Andre Rodrigues Costa Oliveira
Pensar é sim um ato de extrema ousadia. É o que nos faz quebrar amarras disfarçadas pelos preconceitos, pela acomodação e pela inocente expectativa de que alguém há de pensar por nós em nosso próprio benefício. Ninguém no planeta será tão altruísta e benevolente. Não dependa nunca do conselho de classe da escola para que passe de ano. Aja de modo a jamais depender desse conselho. Tenha a sua vida em suas próprias mãos. Ou aguente as consequências de sua leniência.
A vida é poesia.
Ávida é a poesia.
Há vida na poesia.
A poesia posiciona-se no âmago da formação de todas as culturas da civilização humana.
Eu acho uma lindeza gente que leva crianças pequenas a casamentos, bailes de formatura e velórios. Daí fica a molecada correndo, caindo, quebrando coisa. Nos velórios é pior ainda, porque só falta esbarrar no caixão e derrubar o defunto. Tem lugar que é de adulto e tem lugar que é de criança. Se você suspeita “levemente” que seu filho pode ser mal-educado, e não se comportar como um verdadeiro lorde britânico, não o leve. Ou então leve logo o moleque, alugue um terninho de anão para ele, para que fique igualzinho a um boneco de ventríloquo, e aguarde pelos elogios dos familiares, todos mentirosos.
Uma vez me pediram que dissesse algo sobre as pessoas que somente argumentam à base do grito, da ameaça e da grosseria. Não tenho como fazê-lo. Explico: grito, ameaça e grosseria não são argumentos. Ademais, lidar com o irracional causa-me um certo desconforto. É melhor falar com os bichos.
Não me venham com a desculpa clássica de que “errar é humano”. Tudo bem que errar, de fato, é humano. Mas as justificativas simplórias não fazem jus à condição humana. Desrespeitam a inteligência.
Impressionado com golpistas de plantão, que sonham com intervenções antidemocráticas que subvertem a lei brasileira e a ordem constitucional legítima. Por quanto tempo mais essa loucura zombará de nossa inteligência e abusará de nossa paciência? Chegará talvez o dia em que a reprovação das pessoas de bem lhes tomará as consciências tão pervertidas? Vocês realmente acham que conspirações de alcova são desconhecidas? Peço que não subscrevam o já consumado título de mentecaptos baratos. Tenham dignidade.
Costuma-se dizer que o elegante, o refinado e o verdadeiramente caridoso é um fidalgo.
O fidalgo é um “filho do algo”.
Eu não quero ser o filho.
Quero ser o algo.
O mesmo Estado que exige o respeito aos direitos humanos e o pleno exercício da cidadania é aquele que sequer dispõe rampas nas calçadas e elevadores em lugares públicos, além de condições carcerárias medievais e hospitais pestilentos.
O “homem-carcará” é um dos mais corriqueiros rapinantes do Brasil, encontrado em campos, pastagens, praias e em centros urbanos. Oportunista, alimenta-se até mesmo de animais moribundos. Não está extinto. É a praga bíblica de nossa sociedade. Chega ao cúmulo de exercer cargos políticos de extrema importância.
Você está mais ou menos grávida - então você não está grávida. Você cozinha, mas não limpa - então você não cozinha. Você é virgem, mas nem tanto - então você não é virgem. Você é amigo até certo ponto - então você não é amigo. Você assiste filme, mas não presta atenção - então você não assiste filme. Você pensa mas sente preguiça - então você não pensa. Você se ilude mas não se ilude tanto - sim, meu amigo/a: você se ilude mais do que jamais imaginou na vida de metades.
Atualmente as gerações mais novas possuem enormes habilidades, mas ainda são despreparadas porque não sabem lidar com frustrações e perdas. Acham que nasceram com direito adquirido à felicidade e ao sucesso pleno, sendo que felicidade e sucesso pleno são adquiridos ao longo da vida e a partir da dor e do esforço. Pais e mães não devem se sentir eternamente “devedores” de seus filhos emburrados e mimados.
Você já se perguntou se as pessoas acham “muito legal” o fato de que o seu filho já consegue ligar o smartphone aos três anos de idade? Você já se deu conta de que propagar intermitentemente a suposta “genialidade” de seu filho é incrivelmente desinteressante?
Você identifica um pseudointelectual formador de opinião pública de duas formas:
1 - ele é famoso, está na mídia e todo mundo o acha um gênio brilhante.
2 - ele tem a incontestável (e deplorável) capacidade de dissertar sobre assuntos sobre os quais desconhece completamente, aproveitando-se da fama e da burrice de seus seguidores. Sempre foram desmascarados, desde antes de Sócrates, passando por Sêneca, Boécio, Giordano Bruno, Schopenhauer dentre tantos outros.
Permanecem vivos, entretanto. São os vermes e insetos que resistirão ao mais perverso apocalipse.
O Brasil não consegue ainda sequer controlar doenças que estão extintas em diversas nações do planeta; no Brasil ainda existe o sarampo, a malária, a dengue, a poliomielite, a rubéola, a difteria, o tifo, a hanseníase entre outras moléstias antigas; o Brasil não cuida de seus dependentes químicos, sindrômicos ou portadores de necessidades especiais, denotando total e absolutamente ausência de cidadania.
Seja sempre gentil com os que são muito vaidosos. Deixe que se exibam portentosamente, já que não possuem outra coisa digna da nota. Permita que se comportem como o cachorrinho de casa, que busca um apetrecho a fim de brincar com a visita.
Quando lhe indagam sobre o seu estado geral - seja em ambiente de trabalho ou em família - a única resposta aceitável é um simples “estou bem, obrigado”- independentemente do “terremoto” em que você se encontre. Primeiro porque é deseducado resolver contar aos outros as mazelas e dificuldades do seu dia-a-dia, exceto se você for indagado pelo analista. Do contrário, você se transforma em um cara chato. Segundo porque frases tais como “vou indo”, “caminhando”, “vendendo o almoço para adquirir a janta” servem para demonstrar o quanto você é simplório. E terceiro - e mais importante: por detrás de “perguntinhas” aparentemente despretensiosas há um gigantesco interesse em dissecá-lo à exaustão minuciosa, para que se obtenha supremacia sobre o seu corpo, sobre a sua mente e sobre o seu dinheiro.
Ao artista, a limitação de possibilidades é frutífera e estimulante. Na filosofia acontece exatamente a mesma coisa. É no mais escuro dos porões que os temperos e os molhos mais deliciosos são criados.
Nada aterroriza mais um escritor ou um filósofo do que a ocorrência de um hiato.
Seja no papel, seja na vida.
Apenas perceba a timidez ousada de Clarice; a feitiçaria no olhar de Bette Davis; a malícia provocadora de Brigitte; a melancolia nos acordes de Billie Holiday.
Feito isso tudo, tenha toda a natureza como contemplada.
A destruição da fé e das religiões como um todo é assunto corriqueiro entre pseudointelectuais quando se reúnem. Aliás, tem gente que se autointitula ateu apenas para parecer inteligente. Acontece que você seguir uma religião não é um atestado automático de inteligência, e nem mesmo da ausência da inteligência. Deus é um conceito sutil e elegante. E falar de Deus é a mais pura filosofia.
Federico Fellini, na sublime altivez de sua genialidade, muitas vezes utilizava pessoas comuns em cenas de seus filmes. Acho que foram exatamente essas pessoas comuns que inventaram o Federico Fellini. E a fantasia de seus filmes é mais realista do que a própria realidade. Todo o absurdo de Fellini era fidedigno. E o mar é, sim, feito de papel celofane.
É exatamente na situação de crise que o mais audaz e criativo nos propõe a quebra de um paradigma antigo, mas sem necessariamente invalidá-lo. Pois o sábio verdadeiro, ao propor ideias novas, absorve com respeito e devoção o paradigma antigo, utilizando-o de base ao que deve abalar os velhos alicerces e mudar ainda mais o mundo.
Existe uma maneira de fazer alguém parar no tempo: a miséria faz você parar no tempo; a ignorância faz você parar no tempo. E os séculos não passam para aqueles que amargam privações extremas. Pois as privações extremas nos amputam até mesmo o futuro.
Tem gente que ainda confunde gentileza e elegância com o mais ordinário flerte. E de flerte eu entendo. E jamais seria raso.