Beatriz Cassão
A paz das armas
Se houver um Deus lá em cima
Ele terá que implorar o meu perdão
Por ver crianças sofrendo, crianças
morrendo por um pedaço de pão
Os meus heróis é que morreram
tentando salvar essa geração
Geração de gente hipócrita
que quer paz com armas na mão
Enquanto uns batalham doze horas
de baixo de um sol quente
outros roubam da gente descaradamente
tipo petrolão
Essa gente hipócrita quer construir um país melhor
Mas fixam na frente da tv
anencéfalos políticos querem revolução
Mas cortam fila no mercado
querem muito feriado
pra não ter que trabalhar
Mesma gente hipócrita que quer paz com armas na mão
Juventude
Eu tenho um medo
de me perder na escuridão
de não seguir meus sonhos
e não viajar na contramão
O mundo é um beco sem saída
Você corre pra chegar onde então?
Depois de um tempo nada mais faz sentido
a vida passa a ser só mais um filme de domingo
Então você acorda, abre a janela e vê um sol
Ele brilha muito intenso esperando seu sorriso
Cada passa é um segundo do seu tempo
Cada choro te faz perder um milhão de passos
O sol da manhã que te faz sorrir
faz você voltar no tempo de menino
em que não sabia nem caminhas
A vida se resumi nisso
sorrir, brincar e ser feliz
o resto a gente vê depois...
Somos jovens,
e temos muito tempo
não importa se é vinte ou noventa
Pois a vida e um beco sem saída,
você corre pra chegar onde então?
Quando ter-me. Perdera-me
Eu sinto náuseas só de pensar
que ela eu posso perder
mas que nela eu possa ganhar
o mesmo que ela
podes me proporcionar
Isto soa metaforicamente metafórico
mas a mesma se encontra nessa metáfora
em que você tendo,
você pode perde-la
já sabes quem eu sou?
já sabes o que causo?
já sabes como me possuis?
és tão simples como pensa
pra me possuirdes basta me perder
para me causar, basta não querer ter- me
Sabes quem sou?
Soa tua liberdade, a liberdade que você tem só quando me perdes
Soa a tua liberdade, que te liberta e te prende
Basta ser sábio que saberá como me perder, e me perdendo ..me possuirás
Metamorfose
Crescer é perder as amarras que te prende no chão
Chacoalhar a poeira da alma e voar com toda emoção
è deixar as assas crescerem para explorar todo o mundo
Cada canto, cada alma, cada mar, cada sorriso
è aprender os anseios mais profundos
è esperar a metamorfose acontecer
Se Metade amor fosse... mas acho que a metade não é
Pois crescer não é em pedaços
Crescer é perder as amarras que te prende no chão
Todas ao mesmo tempo, assim não haverá tempos em vão
Que gastaria com medo, na surdina
desamarrando com disciplina
Cada laço bem forte que te prende e nem pede perdão.
A Meta amor é fase
Faze de erros e aprendizado
Meta de experimentar
Amor de ser azarado
e amar alguém que ainda não passou pela metamorfose
Crescer é perder as amarras que te prende de amar a fase da metamorfose
Para ser livre
Se sua mente não for livre
ela certamente mente
para sua própria alma
para sua própria mente
para sua liberdade
para também sua vontade
de viver livremente
Se sua mente não for livre
o mundo a sua volta se torna quadrado
e você esbarra em todas as paredes
tentando fugir amedrontado
mas por ela não ser livre
ela não pensa com vontade
e explode drasticamente numa atomicidade.
Vendo
Por que pessoas nós somos assim?
Vendo tanta fome e vendo também
meus sonhos à prazo.
Vendo pessoas com fome,
fome de amor, de atenção
fome de saber, de querer
fome de ter fome por ambição
Por que pessoas nós somos assim?
Quero um quero-quero
Cantando no meu jardim
Quero o beija-flor, beijando a flor
do meu jasmim
Mas também quero vender a fome
que vendo me deixa assim
qual o prazo do atraso desse mundo sem fim?
pra acabar com a fome e a miséria
e com toda essa pilhéria
Vejo pessoas com fome
alguns só sentem fome de ter um coração
que bata e bombeie sangue
mas que não deixa bambear não
pois, há fome, deu feridas
fome apenas de comida
que se queres em vão
CALA A BOCA!
A boca de quem?
Das crianças que choram por falta de comida?
Das mães que choram por falta de filhos que não conseguiram calar a boca do fumo?
Cala a boca de quem?
De jornalistas que querem passar a verdade mas tem a boca selada por terra?
De jovens que tem a boca calada por uma bala.
CALA A BOCA DE QUEM?
Boca fechada não entra mosquito!
Mas de boca fechada você não é gente.
Como dizia Falcão:
"Paz sem voz não é paz é medo"
Cala a boca de quem?
A boca de fumo?
Boca de bueiro
Boca do medo, injustiça, corrupto?
Eu não me calo só crio calos!
Calos de tanto fugir para não ter a boca calada!
Tchau, disse ela da janela do ônibus, mal sabia que seria a ultima vez por toda a eternidade que aquelas palavras ecoariam. Isso não se daria pelo fim trágico de vidas, mas sim, pelo fim mágico do seu eu interior, a viagem a fez tornar-se outra pessoa, com outras perspectivas e olhares.
Tchau, ela disse da janela do ônibus para seu antigo reflexo, para seu antigo olhar, para sua antiga vida. E as gotas de chuva no vidro, misturaram-se a lagrimas de alegria e saudade, e assim ela adormeceu para nunca mais acordar.
O que tocou você nesse feriado?
Ela acorda com o rosto todo amaçado por estar dormindo há horas, olha pela janela e vê que ainda há sol, pois a claridade a incomoda os olhos e toca a sua pele, a unica coisa que toca sua pele.
Ela vira para o lado, com os pensamentos tristes pois ainda é dia, ela ainda tem que viver mais um longo dia tedioso sem nada para fazer, sem lugar para ir, sem ninguém para conversar. Ela vira triste por ter que sobreviver a mais um feriado ou domingo, esses em que sua rotina, que a mantêm ocupada suficiente para achar que a sua existência faz algum sentido, mas que em datas assim, há uma quebra nessas perspectivas e a unica coisa que ecoa em sua mente é um poema que ela já conhece muito bem " Está sem mulher,
está sem discurso,está sem carinho, já não pode beber,
já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou,
o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?"
E agora? Vai continuar deitada deixando mais um dia da sua vida passar em vão, mais um dia o tédio te mastigar, engolir e jogar você na lama?
Ela acorda, vira o rosto, pensa em fazer alguma coisa, tomar uma iniciativa, sair, resolve pegar uma aguá, sentar na sacada e pensar como tornar aquele resto de dia mais feliz. Mas ela desiste, está fraca de mais para isso, ela sabe que fazer qualquer coisa não vai deixa-la feliz, vai apenas, como uma bolha de sabão cobrir um vazio que se instalou dentro dela, mas assim como todas as outras bolhas de sabão são, ela vai estourar numa fragilidade e baterá nas paredes vazias do seu interior, fazendo um barulho que lhe percorrera por toda a alma e vai lhe expor o tamanho da sua dor e solidão.
Ela volta para a cama, irritada pelo dia não acabar logo, vira o rosto e adormece. Ela já não sonha mais, pois todos os sonhos são de um tempo que ela viveu e não voltará mais, e por mais que tenha sido o melhor momento da sua vida, tudo aquilo que sonhamos e sabemos que não podemos ter e que não é mais real, machuca nosso ser e se torna um lindo pesadelo. E ela vira de lado para a janela, fica feliz que a noite está chegando, e deixa as lagrimas do pesadelo escorrer pelos seus olhos e assim ela adormece novamente, entrando na rotina comum de seus dias, com uma falsa felicidade dentro de si, mas que o corpo sabe que é mentira e expulsa as lagrimas de dor e tristeza tentando amenizar o seus turbilhoes interiores. Ela finge que está tudo bem, ela finge que ficará bem, ela finge que está vivendo. E nessa bagunça toda suas lagrimas vão escorrendo pelo seu rosto e ocupando o lugar do sol, tocam sua pele, a unica coisa que toca.