ARLETE DE ANDRADE
Maré(tempo de mudança)
O tempo vai mudar.
Vai chover meu desespero,
nublar os pesadelos,
e a tempestade vai passar.
A maré baixou as águas, que meus olhos derramaram,
Agora não me afogo mais...
Sei que as ondas vêm e vão,
e nunca são as mesmas,
Porque a água se renova: Eu sou nova.
Eu não sou daqui
Ainda me perco nesta cidade.
Um caminhar descalço que ferem
os pés da alma.
Não me acostumo com esses monstros,
Cheios de gente, iluminados, imponentes!
Sou das montanhas de Minas. Lá ficou
Morando minha infância,depois que vim
Para cá,correndo nos terreiros, subindo
Os manguerais, driblando as carreiras
De café.
Lá ficaram minhas despreocupações,
No colo de minha avó, no banco da cozinha.
Aqui tem gente demais; têm pedras demais...
Corremos demais, buscamos demais, e
Nos perdemos.
Indiferença.
Já cheiram mal,
as palavras mortas
dentro da boca.
Ao enterrá-las no silêncio,
sequer dissemos adeus.