Ana Luísa Schwengber Kelm
É incrível como a gente sofre por nada. Ou pelo que não é nada, mas a gente sempre aumenta, estica, puxa e consegue transformar uma gota num oceano.
Tem gente que vem pra ficar, e tem gente que realmente não era pra ser. Mas eu acabo me apegando sempre à esses que não vem pra ficar.
O tempo passa mas não leva nada com ele, muito menos muda alguma coisa. Tudo insiste em permanecer, continuar atormentando. As feridas insistem em lembrar de doer.
Vem aqui do meu lado. Vem dormir aqui abraçado comigo, debaixo do cobertor mesmo no calor. Vamos dançar no silêncio, cantar a música no ritmo errado. Deixa eu dormir com a sua camiseta, que por sinal fica enorme em mim. Vamos comer sanduíches sentados no chão da cozinha, rindo da bagunça. Me diz que gosta? diz que gosta de me acordar de manhã e me ver completamente desarrumada, com sono e com frio. Você gosta quando eu chego por trás e pulo nas suas costas, não gosta? por favor, não foge. Eu sei que você gosta também quando eu deixo o cabelo no rosto só pra você tirar e eu poder olhar nos seus olhos. Eu sei que já percebeu que eu tiro o cabelo do pescoço só pra dar a deixa pra você chegar por trás e riscar uma linha de beijos da minha clavícula até meus lábios. Deixa eu rir com os lábios encostados nos teus, deixa. Ri comigo. Me da um susto me segurando pela cintura, chega por trás sem fazer barulho. Ri pra mim sem motivo. Deita no meu colo, deita. Deixa eu cuidar de você.
Não adianta se afastar, tentar substituir, esquecer. No final eu sempre acabo sentindo falta e voltando pras mesmas pessoas.
O pior é quando as poucas pessoas que realmente te fazem bem simplesmente vão embora como se não fizesse diferença.
Ando como uma metamorfose ambulante que enquanto é, não vai mudar nunca. Mas vivo de infinitos que terminam logo ali. Ciclos intermináveis que uma hora se rompem sem motivo.
Você diz que o universo conspira contra as coisas se acertarem. Você diz que a felicidade, como uma borboleta, foge quando você corre atrás dela. Mas, assim como com a borboleta, se você chegar delicado e devagar, consegue apanhá-la. O universo não conspira contra as coisas se acertarem, ele vai atrás da borboleta dele, que é te fazer correr atrás da sua. Só que a forma com que ele a apanha é mais brusca, e pode acabar ferindo suas asas. Mas com o tempo você aprende a suportar a dor dos ferimentos.
Respira, espera. Acalma, aquece tudo aí dentro. Depois tu ajeita tudo, por enquanto só te cuida e não deixa o coração sufocar.