Bruna Vieira (Depois dos Quinze)

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A gente tinha tudo pra dar certo, e mesmo todo mundo jurando que não,
a gente dava. Você e seus jogos bobos, eu e minha mania de
perseguição. Nós éramos daquele tipo de casal que briga em toda
festa, mas depois de alguns cacos de vidro no chão e alguma gritaria,
nos desculpávamos e terminávamos a noite sozinhos, abraçados, e
dizendo besteiras no ouvido. Disso, ninguém sabia.
No último verão você resolveu quebrar todas as nossas promessas. Se
desfez do meu amor, e antes mesmo que o meu coração pudesse suportar,
foi atrás de novas aventuras. Você me conhece. Eu nunca desisto
fácil. Liguei. Gritei. Me humilhei. Perdi meus dois amores em menos de
uma semana. O próprio, e você. Será que você não percebe que em um
dos momentos mais difíceis da minha vida, você disse que já não
queria fazer parte dela? Guardei todo o amor que sentia por você, e o transformei em força. Mudei a cor cabelo. Deixei minhas unhas crescer. Liguei para minhas melhores amigas. Bebi um pouco demais no final de semana, e quer saber? Foi divertido não ter que me preocupar com você.
Achei o número daquele cara que sempre sorria pra mim na fila do
banco - não que você não saiba, mas nós temos saído. E eu estou
bem. Não como antes, e talvez nem como amanhã, mas eu estou bem.
Tenho recaídas, ainda dói quando vejo ou escuto algo sobre você.
Mas sei que isso é absolutamente normal: O dor de amor que mais dura
é aquela que nunca existiu. Ao quebrar nossas promessas, você me fez quebrar todas as que eu tinha feito para mim mesma antes de te conhecer. E agora você quer colocar limites na minha vida. Saia, agora, por favor. Isso não é mais uma das minhas perseguições. Eu estou apenas aprendendo a voar sem as asas que você me tirou. No verão, quando disse que queria finalmente “viver a vida”, apaguei de mim tudo que vivemos. Então agora, quero que você saiba o quanto dói ser só mais uma possibilidade. Se quer um conselho de ex e amiga, da próxima vez, não pegue o trem apenas porque ele se move. Tenha certeza de onde quer chegar antes de partir, meu amor.

É ISSO :

Então crescemos e aquele nosso amor platônico se transforma no cara mais babaca que já conhecemos. A época de colégio acaba e finalmente a hierarquia dos grupinhos populares vai por água abaixo. Malhação vira mais um programa chato da Globo. Nosso animal de estimação começa a não ter mais tanta disposição. Então nossas melhores amigas já não são tão melhores assim. Mudamos de gosto musical. Percebemos que as primas que eram bebês até pouco tempo já sabem dançar funk. Então amamos um cara. Logo depois aprendemos a lidar com a distância. Então conhecemos outro cara. Logo depois aprendemos a dizer adeus. Então as preocupações do futuro se transformam e deixam de ter a ver com garotos. Temos que decidir o que fazer da vida. Então alguém que amamos muito é arrancado dela. A solidão deixa de ser só uma palavra. Começamos a preferir os livros sem imagens. Então vamos pra faculdade. Então tentamos nos misturar e acabamos esquecendo o que aconteceu na noite passada. Depois de alguns meses paramos de achar graça nas coisas que antes eram incríveis. Terminamos a faculdade e vamos em busca de um bom emprego. Então enfrentamos horas sem dormir e longe de computador. Alguém diz que não somos boas o suficiente. Ligam pra informar que nosso animal de estimação faleceu. Então mudamos de emprego, de cidade, de cabelo, de guarda-roupa, de carro, de melhor amigo, e mais uma vez, mudamos a maneira de ver a vida. Fechamos os olhos e achamos que as coisas estão mais loucas do que nunca. Aí lembramos que já passamos por tudo isso que acabei de contar. Então adormecemos e acordamos sem lembrar de nada. É isso.