Beeshop Johannes
Existe alguém em mim que quer falar tudo que acha que sente. Quer dizer que faz qualquer coisa pra te ter ao lado todo dia à noite. Esse alguém te quer. Existe alguém que duvida. Duvida do que tu sentes e, justamente por isso, não diz o que sente. Ele não diz, e te faz achar que ele não sente nada por ti. Esse alguém te gosta muito. Existe também alguém que ferve. Alguém que ignora todo o sentimento, pois espera a cada esquina por algo melhor, algo que nunca aparece e que o faz permanecer nessa incessante busca. Esse alguém não vive sem ti.
O pior de fugir de si mesmo é que cedo ou tarde, você se encontra. E quando se encontra, percebe que aquilo que você deveria estar correndo atrás acabou de ser encontrado. Por outro alguém.
E, isso sim, é triste.
Eu jamais pediria desculpas por fazer tudo ao contrário. Se continuamos a dividir a mesma calçada, com a diferença de hoje adotarmos sentidos opostos, é porque eu caminhei rápido o bastante para chegar naquela esquina e perceber que não quero e não preciso atravessar a rua. Já me deixei atropelar por carros imprudentes e caminhões sem freios para hoje saber que, de escoriações e feridas, vou muito bem, obrigado. Portanto, já que é inevitável o nosso cruzar de olhares e caminhos, peço que tenhas a boa vontade de fazê-lo da forma menos chata possível.
O que é mais abstrato do que o amor? Ele não tem forma nem cor, mas é o que me faz parar o coração. A gente busca incessantemente essa sensação de enfartar de amor, de sentí-lo pulsando e estourando nossas veias. Que outra coisa nos leva a isso? O que mais justifica todos os poemas, todas as músicas, toda a angústia e inspiração do mundo? Só ele, o amor. A pintura abstrata que muita gente já não aprecia mais. Em busca de retratos reais, a gente se joga nas cordas do comodismo, esquecendo o verdadeiro motivo de estarmos aqui. E eu sei que você também pensa assim.
Passei a acreditar que a felicidade mora na inexistente fração de tempo em que o passado toca o futuro. Se o passado é distração e o futuro, preocupação, sobra para nós, perseguidores da felicidade, a inexistente ilusão do presente, em que tu és o que tu fazes, e nada nem ninguém mais importa. Isso é felicidade. Agora te concentra e tenta materializar um momento que não acontece jamais. Sorria, pois já é quase dia e tu tens que acordar cedo.
"Existe alguém em mim que quer falar tudo que acha que sente. Quer dizer que faz qualquer coisa pra te ter ao lado todo dia à noite. Esse alguém te quer. Existe alguém que duvida. Duvida do que tu sentes e, justamente por isso, não diz o que sente. Ele não diz, e te faz achar que ele não sente nada por ti. Esse alguém te gosta muito. Existe também alguém que ferve. Alguém que ignora todo o sentimento, pois espera a cada esquina por algo melhor, algo que nunca aparece e que o faz permanecer nessa incessante busca. Esse alguém não vive sem ti."
A espera.
Ela existe, é longa e sempre me foge seu fim quando vejo que estou chegando perto. O território é perigoso e caminha-se em solo feito de olhos invejosos, desviando-se de mãos e braços sedentos por um empurrão que vai te fazer cair. É longe o lugar que quero chegar, e nem só de quilômetros, metros e centímetros é feito esse caminho. Complicado mesmo é suplantar esses muros sem ferir minhas pernas nessas pontas-de-lança. Mas é de cima desses muros que te vejo. E, confesso, tua contentação com teu atual estado de cárcere não condiz com a tua vontade de mudar que me é relatada toda vez que te vejo. É tua incoerência que me faz esperar. Essa espera por um lapso de mudança ou qualquer outra manifestação que me faça crer que minha e tua casas serão, um dia, a mesma.
A gente não se encontrou. A gente se colidiu. Somos um trágico e monumental acidente de trânsito onde tudo faz sentido. Cada barra de aço retorcido que me cutuca por dentro os pulmões quando estou apenas tentando respirar parece ter lá sido colocada por divina providência. O fogo, que encontra uma nova poça de combustível a todo momento, exibe aos transeuntes e curiosos fagulhas de todas as cores, em explosões na forma de cogumelos.
Somos o choque. Somos a tragédia, mas sabemos que sem o outro somos meras ruas vazias. Vazias e paralelas
Você diz que não precisa de ninguém pra ser feliz. Você diz que cansou de acreditar, e de se decepcionar. Você diz, inclusive, que procurar é pros românticos bestas, pros ingênuos e pros alienados. Você se esquece que te foram dados dois braços justamente para que você tenha como carregar o escudo e a espada. Então o que é que você faz com dois escudos? E por quê essa armadura envolve teu corpo, e esse muro envolve tua casa?
Saia para caminhar comigo e sinta o peso dos seus dois escudos. Tente equilibrar-se, lutando contra o forte vento que te quer levar com ele para onde quer que seja. Eu caminhei por tanto tempo com escudos iguais aos teus que, hoje, livre, meus passos são (des)cuidadosamente rápidos. Eu demorei, mas consegui me despir da armadura e me desprover dos escudos. Hoje eu aposto comigo mesmo quantos passos eu consigo dar com os olhos fechados. Isso me instiga. Na verdade, eu adoraria, de olhos fechados, me espatifar contra o teu muro. Já tentei uma vez, sim, aquela vez em que tomei uma rasteira. Mas vou tentar denovo e denovo, até que teu sono seja abruptamente interrompido pelo quebrar de meus ossos. E não vai ser só a sua armadura que eu vou tirar.
É intensa a vida de quem corre na chuva, sem desviar das poças d'água. É imprevisível, a vida de quem caminha sem medo de escorregar, de olhos fixos no horizonte, desatento às pedras no chão.
Os tombos viram cicatrizes e, em seus pontos recém costurados, se pode ler uma porção de coisas. E entre "não faça isso" e "faça aquilo", a gente passa a caminhar por estradas cada vez mais estreitas, quase claustrofóbicas. São tantas as lições que a vida nos dá, que, por vezes, vemos nosso mundo se restringir a minúsculos cubículos cercados por instransponíveis muralhas. Assim a gente pára de caminhar, e passamos a viver em um eterno ciclo repetitivo.
E é quando essa situação se transforma numa chaga insuportável, a gente apalpa as próprias costas e descobre que somos dotados de asas. Lá de cima, a gente pode acompanhar todos os caminhos que deixamos de percorrer, por medo de colecionar novas - e mais doloridas - cicatrizes. Tomados pelo arrependimento, descobrimos que nossa estrada não é de duas mãos.
Posso parecer feito de certezas, quando, na verdade, não passo de um homem cheio de dúvidas. Mas são essas dúvidas que me guiam atrás de respostas. E o que eu digo aqui, eu aprendi durante essas buscas infindáveis. Quantas vezes acabei encontrando uma pergunta ainda mais inquietante, quando tudo o que eu queria era uma resposta curta e certeira. Não há. Nunca houve. Algumas delas o espelho me conta, quanto a outras, me dá somente dicas confusas. E tem também aquelas que são tão complicadas que eu nem sei por onde começar a perguntar. E é por não ter respostas para tudo que eu acabo escrevendo pra mim mesmo essas perguntas. Um dia eu vou saber responder. E vou escrever na minha alma, para que todos leiam por detrás dos meus olhos.
Tem vezes que nos sentimos mal por atitudes que tomamos.
Em outras oportunidades, nos sentimos bem, por decisões que enfrentamos.
Vezes são aqueles em que percebemos que no final, não precisavamos nos sentir tão mal.
Vezes em que enxergamos que o bem, na verdade, não era tão bom.
E em quantas vezes ainda vamos?
Afinal, quais eram os planos?
Se o plano era não esperar.
Desculpe dizer, mas não tenho escolha, tentei tantas vezes seguir você mas cada vez que eu te procuro, eu me perco mais...
Pedi pra você mudar a minha vida mas nunca ouvi você responder. E cada vez que eu te vejo, eu te perco mais... já tentei mudar, te tirar do meu mundo mas não aprendi como esquecer e toda vez que eu me lembro eu me sinto mal...
Tentei me esconder, me livrar da tua vida, mas no fim de tudo eu não sei perder e toda vez que eu te vejo eu mudo o canal...
Quero o que ninguém pode me dar, queria ser alguém melhor.
Eu sei que você não gosta de me ouvir, mas sei que você só o faz pra me agredir. Pra que eu tenha que ir até você e dizer aquelas mesmas coisas pra você sorrir pra mim,
fazendo com que tudo que me cerca seja mais feliz com você. Eu me sinto bem com essas nossas discussões. Pra gente saber que o amor tem tantos espinhos como uma flor. Mas enquanto isso não machucar nossos corações, por mim, tudo bem... Eu estou em paz com tudo isso que você me traz.
Eu sou ator do tipo que improvisa, e minhas perguntas não se encaixariam nas tuas respostas decoradas. O destino é um conceito que inventaram para que a gente pudesse recostar nossos ombros nas cordas da acomodação, quando, na verdade, dispomos de todos os meios que precisamos para suplantar essas cordas e traçar nosso próprio caminho, rumo a lugares jamais visitados, pagando para isso o preço que for. Eu não deixo minha vida se viver por mim, sozinha. E não há piloto-automático que seja capaz de contornar essas curvas tão fechadas que cortam meus caminhos. Fui eu quem as projetou, justamente para serem assim.
Eu saí procurando. Tinha poucas informações sobre o que era. Mas sabia que tinha que encontrar. Não sabia se era pequeno, grande, redondo ou quadrado. Na verdade, não sabia nada. Só sabia que estava por aí, e que chamaria minha atenção quando eu o visse. Não é do tipo de coisa que tu chutas na rua e fica levando lomba abaixo, cuidando pra não atingir nenhum carro estacionado. Tu o enxergas de longe, e corre pra que ninguém o encontre antes de ti. Todo mundo quer. Quase ninguém tem. E quem tem, não mostra (e não me refiro ao brinquedinho). Foi aí que, ao dobrar uma esquina aqui perto de casa, à sombra de um cinamomo, encontro-o, repousando entre folhas e sacos de lixo. Chamou demais a minha atenção. Seria mesmo aquilo que eu estava procurando? Pensava isso porque aquilo me parecia interessante, mas não incitava em mim uma vontade de tê-lo pra sempre. Peguei. Guardei por três meses no meu bolso. E te dei.
Que ar é esse que eu respiro que não é teu também?
Que roupa é essa, que não fui eu quem escolheu?
Que silêncio é esse, que não é cessado pela tua voz?
Que espaço é esse na minha cama, junto com aqueles cobertores emaranhados?
Que sorriso é esse, que, no momento, só posso ver através dessa foto?
Quem sou eu, se não estou com você?
Fiquei tentando decorar o que eu vou dizer quando a gente se encontrar e quando eu ver você, mas as palavras vão faltar e eu vou ficar fingindo que não é nada demais. Eu sei que vou te abraçar e dizer que eu sofri estando em todo lugar mas sem você aqui. Mas não vou poder explicar todo esse tempo longe só me fez te querer mais. Desse lugar a gente pode enxergar a mais distante das estrelas, nesse lugar ninguém jamais vai nos achar. O que eu queria era ficar pra sempre aqui.
O que você vai ser quando crescer? O que é que a gente vai fazer, quando se ver? O que será que acontece pra gente um dia não se querer mais? Eu só queria um pouco de paz. Eu sou o que eu queria ser quando crescer. Eu me enxergo em todo lugar, exceto onde você está. Então escolha, de que lado você vai jogar, pois ao meu lado está sobrando um lugar, ele é teu eu sou teu. O que o mundo vai dizer quando o amor vencer?