexame pra descambar em furor. Não me permito ser mais um. Padeço da simplicidade, e ela me aponta a direção. Mexe com os cabelos, ajeita o vestido. Ela gargalha. A gargalhada da mulher é a oração em voz alta do homem. É a comunhão dos poros. O momento que ela fraqueja, derrete-se e se abre por dentro. A mulher quando gargalha, escancara o homem. Faz parte do espetáculo.
Você surgiu sem que eu fizesse qualquer esforço, e tudo que vem fácil também vai embora fácil. Sei não...
Dotados de coragem aqueles que se atiram como Rambo em suas guerras amorosas. Mas não menos felizes os expectadores do seu próprio amor. Sei que amam quando não dizem nada, ou quando se olham e conversam pela íris. Papo de horas travestido em piscar de olhos. Apenas aguardam o inevitável, e o que se considera desleixo e covardia, reflete em amor vivido em toda sua intensidade, e apenas aos olhos de quem realmente interessa.
Sem explicação, sem que percebamos, desatamos nossos laços afetivos, e o transformamos em nós. Nós cegos. Nós dois cegos, um do outro.
Não cultivo um amor amarrotado, descosturado, rasgado. Um desleixo despercebido e natural no amor pode significar que fora aproveitado até as últimas consequências. Todo daquele amor fora logrado, e por vezes se rompe, rasga, nos avisando que chegara ao fim. Não é motivo de lamento, e sim de entregar-se às oportunidades futuras.
Há um romântico em cada esquina, ao seu modo, independente de um estereótipo de profissão ou vocação. Romantismo não é aparência. Não tem definição. Quebre os protocolos e defina você mesma o seu romântico, incluindo o que é considerado defeito. Porque defeito pra uma é romantismo pra outra.
Eu via toda a sua dúvida de mulher insegura, como se você fosse a única que não soubesse do amanhã, como se o medo não fizesse parte de nós.