Ana Xavier
Quem sabe nos encontremos de novo
vítimas do acaso
Nessas ruas sem saída
dessa cidade que dormia
Labirinto de pedras e asfalto
Cobertos por tetos frágeis mas nada transparentes
Amanhã ou mês que vem
Procuramos um novo dia
Procuramos uma saída
Sol na palma da mão
E o violão,
desenvolvendo mais uma canção
Juntos só nós e as estrelas
Nós e o universo
tão sozinhos mas tão cheios de mistério
Luzes de calor
Luzes do céu
Nossas asas nos distanciam do aranha-céu
Pessoas nos sugam
E as cidades com suas grades,
ajudam
Fugir daqui é sensação de vento
Vento forte rompendo o cimento
Os estilhaços acenderam a chama que vem do centro
Nos perdemos naquele labirinto
nas ruas desalinhadas
Nos prendemos com cinto,
com ideias amarradas
Nos perdemos nas calçadas,
nos sinais, nos tijolos
Estamos construindo barreiras pelos solos
Nos perdemos no som,
nas faixas e na multidão
Nos perdemos em mais um vagão,
vagamos sem destino sem olhar pro coração
Nos perdemos em portas
Portas que não abrem
Nos perdemos no preto e no cinza,
esquecendo do verde e do azul da brisa
Óculos escuros mesmo sendo de dia,
escondemos o que o coração não via
A roupa de grife nos cobria,
jogando fora nossa carta de alforria
Marchem soldados,
temos cabeças de papel
Nossos olhos foram cobertos,
tampados por um véu
Ninguém parou pra ver o céu
Estamos muito ocupados cumprindo nosso papel
Marchem soldados,
temos o peito de aço
Coração controlado que não lembra do abraço
Corpo linchado
Soldado pau-mandado,
Foi mandado pra vala
sem nem ser notado
Eu acho que vivi todo esse tempo esperando por algo que me fizesse continuar,
mesmo que tudo fosse mera imaginação, ou talvez não. Talvez o que eu sinto não é mero amor infantil, ou amor ingênuo e totalmente inocente.
Só sei que toda lágrima que caiu ao ouvir a sua voz, me pareciam tão reais; que todo suspiro de encanto ao ver o seu sucesso, me pareciam tão sinceros; que todo sorriso que ecoou pela minha boca ao lembrar do seu nome, me pareciam tão verdadeiros. Que cada lembrança, cada verso que escrevi, cada sentimento escondido. Senti tudo isso mesmo que você não soubesse, mesmo que pra mim estava tão óbvio.
Me lembro de cada música que beijava meus ouvidos e me faziam arrepiar, e que eu sabia que você estava escutando apenas por sentir seus olhos tão vidrados quanto os meus mesmo distantes um do outro.
Me lembro do meu orgulho por te ver crescendo e escrevendo com sinceridade sua arte maravilhosa, um orgulho que me transbordou tanto amor no coração, um amor que pode não ser recíproco mas que hoje em dia, já não ligo mais, já não vou buscar por respostas que me levem a você, ou a nós. Meu amor por você se tornou tão sincero ao ponto de eu não me importar se você está longe ou perto, se você está comigo ou com outro alguém, não consigo mais negar esse sentimento, a força dele é tão grande que a torna eterna. E por mais que eu sabia dos seus mistérios, eu sinto que te conheço e que de alguma forma, dentro do ponto mais remoto do meu coração, eu tive a sorte de conhecer o melhor de você, tive em meus braços o você que ninguém conheceu até hoje.
E acredito que você não tenho mudado
Por mais que o tempo nos diga o contrário
Não é possível que aquele arrepio ao te ouvir pela primeira vez seja apenas imaginário
Seria minha imaginação assim tão fértil?
A água pura que derrete pelos meus olhos nesse momento apenas por lembrar
Poderia eu ser apenas louca?
Não sei se louca por você ou louca de cabeça,
Talvez um pouco dos dois
Mas sinto uma faísca ainda acesa
Me dizendo que não estava louca todo esse tempo
Ou melhor
Dizendo que nós estávamos
E que quando acordarmos
Estaremos juntos mais uma vez
Rindo como as crianças que uma vez fomos
E meu coração não estará mais partido
E eu te agradeço, te agradeço por me ensinar o que é amor mesmo que no início seja tão doloroso. Te agradeço por me ensinar que amor não é aquilo que transformamos em necessidade, não é um jogo de xadrez já pronto para o cheque-mate. Amor é deixar de ser egoísta, é deixar de lado o pecado mais feio do ser humano. Deixar de ser egoísta
Me faz querer beber da chuva em um sábado à noite, deixando o peito aberto pro resfriado que vem quando sua existência evapora e sou obrigada a fechar os olhos novamente, procurando te reencontrar.
Me faz querer escrever sobre o desconhecido dos seus olhos e tocar seu peito que diz ter muito amor.
Me faz querer descobrir as estrelas roxas que compõem sua cabeça e as placas tectônicas que adornam seu coração.
Me faz querer debruçar sob a cama quente, envolvida em seu corpo ao olhar o branco desse céu humano, capaz de ser tanto vazio quanto cheio.
Me faz querer criar milhares de histórias em um papel nu pronto para ser preenchido por pedaços de você mesmo sendo impossível te desenhar por completo.
É uma curiosidade e desejo que lutam entre si e o sangue que escorre eu uso de tinta, pinto seu corpo sob a real solidão em que desperto.
Se os lábios se tocarem durante essa madrugada, seria declarada a vitória do desejo ou isso apenas me tornaria escrava da curiosidade pelo seu mistério?
Logo eu?
Fria como o dia de hoje e tão chuvosa quanto essa noite.
Tão louca quanto palhaço de circo e tão livre de coração.
Tocada pelo pecado em sua melhor versão
E sendo obrigada a passar mais um dia sem o toque de sua mão
Se cada parte do seu corpo fosse um instrumento
E toca-ló fizesse de mim uma artista
No meu maior desejo
Meu nome seria elevado
E eu descansaria ao lado de Beethoven
Quem sou eu além de uma menina de eterno coração partido
Por mim mesma
Criança sem balanço
Sozinha na gangorra
Ouvindo músicas na noite vazia
Pensando no nada que me representa
Enquanto me escondo da lua
De vergonha
No peito apenas a coragem de partir
E na mente as correntes que me enjaularam durante todo esse tempo
Quem sou eu além de uma menina de eterno peito cheio
Vagando pela manhã a procura de algo que me transborde
Que me derreta
Vagando no desconhecido do tempo
Fugindo e correndo atrás do passado
Criança solta
Presa
Presa entre o dinheiro e a liberdade
Entre a liberdade e a solidão da noite
Mais uma vez
Livre e só
Sendo o que o coração manda
e que a mente arrebata
Boa e má
Má com o que pensa
E boa com o que faz
Sendo martelada nos pés
E amarrada pelas mãos
Mas a coragem que hoje encontrei
Que hoje me representa
Vai me fazer sorrir amanhã
Como se nada tivesse acontecido
Sorrindo embaixo do sol
E me esquivando embaixo da lua
Porque quando o frio bate
O coração quente pela luz do dia
Congela
Devagar
Rápido
Devagar de novo
A lentidão da vida me faz caminhar observando o mundo
Enxergando tudo
Mesmo precisando de óculos
Mas meu coração sempre enxergou melhor do que meus olhos
Estando tão cega
Nunca enxerguei o verde tão bem
O roxo da flor
O amarelo do piso
Os buracos na calçada
As pessoas
Seus olhares
Eterna andarilha arrependida
Mas livre
Tão livre
Voando junto ao vento
E contra o destino