António Lobo Antunes
Nunca falamos muito, acho que nunca falamos nada. E não sinto necessidade de começar agora. O que poderia dizer? Existem séculos e séculos de silêncio entre nós e, debaixo dos séculos do silêncio, ocultas lá no fundo, se calhar esquecidas, se calhar presentes, se calhar apagadas, se calhar vivas e a doerem-me, coisas que prefiro não transformar em palavras, coisas anteriores às palavras...
Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega. Parece-te estranho que a mão chegue, não é, mas chega. Se calhar sou uma pessoa carente. Se calhar nem sequer sou carente, sou só parvo.
Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas cosas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas.
António Lobo Antunes
Há momentos
Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade.
Creio que sou capaz de dizer muitas cosas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar.
Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...)
Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas.
"Não há ninguém que eu odeie, acho que dá muito trabalho odiar. Há é pessoas que me são indiferentes."
Muitas vezes as coisas que nos tocam mais são aquelas que na altura em que estão a acontecer nem nos apercebemos.
Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é. Porque nos permite escrever o livro melhor, como leitor.
Quando se critica, estamos a julgar. Se julgarmos já não compreendemos, porque julgar implica condenar ou absolver.