Anne Cléa Lima
ADOCE MINHA ALMA
Ela era tão doce que as abelhas faziam fila
Doce, mas não algo tão doce que repugna...
Um doce gostoso de ter por perto
Para toda hora...
Não tinha características de sobremesa,
Era para qualquer momento...
Principalmente, nas horas em que vinha a dor
Estar perto dela saciava, acalmava.
Era a água com açúcar,
Ou brigadeirão...
Sorvete ou torta?
O doce não importa!
Ela sempre estava ali, tão doce, tão meiga
Tão ela.
Cada um que experimentasse sem culpa suas palavras
Seus gestos e abraços
Beijos e chás gelados.
Criatura assim é tão raro encontrar
Senhora doce vem me adoçar!
REMENDANDO
De pedacinho em pedacinho
Vou cuidando com jeitinho
O que o outro quebrou.
Vou colando com carinho
O coração que se despedaçou.
E se ela outra vez partir
Devo desistir?
Será que consigo tudo costurar?
Não sei, é preciso de novo tentar!
Coso aqui
Colo acolá
Ziguezagueando tudo passo a remendar.
Ainda bem que o coração é um tecido muscular
Por que se fosse de vidro
Que pena, seria tão difícil tudo juntar!
Sou capaz de entender, ou melhor, compreender o que se passa comigo. Aprendi que sou uma criatura em constante mutação. Como posso exigir conhecimento de tudo se não vivenciei tudo? Ou ademais, como posso cobrar uma postura sensata se minha realidade sempre foi linear... por isso aprendemos mais com os problemas, eles geralmente oscilam nossa forma de pensar.
Minha felicidade estranha é permitir que eu abra todas as gaiolas que prendem meu sentir ou meu pensar. Quero que minha felicidade seja a liberdade de ser no momento que se é. Quero ser humano no que eu venha lamentar ou a sorrir. Quero ser estranhamente feliz.
Amar é o sublime sentimento que abre as portas dos nossos calabouços e ajuda a soltar os monstros que aprisionamos ao longo do tempo.
Amar é voar em terra e bailar sem música. É criar a própria canção e caminhar com ou sem luas. É poder sentir o que jamais sentira e degustar sem expectativas o que se descortina com sabor de futuro.
Eu aprendi, te amando, que há várias facetas intituladas de “amor”, mas que apenas uma delas completou meu quebra-cabeça, e como todos sabem, essas peças possuem lados diferentes.
O amor verdadeiro agita com o furor das ondas em tempestade, mas ensina com a mansidão do mar sereno. O verdadeiro amar consiste na rara descoberta de flores no inverno e de sorvete no verão. E no meu outono eu pude entender que você permitia que as folhas cobrissem o chão para ser meu tapete e que na primavera os pássaros assobiavam em homenagem aos amantes.
AO TEMPO
Por que esse tempo reluta em passar quando longe estou
Em presença ele voa
Na ausência retarda
Na memória é eterno
Na realidade é avassalador inimigo
Por que o tempo não congela nas alegrias
Insiste em se demorar nas tristezas
No momento doce é tão curto
No momento amargo é longo por demasia
E assim, nesse combate
O tempo controla
Ou eu o controlo?
Ainda não achei a resposta
Sei que não aprendi a me dar com a sabedoria que dizem que o tempo tem
Só sei que por vezes me acho intrigada dele
Quiçá nos últimos dias eu venha compreendê-lo
Então, me verei sem ele
E a falta dele provocará o fim desse embate
Tempo, és meu profundo problema!
Anne Lima