Arlei Nascimento
Cem anos não bastariam
Para traduzir em traços tudo o que vi,
Provar todos os sabores do mundo
Ou me arrepender por tudo o que não fiz
Cem anos não bastariam
Para recuperar o tempo perdido
Reclamar direitos roubados
Nos tornarmos heróis a transformar o mundo por completo
Cem anos não bastariam
Para sentir todas as frutas, todos os pecados...
Reviver todas as minhas primeiras vezes
Para que todas elas me soubessem por inteiro
Cem anos não bastariam
Para eu transformar sete notas em obras
Dar sete voltas ao mundo
Repintar o sete
Cem anos não bastariam
Para reencontrar aqueles que passaram
Reerguer o que canhões derrubaram
Tampouco reaver o sangue derramado
Não, jamais bastariam cem anos,
E ainda que cem anos bastassem, não os desejaria.
A mim só me resta e me basta esta vida.
E estou certo: “É com você que quero gastá-la!”.
Meu bem querer é, por mim, junto a ti
Pétalas tingidas de rubro
Lençóis dos amantes
Coladas a teu perfume, perfumado veludo em tua tez
Sob taças de vinho,
Sobre águas cristalinas,
Quando em ramalhetes cor de sangue
Sinal que me lembrei de você
Adornam teus cabelos, quando tingidas de sol
Formadas de prata enfeitando congás
Ou ornadas de chuva a regalar Iemanjás
Belas mulheres a batizar...
Assinam embaixo das cartas de amor
Dos espinhos, acima, na vida e na dor
Em seu mais alvo tom, pedidos de paz
Na hora do adeus, lenitivo pra dor
À luz do luar, seu perfume de dama
Sempre dispostas à noite emprestar
Com gotas de orvalho ou disfarçadas de seda
Não acredito haver um ser capaz de te mal querer.
