Beatriz Alvarenga
Um Sentimento
Não tenho nome
Não tenho idade
Não tenho história
Eu sou um sentimento só
Um sentimento que como água,
molha cada parte do meu corpo
Minhas palavras, meus pensamentos
Nada são, além de um sentimento.
Eu sou a pura e completa, a descrição mais certa
de um sentimento que nem eu sei.
É assim que se perde o amor.
E Laura disse:
- É lógico que eu fiquei triste, más não foi nada que eu não pudesse esquecer ou superar. Eu só não queria que você continuasse com a Fernanda, porque isso significaria que o que você havia me dito não era verdade. Mas agora, isso não importa mais. Eu estou namorando, e muito feliz. Saber se você realmente me amava naquela época, hoje, não faz nenhuma diferença.
Na verdade, Laura não tem namorado. A resposta de Marcelo poderia mudar sua vida, dar sentido a tudo, tirar o sentido de tudo, ou o que fosse, mas ela não poderia colocar essa pressão nele, pois corria o risco de não receber um resposta sincera, e caso essa resposta fosse um não, em sua cabecinha, seu namorado imaginário a ajudaria a resgatar sua dignidade.
Marcelo olhou pra cima, suspirou e disse:
- Bom saber... Pois quando eu falei que te amava, eu não estava falando sério... Quer dizer, eu gostava de você, mas não era mais que isso.
Essa foi a maior mentira que Marcelo já havia dito. Nunca havia amado alguém como Laura. E Fernanda, como muitas outras, fora apenas uma tentativa de esquecer Laura. Não houve nenhum outro beijo como o dela, nenhum outro abraço como dela, e em nenhum momento da vida dele, ele sentira-se mais feliz do que quando estava com ela. Mas ouvir da boca da própria, que havia superado, que estava namorando e que era capaz de ser FELIZ com outra pessoa, era algo grande demais para Marcelo, algo que o impediu de dizer a ela a verdade.
- É.. eu já desconfiava – disse Laura, olhou pros lados, e levantou-se rápido. Acenou para Marcelo, deu um thau entre os dentes e foi embora.
Laura não desconfiava. Para ela, Marcelo diria nessa hora, que tudo que ele havia dito era verdade, e que não havia parado de sentir aquilo por um momento sequer, e daí eles se beijariam e seriam felizes para sempre. Mas a vida não é como nos filmes, se lembrou Laura, e se levantou antes que Marcelo pudesse ver sua lagrima.
Sabe, eu li sua mensagem.
A primeira frase, me fez chorar.
As lagrimas caíram e eu continuei lendo.
E eu chorei, muito.
E eu te odiei.
Muito.
E eu te odiei porque te amei.
Talvez amar seja um pouco forte...
Potencialmente amei.
E sabe ?
Porque voce teve que fazer isso ? sinceramente ?
Mas eu já te superei e não tem volta.
Não tem volta...
mesmo que eu quisesse e eu já quis, várias vezes, acredite...
Você matou muito do que havia aqui dentro...
Com duas facadas
E foi sangrando devagarzinho...
e quando já não tinha volta, você tentou.
E ainda doi.
Mas não tem volta.
E quando morrer mesmo
Vai ser quando eu rir de tudo isso.
E eu sinceramente não estou ansiosa pra que isso aconteça,
porque, apesar de ser liberdade,
é uma liberdade feia e cinza,
porque você matou mais do que deveria,
você matou as cores,
e agora minha realidade é menos colorida
e mesmo quando você não for nem sequer mais uma lembrança,
ainda estará aí a falta de cores,
a falta de fantasia,
e a culpa é sua,
não só sua,
suas.
E eu estou aqui. Super feliz.
Mas de verdade ? Não
E não...
e foi você.
Thau. Podemos ser amigos claro,
só que...
não.
Quase no Fim
Faltam 8 minutos.
O relógio da classe está adiantado 15 minutos.
Como quisera eu,
te adiantar e te ver indo,
sem sentir nada.
Você é problema, você me irrita.
Você não deveria ter existido,
ou se sim,
deveria ter ficado no passado.
Onde você ainda era lindo.
Mas foi minha culpa também.
Por que eu sou fraca.
Mas não por muito tempo.
E eu me prometo, essa é a última.
Última vez.
Entorpecer sentimentos
algo dói.
Você precisa de um rémedio.
Mas não está muito certa de qual...
a verdade é que nada importa, e se nada importa,
erros tampouco importam.
e você toma remédios,
que mudam seu estado de espirito.
e de repente não dói mais,
por algum tempo...
mas o amanhã existe.
Ele sempre existe.
A não ser que você morra.
E eu ainda não quero morrer.
Um rosto neutro
Um rosto neutro
Estou tentando
Ainda tentando
Mas até agora nada.
Que sorte a minha,
que ninguem está olhando,
Porque a falta de sucesso,
me incomoda
E reflete
Reflete nesse rosto um pouquinho das mil coisas que estão passando aqui dentro,
como a pontinha de um iceberg,
que está fazendo meu eu inteiro naufragar
Será que alguem pode me salvar?
Será que eu conseguiria pedir ajuda ?
Será que alguém intenderia ?
Será que...
Eu não quero ser triste.
É tudo que eu não quero
Mas se a incerteza é tudo que eu tenho
então como ?
Pensamentos circulares que não formam um circulo perfeito
mas de verdade?
Eu não me importo.
E no final de cada dia eu não me importo
And that's what keeps me going.
Eu não me importo com os desimportantes e na aula de fisica
eu penso a respeito...
a respeito de varias coisas
e eu estou falhando.
E eu não me importo.
E meu rosto tão desimportado
e meu coração tão apertado
e eu vou pro meu quarto e me intedio.
mas não há outro lugar o qual eu poderia estar.
Alguem me tira daqui
Alguem me mostra uma linda realidade
esquece, não importa nada
só me tira daqui por favor agora
Por minutos, horas ou anos
Era você.
Estava ali.
você que não significa absolutamente nada, mas que carregava todo o amor que eu poderia ter.
E eu fui tirando de você,
Amor de pai, mãe, irmã.
Irmã...
Amor que agora eu não tenho e finjo não querer, não necessitar, não requisitar.
Urgentemente. Agora. Sem tardar.
Amor que vicia e te faz dependente.
E meu corpo – ou seria coração – tão desobediente não entende, que eu não posso me acostumar com tanto amor.
Porque depois dói.
E diferente de tantas outras drogas, eu não posso comprar.
Não posso comprar.
Não posso comprar.
Mas eu preciso...
E daqui um tempo, questão de minutos ou horas ou anos,
Eu vou reensinar-me .
Ensinar-me que eu não preciso.
E vou viver sem isso por um tempo... minutos, horas ou anos.
Até que de novo, sem que eu perceba o que está acontecendo , sem que eu saiba os riscos,
Eu vou me deixar levar e extrair tudo o que possa antes que você se vá.
E eu vou querer mais.
E vou me lembrar de cada segundo.
E durante esse tempo,
Vai doer.
Igual doeu hoje, igual doeu ontem, igual doeu há alguns meses, igual doeu há alguns anos.
E eu vou tentar ser forte, criar planos, ensinar-me.
Mas depois eu vou esquecer...
e repetir o mesmo erro de ser feliz alguns segundos e depois ser triste
por minutos, horas ou anos.
O arrependimento da pimenta
que nem era dela.
Ela não se importava de estar ali.
Mas a cozinheira que erroneamente a colocou,
depois tirou,
mas já era tarde.
A sentiu.
Quis entender.
Não conseguiu.
Sentiu o fracasso e quis chorar porque as coisas seriam melhores se a pimenta não estivesse lá.
Dor Oportunista
Saber que a dor,
inevitalvemente,
virá.
E então,
just because,
eu me deixo sonhar, e me deixo.
E desfaço o nó da corda que me segurava.
Quantas vezes já rompi essa corda...
aos pouquinhos,
enquanto você sussurrava no meu ouvido, me dizendo que estava tudo bem,
que eu não ia me machucar.
Mas no final,
sempre igual,
eu sangrava e você não estava lá.
Mas, afinal de contas, foi minha idéia.
É sempre minha idéia.
Só que dessa vez é diferente.
A dor virá, e você não poderá impedi-la.
Não que você o faria...
E dessa vez a dor que você trará nem se compara a outra.
Mais dor, menos dor, dor.
Tudo dor, então, de verdade, não importa.
Desfaço o nó, me deixo sonhar.
Mas não se preocupa,
foi idéia minha,
não vou te culpar.
E de qualquer forma,
você não se preocuparia.
Olho a bagunça do meu quarto.
Me afogo.
Sem respirar,
com água nos meus pulmões,
choro.
Um choro xoxo, sem paixão ou vivacidade.
Raiva.
Uma raiva apática. Como pode?
Pelo menos era pra eu ficar um pouco energizada.
Não é mesmo?
Nem isso.
Apatia.
Entreguismo.
A insatisfação se somatizou,
pois não dei lugar a ela,
não dei lugar,
não dei lugar.
A lágrima escorre, um pouco mais caliente.
O que é ser feliz?
Será que eu me distanciei mesmo tanto de mim?
Aversão.
A tudo e a mim.
É difícil viver com esse sentimento.
A solidão tão profunda definiu minha normalidade,
e não gerava tristeza,
até que gerou.
Ignorância.
Essa palavra é talvez a que carrega mais sofrimento,
pois,
ela é tão grande,
em mim,
e no mundo,
que eu só sei que nada sei;
mas desejava tanto saber.
Respira.
É o que me resta.
Espelhos e projeções que eu engajo sem ver.
Será que eu me conheço assim tão pouco?
Felicidade -
uma lenda não-urbana;
pois a cidade é bruta,
e nos massacra,
ou talvez,
me massacra,
talvez os outros estejam bem.
Respira,
esse ar poluidinho,
pois é o que tem pra hoje.
Melhor ar sujo do que nenhum ar.
Ou água nos pulmões.
Né?