Anderson Júnior
Soneto de Despedida
Que não sejam só promessas, palavras
Que seja, contudo e antes de tudo, o ato.
Que não seja o que evolui, apenas.
Mas que seja a pureza do princípio, o nato.
Que não seja o imutável, mas que não mude.
Que seja ao menos o mínimo, mas cresça.
Que não seja só mais uma paixão - que ilude
E se não for para subir, que ao menos não desça.
Se não for para sorrir, que eu chore.
Se um dia for florir, que eu regue.
Que se tiveres de partir, que eu não implore.
Se não for nos seus braços, que eu nem me aqueça
Se não for o nu e cru da verdade, que eu apenas negue.
Se não for a tua voz, e o teu beijo, que eu esqueça.
Você Universo
Seus olhos são luas;
Seus dentes estrelas;
Envoltos na densa noite dos seus cabelos;
Que se entrelaçam ao espaço;
Fazendo com que o tempo seja esquecido;
Talvez por isso perto de você o tempo pare;
Você é uma singularidade;
Única, inexplicável e por mais que haja teorias;
Nada, nem ninguém pode te entender como você de fato é;
Há em você mais mistérios;
Do que em todas as partes escuras do Universo;
Nem energia e nem matéria existiriam sem sua presença;
Presença essa que eu desejo;
Como um cometa deseja se aproximar do seu sol;
Quase que por obrigação;
Mas mesmo forçado por algo maior;
Não deixa de lado tamanho brilho;
Não abre mão de tal espetáculo;
Que por mais belos que sejam;
Nem ao menos se comparam;
Ao momento que se aproximam;
Nossos lábios que por fim;
Beijam-se.
Passado
Tudo está no passado, nenhum verbo se conjuga no presente.
Se eu digo sou, eu era há alguns segundos atrás.
Nesse que se passa, estou alguns versos mais a frente.
No futuro, espero –esperava- estarei em paz.
No passado estão os anos, as datas, os planos.
O agora apenas se vive, sem tempo para recordar o que fez.
E já passou, sem dizer adeus, nem aos fulanos, nem aos beltranos.
Porque o tempo, não se importa com quem seja, ele sempre em silêncio diz, se desfez.
E mais uma vez passou, passou por mim um arrepio.
Uma lembrança, porque aquele ônibus tinha que estar cheio?
E tudo o que eu senti foi, um calafrio.
Levantado pelo coração, dei lugar e ali fui dividido ao meio.
Fui sentenciado a viver em parte.
E sempre no passado, e distante.
Fui por aquele ímpeto, empurrado ao descarte.
E não vivo mais o agora, estou mais no futuro a cada instante.
Metade do meu tolo coração se tornou seu.
Em parte você se tornou o que me completa.
Esse é para você, a quem amo mais do que eu.
Mas não podemos ficar juntos, pois o choro é parte essencial para eu me torne, poeta.
A Criança da Minha Criancice
Você é como um suspiro;
Sua presença afasta os meus medos;
Mesmo quando em face de um momento assustador;
A sua voz vem de encontro aos meus anseios.
A sua voz é como a de uma criança;
Traz de volta a pureza do mundo ao redor;
Ao ouvi-la retomo a esperança;
De que com você o meu mundo possa ser melhor.
O seu olhar é sublime, penetrante;
Mostra ao dia uma razão pra amanhecer;
O momento que nosso olhar se cruza, é cortante;
É um instante de paz, êxtase e prazer.
Esses seus cabelos, como corredeiras de rios;
Caem em linha, negros como a noite;
O seu perfume e a sua presença causam arrepios;
A sua pele traz paz, que livra os meus ombros da dor do açoite.