André Carneiro de Albuquerque
O cadáver ou partes do cadáver do inimigo eram indispensáveis como demonstração de superioridade (...) a violência perpetrada era também uma forma de qualificar a tropa, definido-a como apropriada para realizar a luta contra cangaceiros.
A prática cotidiana do cangaceiro o tornou conhecedor profundo do seu local de ação. O terreno e a vegetação do sertão nordestino se tornaram seu habitat natural, sendo a sua sobrevivência fortemente vinculada ao apurado conhecimento da região onde transitava.
A permanência em combate não convinha as estratégia do cangaço, pois aumentava as possibilidades de baixas no grupo, consumia recursos bélicos e não gerava um butim significativo para compensar os problemas do conflito.
O bando de Lampião, quando progredia pela caatinga sem demonstrar preocupações em ficar ocultos das volantes, objetivava, algumas vezes, atrair perseguidores para uma área onde fosse possível promover uma emboscada.
O grau de importância ou hierarquia interna só era, às vezes, reconhecida pelo tamanho do punhal de sangria, pequenas espadas sem boldrié na guerra cangaceira.
Tropa Volante é uma tropa desaquartelada e que não foi submetida a cursos de formação (ou iniciação) policial, tendo uma estrutura quase nomádica.
Os coiteiros contribuíam para que o bando de Lampião tivesse autonomia nos deslocamentos, o que dificultava, de forma significativa, as ações de tropas volantes.
As tropas volantes em Pernambuco representam mais do que uma força de repressão ao cangaço. Representam a utilização de saberes de uma região, incorporados a uma instituição pautada na hierarquia e disciplina.
A difícil obediência hierárquica e relutância à disciplina castrense geraram tensões intramilitares.
As tropas volantes com seu efetivo acangaceirado e suas vestes diferenciadas foram definidas e/ou marcadas, sobretudo, por sua individualidade. Essa individualidade é que fazia delas uma organização de luta, cuja competência em ação era proclamada pelos seus trajes.
O policial volante continua sendo um miliciano da Força Pública, mas o tecido que protege sua pele é modificado paulatinamente. Os sapatos são substituídos por alpercatas ferradas e com rabicho simples ou duplo, as roupas se tornam mais resistentes à vegetação local; panos para fazer torda (barraca) e o lençol, trançados na frente do corpo, dispostas em xis, cruzando o pescoço. Bornais cruzados e punhais passaram a fazer parte da indumentária do cangaceiro e da volante.
A necessidade de possuir em seus quadros, policiais sertanejos conhecedores da região provocou uma restruturação do aparato policial, pois para diligências era necessário o conhecimento da região que o sertanejo possuía. O cangaceiros do período lampiônico fez a policia caminhar em terreno variado.
O policial volante em Pernambuco, no período áureo do cangaço, era um homem que praticamente não retirava a farda do corpo e raramente era liberado do trabalho para ver familiares.
A lógica da ação das Tropas Volantes estava ligada ao cangaço, indissociável em relação às ações bélicas, distinguindo-se apenas em relação aos seus objetivos e fins.