Anatole France
O mal é necessário. Da mesma forma que o bem, tem a sua nascente profunda na natureza, e um não poderia exaurir-se sem o outro.
Em matéria de propriedade, o direito do primeiro ocupante é incerto e pouco seguro. O direito de conquista, pelo contrário, assenta em fundamentos sólidos. Ele é respeitável porque é o único que se faz respeitar.
Definem-nos o milagre: uma derrogação das leis da natureza. Não as conhecemos; como saberíamos que um fato as derroga?
As coisas, em si mesmas, não são grandes nem pequenas, e quando nós consideramos que o universo é vasto, trata-se de uma ideia meramente humana.
O trabalho convém ao homem, (...) evita que ele olhe para esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível.
Raramente tenho aberto uma porta por descuido sem ter deparado com um espectáculo que me fizesse sentir, pela humanidade, compaixão, nojo ou horror.
Uma besteira repetida por trinta e seis milhões de bocas não deixa de ser uma besteira. As maiorias têm mostrado as mais das vezes uma aptidão superior à servidão.
Os homens animados por uma fé comum nada têm feito mais depressa senão exterminar aqueles que pensam de modo diferente, sobretudo quando a diferença é muito pequena.
O que os homens chamam de civilização é o estado atual dos seus costumes e o que chamam de barbárie são os estados anteriores. Os costumes presentes serão chamados bárbaros quando forem costumes passados.
Chamamos perigosos àqueles cujo espírito é diferente do nosso e imorais aos que não têm a nossa moral.
Considero o conhecimento de si mesmo como uma fonte de preocupações, de inquietações e de tormentos. Tenho-me frequentado o menos possível.
É uma grande tolice o «conhece-te a ti mesmo» da filosofia grega. Não conheceremos nunca nem a nós nem aos outros. Mas não se trata disso. Criar o mundo é menos impossível do que explicá-lo.