Armando Freitas Filho
Escrevo
só
em último caso
ou como quem alcança
o último carro
como quem
por um triz
por um fio
não fica
no fim da linha
de uma estação sem flores
a ver navios.
Seu rosto
é um pedaço de música
muda
conforme o vento
mas eu o escuto
de longe, sem olvido
mesmo sem ver
e acompanho, de cor
o suspiro deste ah
mor rasgado.
Sem Endereço
Seus olhos não estão mais aqui.
De azul só ficou o céu
sem assinatura.
Não, não há nada, cadáver
neste apartamento cego
de seu olhar
que lembre o outro
onde você correu
desde a menina do princípio
até o precipício da mulher final.
Aqui não há nada, cadáver:
somente sua voz sozinha
e gravada – em off
que faz com que qualquer coisa
das que foram suas
ganhe corpo, sopro, retrato
enquanto escutamos
o repetido ataque de sua voz.
Virginia
Ouse. Ande, ainda dá pé
apesar do corpo empedrado
infiel consigo mesmo
como todos são.
Caminhe para o fundo
e enfrente o arrependimento
pois já é insuportável
continuar assim pisando
no chão firme e frio.
Ouse e alguns dias depois
terá chegado na vazante
na foz sem vozes
livre da corrente – partida.