André Vianco
A noite não era mais escura. Seus olhos tudo viam. Enxergava mais longe, ouvia sons distantes. O olfato. Talvez fosse esse o sentido mais modificado. Lembrava-se da primeira vez que o cheiro de sangue o encheu de gana.
Era assim que os momentos inesquecíveis começavam a cavar ranhuras em nossas memórias para se agarrar às entranhas de nossos cérebros, petrificando os neurônios e gravando neles, como hieróglifos, as mais marcantes e vívidas recordações.
Hoje nós vivemos num mundo estranho, onde nem nossa sombra põe medo… Os humanos têm demônios maiores para se preocupar.
Então tudo escureceu. Sem túnel de luz, sem anjos à volta, sem sombras malignas. Somente o silêncio. Tudo virou nada. Percebeu nitidamente que deixava de existir.
A vida não precisa de ninguém. É muita pretensão nossa achar que alguma coisa vai mudar se não estivermos aqui.