Andressa Rodrigues
Antes ser motivo de escárnio e chamada de triste, mas ter profundidade
Do que ser vazia e achar que isso é felicidade.
Ah, fosse-vos possível entender que minha ilusão é fazer diferença! Entre as minhas quimeras há a dura realidade de passar e não ser vista...
Mas agora, quando te olho, de soslaio, a corda que amarra minhas mãos desprende-se aos poucos – faz-se corda de banjo, tocando sempre uma música que acalma. E, assim, minhas frases embalam teus gestos, tuas formas, teu beijo. E, assim, toda noite, antes de dirigir-me ao meu leito, olho teu retrato... e custo a acreditar que o que vivo é real. Não fosse sempre tua boca na minha, teus braços envolto ao meu corpo, e teus olhos – tão lindos! – iluminando meu caminho, cogitaria a idéia de estar em um sonho infindo.
E, sorrateiramente, teus olhos iluminaram meus dias. Vi neles a liberdade de poder voar sem asas, a segurança de planar sobre o verde oceano enquanto ainda há tempestades se formando. Ah, e teus lábios... encontrei neles o gosto doce das frutas que amadurecem no outono. Deixa-me tocá-los mais uma vez, amor! Deixa-me sentir teu beijo - essa chuva morna em uma noite de inverno
É perigoso viver às custas do relógio. Acreditaria se eu dissesse que o mandei ontem para o conserto?
Pois é... péssimo técnico! Os ponteiros continuam andando devagar...
A Igreja tornou a todos pecadores. Mas já não nos bastava carregar tantos sofrimentos e angústias durante a vida? Ainda temos que suportar o peso da culpa e pedir perdão a algo que nem sequer realmente conhecemos (...) 'Quem mais sofrer durante a vida, melhor será recompensado após a morte'! É isso que engolimos sem pestanejar... É isso que os fervorosos seguem à risca, vedados pela vontade de, pelo menos que seja após a morte, serem felizes.
E eu fiquei a navegar, com meu barco invisível, pelas ondas da dúvida que se formavam a cada instante...
Eu vivia na minha estúpida decepção.
A poesia era um leigo monólogo que amarelecia na estante.
As nuvens passavam e levavam consigo o brilho dos meus olhos.
Toda canção de amor fazia de mim um estraçalhar de sonhos...
Meu inquebrantável subterfúgio era a tristeza.
Até que um dia viestes ver-me.
Ao longe percebi teu reflexo no vidro – “Altivo!”.
E então, com um só toque, mudaste todo o crepúsculo!
Com estas tuas mãos macias,
Com teu olhar de quem se perde no canto dos pássaros,
Com este teu perfume de madrugada
E teus cabelos que dançavam ao vento...
Fizeste acordar meu coração latente!
E agora sou toda as pétalas das flores,
Respiro o inócuo aroma da vida que rejuvenesce...
Sou eu novamente...
Eu, com esta visão além e aquém do horizonte,
Que aspira quase às mesmas quimeras irreais
– só que agora teu nome está em todas elas!
Agora sou eu... e sou você.
Que descaso! Ter-te e te não ter!
Não haver Sol que ilumine o cinza dos meus olhos
Nem néctar de vida a se beber
Começa a nascer em mim uma leveza que já me era estranha. Nos pólos do meu coração sinto as alvas espumas do mar baterem e voltarem... baterem e voltarem...
Eu sinto que o que há ao meu redor é falso. Há almas cobertas de engelho, sentimentos ilusórios, sorrisos irreais. Há em toda parte alguém que precisa mostrar-se feliz e são. Mas que se afunda nas próprias quimeras.
E eu ainda escrevo sobre o que nem sei dizer.
Uma saudade nem sei de quê.
Uma angústia que ressurge sei lá onde,
Nem porquê
A alma é como a nuvem. Eloqüente, leve, translúcida. Nossos olhos inexperientes fazem-nos acreditar que vemos nela várias formas, mas sabemos que ela é sempre igual: sempre o mesmo amontoado de incertezas, que flutua céu afora transportado pelo sopro do vento.
Às vezes não precisamos que nos façam parar de chorar. Interromper o fluxo da chuva só fará com que as nuvens mantenham-se cada vez mais carregadas. E, conseguinte, o temporal virá tão forte, que arrastará o que houver em sua frente. É preciso que choremos logo.