Andressa. S
- Você é frustrada por não ter um amor. Disseram-me.
Não, Minha Querida.
O amor que é frustrado por não me ter. - Respondi.
Ah, as crianças !
Espécie de ancora entre a inocência e a maldade.
Espécie de gente inocente.
Uma espécie em extinção.
Ele pedia mais calma, mais alma.
Eu o driblava com um passo de samba, girando, girando, criando movimentos ululantes. Ele observava sem dizer nada.
E eu o amava, mas precisava sambar.
Precisava amar, precisava voar.
Se eu soubesse de verdade designar, descrever, dimensionar o tamanho dessas incertezas que cabem aqui dentro, de verdade, eu as mataria.
Dói saber que você não tem as armas certas para usar, dói ainda mais não saber que sentimento combater.
A solidão é fria, ela me congela por dentro a cada segundo, mostrando o quanto eu tenho que ser resistente.
A tristeza aparece em seguida, mostrando o quanto eu sou fraca, ela ri de mim, afinal, sabe ela que eu não executo bem as atividades da dona solidão.
Por fim o amor aparece, escondido a porta entre aberta, ele é medroso. Eu sei.
Ele aparece com uma face piedosa, como se tivesse o dever de me libertar desse emaranhado de isolamento.
Como agora e sempre, Finjo que estou bem e ele acredita, e vai embora.
Permaneço confusa, solitária, triste e sem o amor.
VOCÊ VAI LEMBRAR DE MIM,
OU EU NÃO ESQUECEREI DE VOCÊ?
Dúvida internas, ele denominava assim as minhas inquietações. E passado tanto tempo de convalescência, eu já não sabia distinguir o que era dúvida ou certeza.
Desejava realizar uma limpeza terminal em todos os sentimentos, pessoas, lugares, situações, necessitava de memória novas.
Mas, se aventurar ao inesperado é se expor demais, é tornar-se vulnerável a ponto de ser manipulada. Não estava preparada!
Ele não entende, ou tenta deixar as coisas mais difíceis. E consegue!
É uma espécie de forças contrárias, a minha contra a dele, mundos paralelos, vidas opostas, situações distintas e muitos, muitos problemas envoltos. Mas ele não entende!
E fica de birra.
E eu sinto. Mas não consigo me arrastar, suplicá-lo.
Deixo ir.
Ele me deixa ir também.
Nos deixamos de forma insossa.
" Somos iguais, somos, temos os mesmos desejos...
Corpo ardendo um pelo outro.
Sei que você quer mais, eu também QUERO.
Precisamos, MINHA EXTENSÃO."
Deu-se o des(encontro)
E o caminho é esse, Mocinha.
Tem pedras, indivíduos (uns mais humanos que outros), ilusões, desencontros e tem amor. Só que o amor, meu bem, se encontra lá, logo ali no final desse percusso.
Se valer a pena, siga em frente. Caso contrário, enfrente!
Ele sorri deliberadamente malicioso, provocando arrepios e um mistério que jamais ninguém me viu viver.
É tanto mistério que me vejo em contos, não os de fadas, os seus contos. Ele me faz escapar de mim mesma, dos medos, meus medos internos.
ELE ME FAZ ESQUECER do que não é necessário lembrar.
IRREFLETIDA
O sol já nasceu faz tempo, acorde menina!
Olhe aquelas pessoas silenciosas, você consegue visualizá-las, elas não. Vivem de tal modo, que acreditam viver. Enganam-se!
Psiu, repare na moça de casaquinho cinza, sentada só naquele imenso corredor.
O que será que ela acha que é?
Todos os dias ela se apóia ao mesmo lugar, senta-se no canto, sozinha, quase sempre.
Repare na forma como ela olha, ela parece ter medo de tudo, de todos. Parece conviver com medos internos.
Vá até lá, conheça-a.
Os mistérios que ela trás consigo responderia as suas inquietações.
Engraçado é perceber que a moça do canto, só, misteriosa, era eu através do espelho. Estranho é não reconhecer o meu reflexo e ainda assim viver.
E a vida vai tecendo alguns caminhos, emaranhado outros, completando seu ciclo.
A vitalidade as vezes esquecesse de mim, dos meus impulsos, surtos. Eu também esqueço dela, só as vezes, quando a tristeza insiste em permanecer, quando a dor prevalece, sabe?
Pois é, eu também talvez não saiba, só sinta. Sentir é melhor que saber e ser.
Sou de uma maneira e me sinto de outra. É onde entra o decesso sem fim ou pausa.
Ah o amor!
Uma espécie de apego, dependência, cuidado.
Um tipo comum de dois, tipo você e eu, tipo nós.
Ah, o nosso amor!
Que saudade nenhuma conseguiria definir, nem as horas diminuir.
Queria controlar o tempo, queria paralisá-lo a cada abraço seu. Queria muito e um pouco mais de você.
E eu adorava colecionar.
Colecionava sentimentos extintos, amores rasos, indivíduos artificiais.
Colecionava dores, esse era o maior álbum. Colecionava as minhas, as suas, e as que perdiam ao meio do caminho.Colecionei amores, mas, esse é trabalhoso demais. Requer tempo e atenção individualizada, cada figurinha em seu lugar.
E agora está em exposição!
E as distâncias querem...
Me enlouquecer!
Me fazer perder o controle, bater à sua porta na madrugada, com a cara amassada.
Pedindo nada mais do que umas noites bem-amadas.
Saudade é pra quem não tem o que se pensou ter para a eternidade.
SONHO PERDIDO
Era uma noite como todas as outras, essas noites em que o desejo fala mais alto. E pra variar, meu desejo era dele, só dele.
As tentativas eram muitas, mas o desejo prevaleceu.
"Queria levá-la comigo", disse ele.
E minhas forças se dissiparam, queria vê-lo também.
E ele surge na minha porta com seu automóvel que mais parece raios de luz, e me ilumina.
Nos olhamos, e ele brilhou de uma maneira rara dentro de mim.
E me soltou na noite, me deixando conviver com as infinitas possibilidades. Mas o que eu quero está a um passo de mim, está a centímetros de minha boca, do meu corpo. E ele não entende!
A noite soa como despedida, no fundo sabemos que é justamente isso, uma despedida.
E a cada passo, cada ato, eu o observo detalhadamente. Ele retorna a mesa com o cheiro agradável, que, só ele faz o cigarro ter. E a insanidade se externa. Tento me recompor....
Estou faminto! diz ele
E isso chega em mim por inúmeras sinapses, choques elétricos envolvem meu corpo.
Nos vamos embora e ele estaciona para matar a fome. (Ah, não era eu o alimento)
Nos comemos, a nossa maneira, dentro das nossas possibilidades e impossibilidades.
E eu me despeço, não como das outras vezes, ratifico que é a nossa última vez.
E ele intervém com instrumentos envolventes. E numa tentativa insana ele tenta me perfumar com o seu perfume, não dessa vez. Não queria ter do que me lembrar, como nas noites anteriores.
Gotículas rolam. E eu sinceramente não entendo o motivo dessa tempestade interna querer se externa.
É a última vez!
Até que....
Adeus, Meu Precipício!
Me despeço com saudades de nossas quedas livres, de todos os risos que nos oferecemos um ao outro, das irritações. Me despeço com saudades da menina que eu era quando o menino que ele não mostrava ser, estava comigo.
Saudade é não ter e mesmo assim querer saber.
É ele!
(E a trilogia dos tons termina aqui.)
FACES DE NÓS
E eu mentia descaradamente. As vezes era para você, mas na maioria das vezes para eu mesma.
Mentia, dizendo ser aquilo que você reprojetou de mim em sua memória, memória essa de curto prazo.
Minto agora, dizendo tantas coisas das quais tento me certificar se é mentira mesmo, ou senão um jogo maquiavélico programado pela alma inescrupulosa que habita em mim.
- Ana?
Pxii, não posso continuar com a nossa conversa, alguém está a me chamar. É hora de se vestir da máscara número....
Anh, ann, nn. Deixa eu me certificar de quem é.
Até mais, nos encontramos qualquer dia desses em outro número, realizado por mim, ou talvez por você.
Já estou indo, Precipício!
(É ele, o número mais importante da minha vida, ou não.)
Não era a frase, nem a crase, era o modo de persuadir, de falar, encantar, vislumbrar, dedicar, compartilhar. E todas essas coisas que nos faz perder o ar, o respir(ar).
Um, dois, três...
Era assim todas as noites antes de dormir.
Pedia paciência, serenidade, cautela,
Pedia você, baixinho.
Pedia várias vezes.
Na infinidade de possibilidades numéricas, você apareceu. O número mais incógnito de toda matemática viva.
Minha razão, equação, meu positivo multiplicado, Meu infinito ao quadrado. Meu número real.
SUS(PIRAR)
Reflexo da sua mecânica corpórea passeando em mim.
Criado para despertar alucinações, loucuras, calafrios e muito desejo.
Sus(Piro) !
MEU MOTIVO
E você sorri, assim, de um jeito despretensioso. E eu me pergunto como esse sorriso é capaz de despertar tanto esse meu lado desajeitado, triste, solitário, que só se acende quando você aparece.
É bom se encontrar no motivo do sorriso do outro, é bom!
ISENTO
Você me mantém interligada em todas as suas conexões de loucura.
E eu me pergunto até que ponto eu sou capaz de entrar nessa loucura com você, segurar sua mão, seu cigarro também. Até que ponto você vive nessa loucura cotidiana e eu te encubro, te protejo, te faço acreditar em mim.
Até que ponto!
Eu fujo todas as vezes. E na tentativa frustrada, eu sempre acabo em seus braços, em suas mãos, em seus lábios...Eu sempre acabo!
Acabo comigo e com todas as possibilidades de resistência. Acabo com os sentimentos das pessoas, porque toda vez que me remeto a você eu acabo esquecendo que deixei de fugir para a pessoa certa, ou pelo menos a pessoa que me acerta.
E você se afasta ( parecendo ler meus pensamentos), eu acho graça de mim, de você, dessa situação, Sou a PALHAÇA!
As distâncias tem lá sua vantagens. Melhor eu aproveitar!
Misturar bebidas assim como pessoas dá uma ressaca danada, espero que entenda!
Espero que eu entenda.
Que apesar de ser gostoso, prazeroso, excitante, perigoso e todos esses nomes que expressaria tudo que é danoso e letal, que apesar de tudo, a gente cansa.
Cansa de ser quem finge ser, só para ganhar umas noites gostosa de prazer.
Cansa de curar a ferida do outro e minar a sua.
Desiste de pular da pedra mais alta, deixa de voar só para vê-lo pequeno, dependente do seu cuidado superior.
Deixa de priorizar a felicidade alheia e passa a se concentrar na alegria ofertada quase goela a baixo por quem nos deseja, nos quer muito bem.
Deixa de viver um amor platônico, burro e existente só em sua cabeça
Deixa, sobretudo, de ser menina inocente, descabida, desmedida. Descobre o sentido de ser de alguém e a tolice de ser para alguém.
Entende que a vida tem mesmo dessas coisas tolas, e quão boa elas são. Pois o crescimento em si depende de tudo isso.
E cresce!
MADRUGADA VIVA
Um copo da bebida de colarinho branco, você e sua nicotina distribuída, o vento, a noite, as pessoas, o avesso de pessoas, o som, o mover das árvores, indicação de vida na madrugada adentro.
Troca de conversas, olhares, sentimentos, carícias, troca de alma.
Me vejo exatamente vivenciando tudo outra vez, vivenciando a sua cara de avesso ao ambiente, seu desejo de liberdade tão aparente, como uma águia em vôo rasante no céu.
As olheiras marcantes de noites mal dormidas e bem bebidas, ou comidas. As mãos macias e oxigenadas a percorrer em toda extensão da minha perna, a fim de promover a troca de calor.
Ameaças de invasão em banheiro público, quando o instinto do cinqüenta tons fala mais alto.
A maneira, a doce maneira de tragar toda a fumaça do cigarro, ou a advinda de mim e depois soltar, formando nuvens, algodão doce, sombras, vestígio, pegadas, me formando ou tornando-me uma passiva ativa ou vice e versa.
A linda vista, a vista mais linda e instigante, despertadora de todas as emoções e desejos possíveis, o perfume sedutor, o natural e o artificial ao fim da trama, corpos predisponentes as armadilha da sedução.
O cheiro de bebida, embebida com a fumaça do cigarro, a despedida, e a certeza de não passar de uma farsa, teatro enriquecido, encenação eloquente. Bem vindo ao espetáculo da madrugada!