Andréia Medeiros
Guarde seu lixo na bolsa
Nunca na sua mente
Defenda o luxo da gentileza
Jamais o lixo da indelicadeza.
Nem todo ser sensível é sensitivo
Mas todo ser sensitivo é sensível
Ambos tem suas limitações, qualidades e defeitos.
Há quem sofra por ser sensível
Há quem sofra por ser sensitivo
Se eu pudesse escolher
Nenhum dos dois eu seria
Ou aceito essa condição
Ou não transito no inconsciente alheio
Ou fico inerte fingindo nada saber
Ou leio aquela palavra omitida,
Aquele olhar desprezivo
Aquela atitude hipócrita
Aquele sentimento de narciso
Ou...
Ninguém entenderá a minha capacidade de perceber detalhes, pensamentos e silêncios atribuídos a mim, sim, sem modéstias...
Eu vejo muito além das aparências, contraditória ou não...
Posso aparentar cegueira, mas não só enxergo, sinto tudo aquilo que passa despercebido no meio da multidão, sem nenhum esforço.
E não me culpo se o intuito se transforma em infortúnio fortuito.
É apenas uma condição do ser, do eu...
Há quem não se importe com o silêncio da multidão e, muito menos, com o barulho dos solitários. Difícil é saber se é por serem vãs ou sãs.
Não é por excesso de sal que o suor é salgado. É por excesso de esforço. Valorize o tempero do seu prato.
Antes de observar a linha de chegada de alguém, calcule cada um dos seus passos e encalços até alcançá-la. Assim, será fácil compreender que essa vitória é, tão somente, o resultado merecido de um esforço de quem teve coragem de lutar e não desistiu diante dos obstáculos.
É fácil saber se a vitória conquistada por alguém é digna e justa. É só pensar no trajeto que esse alguém teve de percorrer até conquistar sua vitória.Pensar nos obstáculos, nas inúmeras vezes que teve que se reerguer após as quedas e se perguntar: E eu, teria coragem de enfrentar tudo isso ou desistiria só em pensar?
Uns, apenas enxergam. Outros, tudo sentem. Estes? São poetas. Aqueles? São sentidos pelos poetas que os transformam em versos.
O poeta sabe que na arte da inspiração há uma ação que pira, mas não é ira. É apenas uma expiação.
Se me perguntassem de onde nasce a poesia, simplesmente, diria que: da forte necessidade de transformar em sensações tudo que se vive nas palavras.
E o que você faz quando escuta, ou acha desagradável e/ou não concorda com algo dito? Eu revido ou duvido. Não dou ouvido. Não vivo o que ouvi. Só isso? Não. Eu também escrevo. Me deixa leve e eu levo o que não revelo. É um elo, comigo mesma, sem sobrepor nem opor, mas sabendo desviar das ilhas aguadas, magoadas em meio a esse mar de tempestades e calmarias. Isso é apenas uma forma de regar a sensação de que nada ouvi em meio a tudo que vivi. Só isso!!!
Muitas pessoas se questionam: E eu sei escrever uma crônica? Isso é tão difícil!
Nem sei sobre o que falar, não tenho inspiração.
Ah, sei!
Vamos lá!
Você já fez alguma mensagem para seu namorado se desculpando por algo, mostrando-se arrependido? Já fez alguma mensagem de aniversário bem emocionante para sua mãe, com uma linda reflexão?
Já viu aquela cena na rua que te deixou indignado? Que injustiça!
Já observou alguém se despedindo da pessoa amada?
Já observou suas lutas diárias, sua força de vontade, seus medos ou, até mesmo, em algum momento, sua vontade de desistir?! Ou melhor, a nossa!
Já observou que essa vontade passa, as tempestades cessam e depois vem a bonança?
E que muitos dos nossos "eu não sei fazer isso"; "Isso é difícil" acontece pela falta de uma antítese. Ouse trocar o não pelo sim, o difícil pelo fácil. Ou ainda, fazer valer a metáfora "abra a porta do seu coração e mantenha-se firme a ela, Se os ventos chegarem, resista! Isso fará a diferença e verá que sua perseverança te levará longe".
E olha que coisa perigosa. Acabo de fazer a crônica, só para mostrar que cronicar é como vivenciar fatos do cotidiano, colocando-os no papel, fazendo rir ou chorar, com o poder do linguajar.
A reciprocidade não precisa estar nas coisas. Portanto, ouça as atitudes gesticulares, oculares, aos luares.
Se a Cecília que era Meirelles não sabia qual o melhor "se ou isto ou aquilo"; imagina uma Andréia sendo Medeiros.
Há quem adore falar de suas vivências, suas vitórias, glórias, a qualquer hora. Porém, não suporta ouvir o outro ao falar das mesmas coisas. Das duas, uma: ou não suporta a ideia de que outro também tem esse direito ou o (des) prazer de querer tudo pra si. Eis a grande hipocrisia da raça (des) humana. Isso mesmo: nós!
Pode até ser inveja, por não admitir que o outro tenha mais ou tanto quanto. Porém é melhor acreditar que determinadas atitudes acabam inspirando e dando coragem para que o outro faça ou aja semelhante a nós, diante daquilo que deu certo e obtivemos êxito.
Não me condicione a olhares unilaterais, exceto, se servirem de reflexos para os mesmos que os lançam.