Brandon Cardoso
Manto Negro
E me vesti com um manto negro, sombrio e solitário
como a nevoa que cobre um lindo pasto verde oliva.
MISSÃO DE DEUS
Sobrevoei todo o planeta à procura de uma tal felicidade que ouvia falar dos poetas, mas o que vi de lá de cima foram centenas de almas vazias, desprezíveis, assassinas, egoístas, solitárias e infiéis.
Perguntei-me por que havia tanta tristeza naquele lugar.
Assustei-me ao me ver lá embaixo
Sob escombros de ganancia e violência.
Conclui o quão difícil é a missão de Deus.
LÁPIS E A BORRACHA
Escrevo para lembrar o que esqueci e esqueço novamente para escrever o que lembrei.
Assim é a vida uma sucessão de páginas em branco
Cabe a você decidir, ser o lápis que tudo faz lembrar, ou a borracha que tudo se faz esquecer.
PASSADO
O passado é como um sapato velho que ao ser calçado faz calo e machuca, como eu ao lembrar-me de você.
DOR
Quem é você pra me dizer que sou feliz
E a minha dor, que não te mostro?
Também dói aqui no peito
E já não tem esse direito de dizer que estou errado de fingir o que já sou
Já não me escondo no sorriso de manhã
E não me fala que estou certo de querer o que já conquistei
Pois é, já me entreguei demais, não sei mentir.
Meu coração não sabe ainda que essa dor não vai embora.
QUERIA PODER LEMBRAR
Queria poder lembrar das lagrimas da minha mãe ao me vê pela primeira vez fora de sua barriga, lembrar do gosto do leite que derramara de seu peito.
Queria poder lembrar das dezenas de visitas que recebi na primeira semana de vida e dos milhões de beijos que ainda sinto no meu rosto.
Queria poder lembrar do cheiro daquela lancheira azul que levara pra escola.
Queria poder lembrar daquele tombo, do corte, da dor Ah! Como eu queria!. .
Queria mesmo que por um instante poder lembrar da cor daquela bicicleta da roda quebrada que ganhei do meu pai quando fizera 8 anos.
Queria poder lembrar daquela tarde chuvosa em que não fomos a aula.
Queria poder lembrar das cores dos caminhões que contávamos na beira da estrada quando passara férias na casa da vovó Maria.
Queria poder lembrar......
Queria poder lembrar daquela viagem, daquele presente, daquela garota, daquele dia.
Enfim queria poder lembrar.
SE TE CONTO POR ONDE ANDEI
Se te conto por onde andei saberias o motivo da minha tristeza e alegria
Saberias o por que desse meu descontentamento com quem rouba, dessa minha indignação com quem mata.
Se souberes por onde andei, saberias talvez o porquê do meu silêncio repentino em meio a discórdia, desse meu desalinho ao ver uma tragédia. É como um poeta sem inspiração ou um palhaço sem graça, sem rumo.
Saberias o por que da minha preocupação com o incerto
Saberias o por que da minha surpresa com o errado
O por que .....
O CHORO
E o choro pouco a pouco secou com o vento da esperança que chegou cedo demais
Pedindo licença e avisando que a vida é tão efêmera quanto um dia feliz.
FIM
Senti que havia chegado ao fim.
Então disse adeus e fiquei como quem se despede de um abrupto amigo.
FILHO
Escrevi um poema que não lembro mais que dizia no refrão que: “Você deitado no meu peito ainda é o melhor lugar do mundo”, Ele então sorriu e disse: Também te amo Pai.
08 de Junho 1989
Quinta-feira, 1989, era precisamente 18:20 no Hospital Santa Catarina. Santa Catarina que é o nome de uma das 27 unidades federativas do Brasil, mas também é nome da santa que nasceu no ano 288 (Depois de cristo), em Alexandria, hoje Egito. Neste horário exato minha mãe me viu pela primeira vez fora de sua barriga. Fazia frio aquela noite, mas lembro de uma coberta de cor neutra enrolada sobre o seio de minha mãe onde me puseram e fui aquecido e acalmado por ela, procedimento normal para o estabelecimento de vínculo entre mãe e filho e na produção de ocitocina substância que ajuda na produção de leite. Esse foi um dia importante não só pelo meu nascimento. Em 08 de junho de 1989 se comemora o dia do oceanógrafo, dia do citricultor, dia mundial dos Oceanos e dia de São Medardo (Santo francês que dedicou a vida a cuidar de doentes e leprosos). Muitos nasceram naquele ano, precisamente 2581 crianças só no Brasil. Era o 159º dia do ano no calendário gregoriano, faltavam 206 dias para acabar o ano. Era um ano atípico, mas muito importante, pois naquele ano ocorreu um fato histórico como a queda do muro de Berlim, onde Meyer assistiu do lado leste da fronteira e se juntou aos alemães, que dançaram no alto do muro da vergonha. Há quem diga que aquele foi o ano que mudou o mundo. Em 1989 entrou em circulação a unidade monetária brasileira o (Novo Cruzado). E foi também neste ano que foi fundada a cidade de Palmas, capital do Tocantins. O piloto Emerson Fitipaldi acabara de conquistar o titulo da fórmula Indy no grande Prêmio de Nazareth (Pensilvânia). No Brasil ocorriam as primeiras eleições diretas onde Fernando Collor de Melo tornou-se o primeiro presidente eleito por tal forma de voto. Naquele ano também tivemos grandes perdas como a do memorável e inesquecível Raul Seixas, e do Pintor e escultor Salvador Dali. Tanto fato histórico, tantos atos heroicos, tanto para se recordar, mas só consigo lembrar das lágrimas de minha mãe, hora de emoção, hora de Dor, mas em todas elas de FELICIDADE.
Mochila
Minha mochila anda meio pesada
A alça esquerda quebrou devido ao grande peso dos livros e cadernos que levara para escola
Outro dia derrubei tudo no caminho de casa
Muitos riram de mim, um me ajudou, desse último lembro-me muito bem.
Mas eu segurei firme a alça rompida com a mão esquerda e segui de cabeça baixa
Minha mãe reforçou as alças da mochila com costura de linha resistente
Daí pude carregar mais coisas na mochila: um tênis velho que usava no futebol no intervalo das aulas na antiga quadra atrás da escola, alguns sonhos que ficaram para trás, talvez tenham caído no caminho de volta pra casa.
Carreguei muita coisa naquela velha mochila marrom, livros, amigos, cadernos, projetos, desejos, propósitos, despropósitos.
Muros
Os muros da minha memória vez ou outra quebram alguns tijolos.
Deixando à mostra o nostálgico passado me fazendo beber lembranças.
Como o vento azul que nos transpassa sem permissão.
Aquela lancheira azul como era cheirosa.
O bigode daquele professor como era engraçado.
Tudo é tão vago e confuso.
Tolice não saborear o gosto amargo que o passado nos concede.
As pequenas coisas
São as pequenas coisas
São as pequenas coisas que me lembro
Lembro-me como se fosse hoje do barulho do vento batendo na janela do vidro quebrado do meu quarto quando era criança
As grandes coisas são chatas e me dão dor de cabeça
São as pequenas coisas que me interessam
Não lembro Qual é o nome da maior montanha do mundo
Mas lembro dos conselhos do meu avô quando eu era criança
Não me lembro dos nomes de todos os meus amigos do trabalho
Mas lembro-me muito bem daquele que me ajudou a levantar quando eu caí
Eu não me lembro da receita do seu prato preferido
Mas lembro que elogios te faz ficar com vergonha e vermelha
Nada é tão grandioso que não possa ser esquecido nem pequeno demais para não ser lembrado
Como pequenas engrenagens que fazem grandes relógios funcionarem
Pequenas, frágeis, porém insubstituíveis.
A BELEZA ESTÁ
A beleza está no choro da criança ao sai da barriga da mãe
A beleza está nas imperfeições significantes do dia a dia
A beleza está no aperto no coração de um pai ao largar a mão do filho no primeiro dia de aula
A beleza está no silêncio que antecede o choro,
Na lágrima de uma mãe ao achar um filho desaparecido
A beleza está no olhar de um mendigo ao receber o cobertor,
Está no flanelinha ao receber um trocado
A beleza está na completa falta de jeito daquele menino para a dança
A beleza está no primeiro passo, na primeira queda, na primeira lagrima.
A beleza está nas cicatrizes que relembram a infância
A beleza está no vazio que me faz lembrar você.
A beleza está em um pedido de desculpa inesperado
A beleza está no abraço de uma mãe a um filho recém-regresso da guerra
A beleza está na face mais escura da lua pouco antes de amanhecer.
SACO DE TRIGO
Contaminei a todos com meus despropósitos
Como quem carrega um saco de trigo rasgado o fundo. E agora já não há o que se apanhar no chão.
BÚSSOLA
Você vai sempre esta a um passo e meio de tudo que você tanto desejou.
Na dúvida use uma bússola.
FRAGMENTOS
Somos fragmentos de Folhas jogadas ao vento
Buscando nos encontrar na montagem imperfeita de nossas vidas.
Fragmentado, repartido, dividido, porém insubstituível.
O DIA COMEÇA
O dia começa quando eu te vejo
O sol e toda a sua luz, são apenas adereços alegóricos
O sol dos teus olhos é quem derrete um campo de gelo que parecera impenetrável
Mas assim como o Sol você também se põe ao entardecer.
VAIDADE
A vaidade irá findar-se ao corpo que servirá para germinar esse solo que hoje cuspo de vergonha.
NÃO RECLAME
Não reclame do sol que já mede um palmo no horizonte, enquanto muitos ainda dormem.
Não reclame do carteiro que lhe espera ansiosamente para distribuir vislumbres de mentiras confortáveis
Não reclame da televisão que nos desperta com esperanças vãs de um futuro que já passou
Não reclame dos ponteiros dos relógios que parecem adiantar propositalmente as horas dos dia e os dias da semana.
Não reclame...
A vida passou e tudo se foi repentinamente, como as ondas que apagam corações desenhados na areia.
A terra sepulta nossas reclamações ao entardecer.
HOUVE UM TEMPO
Houve um tempo em que não precisávamos andar por aí se escondendo nas sombras
Houve um tempo em que não precisávamos limpar nossas asas da poluição das grandes metrópoles, Houve um tempo onde homens se digladiavam sem escudos ou mísseis.
Houve um tempo em que os campos se revezavam em tons de verde oliva e prata, houve um tempo em que homens se orientavam por estrelas, mas agora as constelações parecem imperceptíveis
Assim como todas as coisas possíveis para mim
Assim como você.
PEDRAS DA ESTRADA
Caminhas sobre túmulos de antepassados como quem desconhece a história.
Espanta-se com a sombria noite e mesmo sabendo que fomos feitos para o sereno, choras gastando as pedras da estrada.
NASCENTE
Nem tudo é límpido e belo como nascente, algo precisa morrer para alimentar os corvos.
Se não nossa dor, o corpo que reveste nossas virtudes.
SÓ POR HOJE
Só por hoje não vou te desejar bom dia.
Já não consigo me esconder no sorriso da manhã, e esse fatídico cabelo branco me evidência para o mundo.
Dispo-me da máscara que me escondia de mim mesmo.