Bia Willcox
Fica então decretado.
Daqui por diante toda a pessoa tem o direito e o dever de fazer todos os dias algo que lhe dê prazer, seja pequeno ou grande. Um chocolate de sobremesa ou um hobby que a deixe feliz. Se preciso for ela está autorizada a trocar de emprego, de ofício, de rotina, de parceiro e de estilo de vida. A partir de hoje todo mundo tá autorizado por lei a tomar coragem, arriscar, ter libido e ser feliz.
Vejo as coisas sob um prisma mais aritmético: o amor é amor e se torna mais amor ainda quando fizer os nossos momentos bons passíveis de repetição. Muita repetição.
Sem medo das palavras, quando amamos, somos interesseiros.
Queremos algo que não conseguimos sozinhos.
Queremos ser mais e melhor.
Penso na minha quase automática rejeição aos clichês em geral e em como caio no poço fundo da incoerência quando se trata de amor.
Amor é clichê universal, mas como não o ser? Como achar soluções pra muita coisa (quase tudo) sem se recorrer ao amor?
Escrever sobre amor será sempre um clichê. E daí?
Privacidade tá difícil. E porque a gente quer. É uma onda e estamos todos dentro dela, com a real sensação de que estamos descendo a onda ou dando um cutback. Quando na realidade, podemos estar nos afogando.
Sentimos saudade da gente mesmo. Sentimos saudade do que sentíamos naquele passado ou de como éramos. O tempo é algo inexorável, incorruptível, inegável: ele chega e te dá a noção perfeita da irreversibilidade, da irrecuperabilidade. Por isso a saudade se torna algo tão ou mais forte do que estarmos apaixonados. Trata-se de querermos a nós mesmos de volta.
Todo mundo quer o bônus da liberdade, ninguém quer perder nada. O efeito Prozac se prolongou além das fronteiras patológicas. Todo mundo quer ser feliz rápido e sempre.
Não há mais espaço pra melancolia, pra perda ou sofrimento. A gente sofre clandestinamente, sem se sentir legitimado a sentir tal dor.
Enfim, liberdade é cara e seu preço não pode ser o mesmo de uma caixa de Prozac. Se para Sartre, somos condenados a ser livres, transformemos essa condenação em algo que faça esse ônus valer o bônus. Ou vice-versa.
Não é fazendo política assistencialista (dando o peixe em vez de ensinar a pescar) que a solução está dada. Dar o peixe não transmite saber. Não é ensinamento. Quem dá o peixe continua detentor da expertise da pescaria.
Queria um desfecho épico para o Brasil como a música que entoei ao ler o texto do Luiz Eduardo Soares: menos desigualdade, menos assistencialismo, menos hipocrisia, mais empatia à dor do outro, menos fome e sede, mais Educação e mais harmonia no final.
Assim como precisamos nomear coisas animadas e inanimadas, incluindo bebês, gatos e cachorros, definir funções e atribuições, e classificar e escalonar afetos, precisamos colocar tags nos relacionamentos - amigos, namorados, relação aberta, fechada, com benefícios ou não.
Atualmente só quero o extraordinário, ardente e, ao mesmo tempo, muito bem definido, principalmente pela sua intensidade. Sim, quero tags em toda e qualquer relação.
Se quiser ferir alguém e ser bastante cruel, seja indiferente. O problema é que, se o outro realmente te afeta de alguma maneira, é difícil torná-lo invisível, ignorando-o com naturalidade e sem esforço. Porque o afeto provoca emoções. Emoções do corpo, mas principalmente da alma.
Não é à toa que o escritor francês Favart disse que "a indiferença é o sono da alma".
Há que se escolher entre a vigília do ódio ou o sono da indiferença. Boa escolha.
A indiferença é perversa, desumana. Dói por ser invisível, indolor e aparentemente inofensiva. Ela anula a possibilidade de relação ou mesmo conexão. Ao contrário do ódio, que cegamente impede relação, mas que, emocionalmente, pode se tornar o elo de ligação entre pessoas e grupos.
Não quero julgar nem classificar pela cor, classe social nem nacionalidade.
Não quero rotular pelo temperamento explosivo e nem pela quantidade de parceiros sexuais.
Não quero separar gente em escaninhos pela marca da roupa que vestem ou o bairro onde moram.
Só tem uma classificação que quero cada vez mais lançar mão:
Gente do bem e gente do mal.
Uma das piores hipocrisias para mim é aquela da fé. Eu vejo gente ir à missa, rezar, comungar e falar em nome de Jesus. Jesus, aquele cara diferenciado e firme, que pregou ações de bondade e ética "seguidas" por tantos, sabe? Pois é, usam o nome dele e agem cinicamente com preconceito e maldade. A torto e a direito.
A traição da alma é mais subjetiva. É aquela que, com contato fisico ou nao, absorve nosso olhar, nossa atenção e nosso pensamento. Pra muitos essa é a mais perigosa.
A hipocrisia é quase fisiológica. É escudo que protege e alivia. É travesseiro macio e confortável.
Prefiro noite sem sono.
Sim, o medo é a vertigem da liberdade. Liberdade pra dentro da cabeça, pois sem vertigem a vida fica em preto e branco. Cor sempre, por favor.
Geralmente, quando as pessoas estão num momento da vida em que querem encontrar alguém e se apaixonar, elas começam a desenhar internamente o que esperam e até inconscientemente buscam o perfil que elas criaram, como na busca do profissional que se encaixa melhor num determinado cargo.
Quando encontram alguém que preenche os requisitos idealizados, elas se apaixonam. Na verdade, se apaixonam por elas mesmas.
É o amor na caixa.
O ódio não é o sucessor da paz e da indiferença. O ódio é o raioX do amor, o seu avesso. (...)Se ódio é efeito colateral do amor, pensemos: as pessoas têm amor a quê? Ideologias, partidos, orgulhos?
E lembrem-se: vocês andam brigando mais por candidatos do que qualquer um deles jamais brigou por nós. A eleição vai passar na marra e a ressaca moral vai incomodar na razão direta dos ódios irracionais.
Desanimar quando não "vem tão fácil" é humano à grande maioria de nós. É difícil ver "o quadro maior", ver à frente do que todo mundo vê.
Pura sorte ou obra divina, o acaso não deixa de ser incrível por ser surpreendente, aleatório, soco no estômago ou bilhete premiado.