Ana Isabel Barreto Fernandes

A cegueira me traz inspiração. Ou talvez, ela estivesse sempre alí, e somente agora pude vê-la.

A calmaria se foi. Levou consigo o céu aberto.

Temos de intervir para que uma vela não se apague. No amor, com ou sem ventania, acontece o mesmo.

Não meço as consequências do que não posso evitar.

Pra existir, é necessário que se faça do certo o errado e tudo mais ao contrário.

Para se ter o mundo é preciso viver de maneira coerente. Viver da maneira mais coerente é ter um território, um ou mais carros, roupas caras e boas ou só caras, priorizar o dinheiro, a estética. É ter laços íntimos com os padrões, não ver beleza nas folhas no chão – pois elas nada são e nada podem te trazer. De acordo com o mundo globalizado, a coerência tem a ver com rotular, agir como máquina, não pensar muito para que não se chegue a grandes conclusões. Não há tempo para abrir um pote e saber o que há dentro (por isso os rótulos) porque tempo é dinheiro e capital é poder. Pra ter o mundo é necessário seguir padrões, pra ser amado é necessário seguir padrões, pra poder amar é necessário. O quê? Consumir, talvez. São esses valores que nos são transmitidos a todo o tempo, mas, falando como verdadeiro hipócrita que sou, estou decidido a não ter o mundo. Só um pequeno lugar no mundo onde a brisa seja muito forte e as noites silenciosas.