Antonio Miranda Fernandes
O amor é mesmo assim...
O amor é mesmo assim...
Chega sem mandar aviso de chegada
Vem puro, nu, tal criança nascendo,
Ou vem ferido por senda espinhosa
Não bate à porta, entra e se instala.
Surge, anjo azul entoando cânticos;
Da nuvem onde repousava latente
Ansiedade do nosso coração sozinho
Ou andejo triste buscando carinhos.
Faz nosso corpo sempre perfumado
E todo dia ser domingo primaveril
A nossa vaidade mais vaidosa ainda
Sorrimos para o espelho, ele ao lado.
O amor é mesmo assim...
Floresce dum olhar, duma palavra...
Germina dum sorriso ou vem à-toa
Delicado como quem devia vir antes
Jogando-se ou como não querendo nada
O amor é mesmo assim...
Ao chegar traz na bagagem saudade
Ou ele se enraíza para toda a vida,
E saudades serão apenas momentos,
Ou por pouco tempo, e depois parte,
E deixa na gente um estrago danado.
O amor é mesmo assim...
Sábio de amor
deixa o amanhã para o amanhã
não percas o hoje que deve ser ora.
queres saber do futuro? vale sim,
porque será presente, como agora.
abraça apertado o instante em si
como se abraça a pessoa querida
que aportou vindo de muito distante
e o acolhe no mais quente cais em ti
sê sábio de amor nas tuas loucuras
concebe com prazer como o foste tu
deixa-te perder no que tens sido
e encontra-te melhor mais adiante
sê espontâneo e livre como criança
a realidade em tuas mãos amorosas
fará alegre o tempo com a confiança
entre esta e aquela vida (se existir)
há acerto, não sabemos, nem tu nem eu,
qual seja, agora, deixa o amanhã,
não percas o hoje que deve ser ora.