Ana Paula Pontes
E em meio a sentimentos desconhecidos, a amores não correspondidos, a situações desconcertantes, me encontro alternando entre pensamentos e sensações contraditórias...
Vivo buscando emoções interessantes e perturbadoras, ai vivo me perdendo, turistando por lugares desconhecidos e inabitados da minha alma obscura e insensível . Ando tão vazia, sinto que não há mais empatia em mim e sinto as pessoas ao redor bobas afirmando de maneira pretensiosa que estou fugindo de sentir algo de verdade, quando na verdade já não existe o medo para a fuga.
Mas com isso tudo eu ainda continuo trilhando caminhos difíceis e tediosos como um parasita sem esperança.
Aí você me pergunta, como você pode ser assim? eu sorrio e pergunto, assim como? como se já não soubesse o que ele me perguntaria naquela noite fria de segunda, ele responde: assim fria, distante, eu o fito nos olhos, com a malicia de quem quer fugir da pergunta e depois de um tempo eu respondo, como eu posso saber? talvez eu seja insensível e nunca me apaixone ou eu me apaixone tanto ao ponto de querer te deixar livre pra vir até mim quando quiser...
Te noto confuso, inseguro, com medo, daí você faz aquela cara de é agora ou nunca, dá aquele suspiro profundo e em mais uma tentativa frustrada de saber o que eu sinto, me pergunta, então me diz, o que você sente por mim?
Daí dou aquele sorriso, por hora tentando não ser cínica, para que ele não sinta que estou de deboche, respondo como quem não quer nada, mas querendo confundir mesmo, porque as pessoas gostam disso, daquilo que perturba, que atordoa, ai eu falo meu amor gosto tanto de você quanto dos meus livros, é a tua boca que me leva a mundos imaginários e desconhecidos, é o teu cheiro que eu levo na lembrança.
Então ele me abraça como uma criança que ganhou o melhor presente do mundo, me beija e diz que vai cuidar sempre de mim, eu paro por um momento querendo dizer que o pra sempre não existe, que ele cuidasse de mim agora, nunca aceitei essa história de pra sempre, isso é tão démodé, mas eu finjo que eu gosto pra fazer ele feliz e isso já é uma grande coisa, então ele me olha e eu sorrio para que ele continue a amar essa menina cansada de falsas promessas e das paixões inseguras que passam por sua vida.
Ana Paula Pontes
Eu vou guardar nossas histórias nas minhas lembranças e em alguns diários que escrevi, vou lembrar daquele dia em que nos beijamos na chuva enquanto caminhávamos para a minha casa, eu sei é clichê, parece aquelas cenas de filme romântico batido, mas vou fazer o que se toda garota adora um clichê de vez em quando, vou lembrar sempre do nosso primeiro beijo e logo depois do seu sorriso juvenil com cara de quem conseguiu um prêmio, vou lembrar do teu jeito único de me fazer sorrir mesmo quando você estava triste, vou guardar tuas conquistas ao meu lado e de como elas me faziam feliz, e quando a velhice chegar e a memória falhar, e eu ver as rugas no lugar, vou querer te ver para você me lembrar de como fui feliz.
Ela me diz ultimamente que é vazia, mas uma vez por outra deixa escapar palavras que me fazem perceber que ela tem o mundo inteiro de sentimentos que escondeu no fundo da gaveta da sua cômoda para que ninguém mais pudesse fazer uso deles contra ela, fico observando suas atitudes e reações e me calo para não confessar que há admiro muito, assim ela não fica tão convencida, porque ela já é incrível, ela é uma mulher de opinião e avalia tudo ao seu redor com a mesma atenção de um investigador criminal, me contradiz sempre que acha que estou errado e eu noto o prazer nos olhos dela quando faz isso.
Ela não segue padrões, tem gostos estranhos, adora a dificuldade, consegue enxergar beleza onde ninguém mais vê. É a garota mais real que eu conheço,mas ela não vive no mundo real, viaja sempre que pode pra outro mundo ou outra dimensão, viaja sempre que escuta uma boa música ou ler um bom livro. Me diz que não gosta do excesso nem de nada com muito brilho, é simples do jeito dela, não precisa de máscaras pra se fazer bonita, não segue os padrões de beleza, mas quando decide se arrumar nem o Machado de Assis saberia descrever tanta beleza e eu como bobo vivo me perdendo no seu mundo paralelo, alternando sempre entre a sanidade e a loucura, não sei dizer se isso é bom ou ruim, por vezes penso em ir embora, mas ai ela me sorrir e então percebo que cai em sua teia e que eu sou uma presa fácil com a qual ela se diverte antes de devorar.