André Lemour

Encontrados 15 pensamentos de André Lemour

O espelho,
você,
eu,
sentimentos e inseguranças.
Palavras,
frases,
virgulas,
pontos finais e reticencias.

Inserida por andrelemour

Além do amor

há amores que não pedem,
não esperam,
não precisam de nome.

eles existem naquilo que é inevitável,
silenciosos, incontornáveis,
porque simplesmente não poderiam não existir.

não queima como a paixão,
que pede urgência.
não implora como o desejo,
que arde na falta.
não exige retorno como o amor romântico,
que busca ser escolhido.

é um amor que habita, que permanece,
que basta.

a presença do outro se torna essencial,
e sua simples existência preenche um espaço
que nada mais poderia ocupar.

não precisa de promessa,
de futuro, de definição.
ele apenas é—
e nunca deixará de ser.

Inserida por andrelemour

⁠Se te amo, não espero retorno.
Se te toco, não peço tua pele.
Se te entrego meu sentir,
é porque não sei guardá-lo.

Mas e se me deres o que nunca pedi?
Se tuas mãos buscarem as minhas,
se teu amor me encontrar sem que eu o chame,
terei eu o direito de recusá-lo?
ou será apenas medo disfarçado de recusa?

Os braços conhecem o gesto de ofertar,
mas tremem ao ensaiar o de aceitar.
Dizem que amar é dar,
mas talvez amar também seja permitir.
Permitir que fiques,
permitir que me olhes,
permitir que o amor,
se quiser,
exista entre nós.

Não sei ser amado,
mas ainda assim sou.
Não sei receber,
mas ainda assim me oferecem.
E se o amor não for uma dívida,
nem um peso,
mas apenas um espaço entre nós dois,
um toque que não exige nada,
um olhar que não pede retorno?
Talvez amar também seja ficar,
mesmo quando os passos tentam fugir.

Inserida por andrelemour

⁠⁠Dias sem te ver,
e ainda sinto teu cheiro no ar,
o som da tua risada tão vivo em minha mente,
a lembrança da tua pele sob meus dedos.

Hoje te encontrei.
Por um instante, parecia que tudo estava em seu lugar,
e eu queria que aquele momento nunca acabasse.

O toque dos nossos corpos,
teu cheiro — meu Deus, teu cheiro —
tua voz, tua vibração,
cada batimento que senti deitado em teu peito.

Eu sei que te amo de longe,
mas, de perto...
Estou entregue.

Inserida por andrelemour

⁠Ela chegou.
Quando menos esperava,
sem bater ou pedir licença,
abriu a porta e entrou.
Pegou uma xícara de café,
sentou-se no sofá e disse:
"Ficarei sem previsão de saída."

Tentei afastá-la,
mas logo percebi
que sua presença era inevitável.
Frustrado, optei por ignorá-la,
fingindo que ela não existia.
Ela me olhou, com um ar desafiador,
e perguntou:
"Será que estou atrapalhando?"

O tempo seguiu seu curso
e, num certo momento, ela decidiu partir.
Ela se levantou, ajeitou a xícara na mesa e,
sem dizer adeus, foi embora.
Sua saída deixou um vazio,
mas também a leveza da liberdade.
observei-a ir e murmurei:
"Até breve, Paixão."

Fechei a porta,
voltei meu olhar para o sofá
e o Amor, sorrindo em silêncio, disse:
"Ela estava te preparando para a minha chegada."

Escrever
Escrever esses textos me ajuda a enxergar as verdades que tento esconder de mim mesmo. Gosto disso. Me faz encarar as coisas como realmente são. Eu sei quando estou mentindo para mim mesmo. E, por mais que às vezes tente fugir, no fundo, a verdade sempre me alcança.

Tem dias que parecem desperdiçados, e eu fico tentando entender o porquê. Mas a resposta é sempre a mesma: porque eu escolhi que fosse assim. Eu poderia ter feito algo, poderia ter mudado, mas não fiz. E estava consciente disso o tempo todo. Não dá para mentir para mim mesmo sobre isso.
Outros dias são diferentes. Dias em que me sinto vivo, em que aprendo, em que percebo que nunca vou saber tudo – e tudo bem. A diferença entre esses dias não é o acaso, não é sorte ou azar. Sou eu. Sou eu decidindo, mesmo sem perceber, se vou me movimentar ou ficar parado.

Já me coloquei demais no papel de vítima, sem nem perceber. E quando percebi, odiei. Porque eu sempre detestei esse tipo de comportamento nos outros. E me ver reproduzindo isso fez eu me sentir um hipócrita. Mas agora eu vejo. E quando a gente percebe, não dá mais para ignorar.

Aos poucos, estou mudando. Ainda estou LONGE de ser quem quero ser, mas estou no caminho. O pequeno André teria orgulho, não porque sou perfeito, mas porque sigo tentando.

Escrever me faz enxergar tudo isso. Não tem como escapar das palavras quando elas estão bem ali, diante de mim. Eu sei quando estou tentando me enganar. Sei quando estou fugindo. Mas aqui, nesse espaço, não tem para onde correr. Só resta encarar a verdade – e continuar.⁠

Inserida por andrelemour

como posso me atrever tão inseguro?
me atrevo a te falar,
me atrevo a te observar,
me atrevo a te abraçar,
me atrevo a te beijar,
e
eu me atrevo a te amar.
tão inseguro de mim,
tão inseguro de um possível nós,
tão inseguro do que não sei.
não sei o que você fez de mim,
por que eu jamais me atreveria a tanto.

Inserida por andrelemour

⁠Fascínio

Sou o espectador do seu existir,
teu maior fã,
não por sentimentos a mais,
mas porque tudo em você é arte.

Aquele instante,
quando minutos foram horas
e o tempo não ousou te tocar.
Quando todas as presenças se dissolveram
e só restava você.

Eu me perdi de mim,
do espaço, do agora.
Me perdi de tudo
que não era você.

E como se descreve algo assim?
Sou fissurado em te admirar—
te observar sendo simplesmente você.

Inserida por andrelemour

O garotinho

Garotinho que carrega o mundo nos ombros, que sabe tanto, mas se perde no caos da própria mente. Meu garoto, o que você quer?
— Quero sorvete de morango.
Ou talvez chocolate.
Não… acho que baunilha é melhor.
Garoto indeciso, que tropeça entre vontades pequenas enquanto se afoga em desejos grandes demais para caber no peito.
Garotinho de quem me orgulho com todas as forças, por que insiste em voltar àquele lugar?
Aquele que te feriu, que te apagou, que te fez duvidar de si mesmo.
Por que corre de volta para as mãos que te deixaram cair?
Eu não consigo entender.
Ah, meu garoto…
Eu te fiz algo para merecer essa dor?
Foi minha culpa?
Ou é só o mundo arrancando você de mim, pouco a pouco, sem que eu possa impedir?

Inserida por andrelemour

Quão

Quão profundo foi o teu?
Quão perdido ficou o meu?
Quão real foram os teus?
Quão iludido fui eu?

Quão forte bateu o peito teu?
Quão vazio ficou o meu?
Quão breve foi a entrega tua?
Quão eterno restou em mim?

Quão fácil foi a partida tua?
Quão difícil é a minha?
Quão leve foi libertar-te?
Quão preso ainda estou?

Inserida por andrelemour

ao desejo azul vibrante
Ele é o toque que queima,
a palavra que não precisa ser dita,
o silêncio que diz mais que o grito.

Ele é azul vibrante,
não porque escolheu ser,
mas porque não poderia ser outra coisa.

E quem o toca,
quem o vê,
se perde,
sem querer ser encontrado.

Inserida por andrelemour

Lembrei da tua pele,
do suor descendo, desenhando caminhos,
do teu rosto rendido ao desejo
e de cada resposta do teu corpo.

E junto a mim, a água do chuveiro escorria,
misturando-se ao desejo que pairava.

Inserida por andrelemour

Inabitável

tantas formas possíveis, mas sou essa—justamente essa que dói.
achei que era o cabelo, cortei.
talvez o peito, então curvei a coluna, encolhi, escondi.
talvez a roupa, mudei.
talvez a maneira como me movo, falo, existo.
mudei. mudei. mudei tudo que minhas mãos alcançaram.
mas meu rosto não esculpe sombras no espelho,
meus ombros não marcam presença no espaço.
não sou pedra, não sou aço.
sou frágil demais para ser quem desejo,
pequeno demais para ocupar o mundo como ele exige.
há marcas no meu corpo que não reconheço,
ausências que gritam na pele, no reflexo.
e que tipo de homem eu sou? um que luta para caber em si.
eu queria carregar isso com orgulho,
mas é um peso que me dobra, me afunda.

meu eu por dentro grita, se debate,
se agarra às grades da minha pele e implora—
onde está meu corpo?
onde está meu corpo?
onde está meu corpo?

me atraio por caras que nunca vão me ver inteiro.
sei do olhar que me mede, que me nega,
sei do que falta entre as minhas pernas
e de como isso faz de mim um quase, um nunca.
mas que culpa eu tenho?
vou realizar meus sonhos.
vou tocar o impossível.
mas no fim, ainda serei trans.
até o último segundo, até o último suspiro,
a palavra nunca me deixará.
mas,

por quê?

por quê?

Inserida por andrelemour

Um dia de cada vez

Me ama bem devagarinho,
saboreando cada instante,
sentindo o tempo escorrer suave entre os dedos.

Gosto de te sentir,
da tua presença no agora,
e de não precisar temer o futuro quando se trata de você.

Até as nossas despedidas me aquecem,
com o toque doce da saudade,
aquele "tchau" que sussurra um "até logo, por favor".

Gosto de estar perto e te sentir,
com a mesma intensidade que gosto da distância e do desejo que ela traz,
o gosto bom do querer mais.

Gosto de saber que te penso
e que, em algum lugar,
você também me pensa.

Inserida por andrelemour

suspiro

deitado, perdido,
a lágrima não cai.
cansado de sentir que não pertenço
a nada, a lugar nenhum.

a dor no peito aperta.
aceitar que isso nunca vai mudar...
é difícil.
até o dia da minha morte serei assim?
como se digere isso?

suspiro pesado a cada respiração,
na esperança de aliviar
o que me consome por dentro.
suspiro pesado a cada respiração,
na esperança de me tornar o impossível.

Inserida por andrelemour