anapaulamendesv
Dentro de nossas complexidades, dos erros que se perpetuam no silêncio dos dias, é inevitável que a gente clame, implore, ainda que ciente de que o amor, de verdade, é um caminho de ida e volta, onde o carinho e a entrega não se perdem na espera. Clamei por essa entrega, com sede de sentir uma completude que eu via apenas do lado de fora, por vezes esquecendo que amar, também, é confiar no tempo do outro, na entrega do outro, naquilo que o outro pode dar – e não no que a gente espera.
É natural que a gente queira, às vezes até com desespero, que aquele pedaço de mundo que a gente vê no outro se encaixe exatamente no que a gente precisa. E, nesse desejo, acabamos por não ver que insistir pode ser o mesmo que perder. O amor é fácil, dizem; e na luta constante, percebo que o que se chama de amor nunca deveria ter um nome assim se ele ferir ou quebrar. Aprendi que o amor, aquele que é amor de verdade, é o que acolhe, se faz paz, é aquele que cresce em meio à compreensão mútua, e não em batalhas.
Amar alguém é, também, reconhecer as partes de nós que ainda não estão prontas, as partes que se lançam para frente sem prudência, e perceber que, para amar e ser amado, não há espaço para barreiras. Ficar ao lado de alguém que escolhe estar ao nosso lado é abraçar essa cumplicidade; é entender que há diálogos francos, mãos que se tocam sem receio, e passos juntos, onde o mundo inteiro vira segundo plano.
No amor verdadeiro, existe o espaço para a dor e para a cura, para os tropeços e as retomadas. E é por isso que acredito que um erro não deve definir a totalidade do que somos. Continuar juntos, mesmo após esse erro, é uma escolha que fazemos – uma escolha de lutar pelo que temos de melhor, de nos mantermos lado a lado na transparência, na honestidade, na reconstrução.
Querer alguém é estar com quem quer agora, e que não deixa a incerteza corroer o espaço entre as palavras. Que nossas ações, nossos olhares e gestos não tenham pontos obscuros, pois nada entre dois corações honestos precisa de sombras. É assim que se constrói o futuro: de mãos dadas e planos, de desejos compartilhados, e, quem sabe, até um lar para chamar de nosso. É alguém que nos lembra, nos dias caóticos, que a vida pode ser leve; é quem nos faz transbordar e agradecer ao universo pelas histórias que não se concretizaram, porque, no fim, nos preparavam para alguém que escolhe viver ao nosso lado, diariamente.
Expectativas, meu amor, nascem no espaço das palavras que jamais ousamos dizer; elas se escondem nos gestos que faltaram e nas histórias que ficaram sem pontuação. São sonhos que o coração escreve, mas que nunca foram lidos pelo outro. Entre o frio do cérebro e o calor do coração, reside o silêncio, onde mora a esperança de que alguém saiba, sem nunca termos contado.