Annemarie Schwarzenbach
Se por vezes somos felizes sem motivo, nunca poderemos ser infelizes da mesma maneira. E, numa época severa como é a nossa, espera-se que cada um escolha o inimigo certo e um destino à medida das suas forças.
A juventude tenta escapar ilesa, por muito conscienciosa que seja no modo como interpreta a sua fuga, ainda assim traz na testa a marca de Caim, a marca de quem traiu o irmão.
Ah, despertar mais uma vez sem sentir as suas garras, por uma vez não ficar só e entregue ao medo! Sentir a respiração feliz do mundo! Ah, viver mais uma vez!
Durante uma viagem, a face da realidade muda com as montanhas e os rios, com a arquitetura dos edifícios, a disposição dos jardins, a linguagem, a cor da pele. E a realidade de ontem queima na dor da separação; o dia anterior é um episódio finalizado, para nunca mais voltar; o que aconteceu há um mês é um sonho, uma vida passada.