Antonio Kleber
O BEIJO
Guardo teu beijo, terno beijo, na memória.
No outono cinza, a despedida, último adeus,
como se foras sem deixar-me uma esperança
de reviver o teu carinho e os lábios teus!
Amargurando o teu partir, restou-me o beijo.
Sonho desfeito, nem as folhas esqueceram,
no farfalhar, de relembrá-lo nas canções,
brincando algures junto às brisas outonais!
As estações se sucederam desde então!
Alma constrita, olhar perdido no horizonte,
dei-me ao letargo dos impulsos lascivosos!
Trago a utopia de uma espera que me aturde!
Cedo o destino e a vida; ao tempo, entrego a morte,
mas na esperança de beijar-te uma outra vez!
"Há um tempo em que abdicamos das vaidades,
para eleger a prudência como roteiro de vida.
Nem sempre o verbo recuar traz
conotações de covardia.
O recuo e o silêncio salvam vidas e caracteres.
Infelizes os que não se contêm,
diante da possibilidade de tirar
dividendos morais da dor alheia.
Chegará o dia em que a História
nos convidará a sentar no banco da Verdade.
Então, os arrependimentos serão simples circunstâncias,
diante das decisões inexoráveis".
TEATREALIDADE DOS HOMENS
"Há homens irredutíveis.
Ratificam suas ignomínias,
seus desmandos,
suas falcatruas,
sua incompetência
e o que mais de anômalo
exsurja de suas condutas alienadas.
Agem,
como se praticassem favores institucionais
e atendessem aos regramentos sócio-jurídicos.
Este "ledo engano"
é a teatralidade
a que se permitem
os que usam e abusam
de uma democracia doente
e espezinhada."
A CHAMA DO DESEJO
Quando os mistérios forem desvendados,
caminharemos, ainda, sobre trilhas de segredos,
porque todo amanhã
é repositório de mistérios e surpresas.
O despertar e o sucumbir são circunstâncias bem conhecidas daqueles que sabem sobre a vida e a morte. Só os tolos não distinguem o outono da primavera.
Esperarei, enquanto arder a chama do desejo.
Não me importarei com as intempéries;
elas fazem parte
do tumultuado universo dos sentimentos.”