Ana Hatherly

Encontrados 19 pensamentos de Ana Hatherly

Que é voar?

Que é voar?

É só subir no ar,

levantar da terra o corpo,os pés?

Isso é que é voar?

Não.



Voar é libertar-me,

é parar no espaço inconsistente

é ser livre,leve,independente

é ter a alma separada de toda a existência

é não viver senão em não -vivência



E isso é voar?

Não.



Voar é humano

é transitório,momentâneo...



Aquele que voa tem de poisar em algum lugar:

isso é partir

e não voltar.

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente

A memória é
onde os sonhos adormecem
Despertando
abrem janelas no tempo

Inserida por Siby

"Descobrindo-se, o poeta personifica, representa. Nos melhores momentos descobre o que nem sequer encoberto estava, porque o que ele faz é ver a oblíqua eloquência ou o encanto do que, sem ele, não seria."

Inserida por Siby

quando o poema é bom
não te aperta a mão: aperta-te a garganta

Inserida por rtome13

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente

Inserida por pensador

Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.

Inserida por pensador

o poeta é um guardador

guarda a diferença
guarda da indiferença

no incerto
guarda a certeza da voz

Inserida por pensador

Parcialmente, a santidade consiste na capacidade de praticar transgressões bem orientadas.

Inserida por pensador

Era uma vez uma pessoa que procurava a sabedoria. Tinham-lhe dito que para a atingir tinha sempre de aceitar e recusar ao mesmo tempo tudo o que lhe fosse oferecido, dito ou mostrado. Quando perguntava por onde era o melhor caminho e lhe diziam «é por ali» ela devia seguir imediatamente nesse sentido e depois no sentido contrário. Tendo assim percorrido todas as direcções indicadas e as não indicadas, sem mais caminhos a percorrer, sentou-se no chão e começou a chorar. Sem saber, tinha chegado.

Inserida por pensador

Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come.

Inserida por pensador

Viver sem amor
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo

É contemplar o não-acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se transforma
No recinto
De onde tudo se mudou

Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos

Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
E nem isso se tem.

Inserida por pensador

Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.

Inserida por pensador

O poeta é um pintor do mundo invisível.

Inserida por pensador

O amor ama as coisas difíceis, por isso quem ama vive num permanente estado de impaciência.

Pensar o presente conduz necessariamente ao desespero porque a vida não tem outra solução senão perpetuar-se na sua imperfeição.

Quantas vezes nos sentimos extraordinariamente sós embora sentindo-nos felizes. O amor é impossível mesmo quando possível.

Quantas vezes não é através dos actos aparentemente mais inúteis ou supérfluos que o homem descobre a sua força?

Os grandes erros que se cometem na vida são erros recorrentes. É mesmo essa repetição o que nos define.