Bessa de Carvalho
Se ninguém te quiser… eu quero
Se ninguém mais te quiser, eu quero.
Quero dizer-te que o verdadeiro amor é descomplicado,
Não acusa, nem revolta e sempre está por perto,
É amigo, companheiro e não austero.
Se ninguém mais te quiser, eu quero.
Quero ficar bem quietinho contigo e repensar
Junto, os teus momentos ruins e ser sincero,
Somente o bem vou lhe desejar.
Se ninguém mais te quiser, eu quero.
Quero falar-te com o calor do meu corpo em movimentos,
Repetir muitas vezes o meu abraço, que se eterno,
Aquecerá a todos os teus momentos.
Se ninguém mais te quiser, eu quero.
Quero beijá-la de uma maneira especial
E com muito carinho e esmero,
Dizer-te que para mim é a mulher ideal.
Se ninguém mais te quiser, eu quero.
Quero ser a tua sombra no verão,
O teu aquecer no inverno
E se não for pedir muito, o pulsar do teu coração.
Assim, se um dia ninguém te quiser, eu que quero!
Quero ser dos teus sonhos o luar
E se a tua vida enfim se complicar,
Se ninguém mais te quiser... eu quero.
ESMERALDA
Desce a ladeira da Glória Esmeralda,
Desesperada e maltrapilha,
No seu pescoço guizos e carretilhas
Balançam num enredo desarrumadas.
Pobre criatura nos carnavais,
Descalça, pés sujos e roupas rasgadas,
Nas ruas cata latinhas amassadas
E as vende por alguns míseros reais.
Gasta com fantasias e lantejoulas,
Ao imitar formosa e conhecida rainha,
Que na verdade perdeu tudo que tinha
Na pobre ideia do gosto de quero mais.
Nas calçadas quando se vai a ilusão
Mendiga centavos, escreve a sua história,
Quando muito mal um pão é a sua glória,
Vive escrava da alienação.
Sua mente distorce a realidade,
Vê nos olhos de quem passa a desilusão,
Mal conhece ela a piedade
Quando alguém lhe estende a mão.
Aí a jovem moça esguia
Conhece nas mãos da solidariedade
Algo mais, uma forte amizade,
Um sentimento de renovação.
Sobe a ladeira da Glória Esmeralda,
Entra em seu casebre de madeira,
Na mesa simplória a fruteira,
Guarda o vazio do seu coração.
Pai Velho - Poema
Em pé às margens do rio Negro,
Situado no Alto Solimões,
O velho índio inspira pelos pulmões
O vento que balança seus cabelos negros.
Sem nenhum grisalho para contar história,
Filho vermelho do povo Kokama,
Ergue a lança e a lança em chama
Alcança o aracú em sua trajetória.
O peixe se desespera num entorse bizarro,
Em vão o seu libertar fracassa,
O índio sorrir ao pegar a caça
Que vai para a panela de barro.
Termina o dia longo e calmoso,
Enche o cesto além da conta,
No rodear da fogueira para crianças conta,
A história da caça do aracú teimoso.
Vem o curumim abraçar o venerando
Pai velho contador de histórias,
Ao luar adormece com suas memórias
Junto ao filho o admirando.
Saudade - Poema
Saudade é um sentimento que se inicia a dois,
Tem gente que sente antes quando começa a amar,
Tem gente que quando ama senti depois.
Mas quando não se ama não se pode falar
Sobre a saudade, pra quem não sentiu o beijo da cara-metade
Ou o cheiro da pele daquele amor.
Saudade do enlace afetivo que lembra o desejo
do cuscuz ao leite condensado,
Na porta da igreja aos pés de nosso Senhor.
Saudade das aulas de violão e da dificuldade
De tocar nas cordas meio desajeitado
A sua música preferida.
Saudade de uma vida,
Da forma de se ouvir e falar,
Sentir e dedilhar nas cordas do instrumento a saudade querida.
Se viu a saudade sair pela porta,
Não importa a distância que ela se foi,
Sinta que um dia a mesma retorna,
Trazendo a esperança de volta
E a saudade regressa depois.
Noite de Natal
Nas mãos pequenos panos crochetados,
Levava batendo a cada porta,
Doava os paninhos ensacados,
Para as mães venderem porta-a-porta.
Não dava esmolas, pois sentia que humilhava,
Promovia a todas desventuradas,
Nas mesas, alimentos colocava,
Para a noite de Natal enluarada.
Era exemplo vivo para os seus amores,
De amor e amizade solidária,
No seu corpo as roupas multicores,
No pescoço Jesus em sua medalha.
Ensinava a filha Esperança lealdade,
Demonstrando no amor o ser servil,
Era a mãe e chamava-se Caridade,
Pelas noites natalinas do Brasil.
Sentimentos de Mulher - Poema
Pinta o quadro da vida com tinta de esperança e cores,
Arroja na tela todos os teus desejos,
Revela para si mesma os teus melhores amores,
Mas não desista de contar para quem ouve os teus segredos.
Espanta de ti a tua angustia e os teus medos,
Revela ao teu coração os teus pavores,
Mas não te envergonhe dos teus segredos,
São fruto do convívio com os teus amores.
Sinta-se mulher por um dia ou um instante,
Afasta de ti a cobiça que lhe atrai,
Reconheça-se amada pelo amante,
Que dos teus sonhos afetivos entra e sai.
Liberta-se das algemas do passado,
Nem futuro nem pretérito existem,
O tempo é o presente com o teu amado
E o amado é o presente que te insiste.
Fale com gestos de carinho e atenção,
Revela o ser que és tão especial,
Força na ternura e na superação,
Até o fim da instabilidade emocional.
Seja firme com os teus sentimentos para quem quer
A nobre dama cuja sensível afeição enriquece,
Aquele que afaga esta linda mulher
E no inverno rigoroso lhe aquece.
O Palhaço Perdido
O palhaço desajeitado sobe ao palco
Do teatro meio ensandecido,
Sob a luz do ambiente escurecido,
Ouve a voz feminina de um contralto.
Suas mãos espalmadas sobre o peito,
Expressam a surpresa do olhar,
De ouvir um passáro a cantar,
A beleza e a ternura de um jeito:
Doce, sútil e feminina,
Mas com um leve tom mais grave,
A voz da jovem como um alarde,
Anuncia a simplicidade da menina.
Entra a dançarina ao som suave
Da música que liberta os grilhões,
Aplausos agora vem aos milhões,
Rodopia pelo palco ao som do grave.
O palhaço sorrir tímido e assustado,
Vê a bailarina dos seus sonhos,
Mas o sorriso assim meio tristonho,
Foi por não lhe ter cumprimentado.
Segue a programação da peça,
A voz e a bailarina se apresentam,
Mas o palhaço ainda meio desatento
Não entra no contexto desta.
Finalmente chega o fim e a glória,
Sai a bailarina e a contralto,
Senta o palhaço ali no palco
E começa a contar a sua história.
Um pouco de carinho
Quando o perfume das rosas exalar o teu perfume e o jasmim se dependurar na janela para ver-te passar;
Quando o sol em sua exuberância, retirar fios de raios para cobrir-te de luz;
Quando as águas dos rios se confrontarem com os teus cabelos e tocá-los sensivelmente;
Quando a grama por sob os teus pés resvalar,
Aí, sim, vislumbrarei os teus passos no infinito e seguirei o teu perfume pelas clareiras do universo.