Angélica Lopes (escritora)
Sempre foi um ato de rebeldia, ainda que invisível.
Aqui, neste pedaço de terra onde pequenos detalhes importam mais do que grandes acontecimentos, onde o chão de barro é tão marcado quanto o rosto de minha Tia Firmina - ambos esculpidos pelo tempo e pelas mágoas -, onde o destino das mulheres é reto e seco, tal qual um avesso imperfeito da única trama guiada exclusivamente pela nossa vontade: a renda. Já que os demais caminhos não nos pertenciam por inteiro.
Me encantava não tanto pela forma, mas pelo nome, que parecia oferecer, ao mesmo tempo, uma ameaça e uma promessa.
Quando damas de boa família demonstram interesse por algo, sempre há quem aproveite a oportunidade para lhes facilitar a vida e tirar o seu quinhão.
Até onde sabíamos, dinheiro era um assunto exclusivo dos homens, que trabalhavam a terra e cuidavam do gado. Fossem patrões, donos das terras ou donos do gado. Fossem homens da lida, capangas ou mascates. Fossem nossos maridos, pais ou irmãos. O dinheiro era sempre deles.