Amanda Seguezzi

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"Psicose:

De todas as loucuras da minha vida, tu foste a pior de todas. Aquela a qual mergulhei de cabeça sem me preocupar se o abismo era fundo ou raso, enrolei meu caminho no teu e não consigo desatar o nó que nos prende, te moldei em minhas mãos, agora as mesmas não aceitam ajustar-se em outros corpos, te fiz de areia e viraste um deserto no meu coração. Não sei ao certo o que ocorreu, mas ainda consigo sentir teu abraço, teu perfume, teu corpo colado ao meu. Escutar tua voz dissimulada soltando frases ininteligíveis a outros ouvidos, tu brincando com o meu cabelo, brincando com a minha mente, meus sentimentos, minha loucura. Estás no sol num fim de tarde, numa música, numa valsa.. Toma conta dos meus pensamentos, dos mais secretos e pervertidos aos mais doces e sublimes. Estás na poltrona vazia ao meu lado no cinema, no reflexo do céu, num domingo chuvoso, numa festa sem graça, no meu coração.. Enfim, ao fim, decidiste me guardar na tua gaveta, como um artigo de luxo de uma coleção limitada, ao invés de me expor na prateleira da tua alma, transformou fogo em brasa, e fez do sentimento bom um caos. Não quero te entender, muito menos complicar tua vida já tão complicada, mas sinto tua falta. Isso não é motivo suficiente para que o tempo volte, se fosse, eu já teria perdido a conta de quantas vezes as cenas se repetiriam. De novo, de novo e de novo. Desafiando meus princípios, desencorajando minha loucura. Ah essa esquizofrenia de te ver em cada canto, mirar teus olhos denunciando uma intenção que nunca sei ao certo desvendar, levando-me ao precipício da alucinação, onde, de olhos fechados eu caminho pelas beiradas. Até gosto. Gosto dessa sensação de te perder, é a linha tênue entre sempre querer conquistar-te e conseguir, é um troféu que não posso exibir, é o meu melhor devaneio, meu maior segredo, quiçá o remédio contra a sanidade. Sim, sanidade, todavia, por mais que eu queira fazer parte da realidade, teu mundo me puxa, tirando meus pés do chão. Teu sorriso é a única anestesia de que preciso para flutuar. Teu gargalhar, ah, esse o melhor de todos os remédios, faz notar que minha loucura condiz um pouquinho com a tua, fazendo com que eu perceba que é na insanidade que teus beijos são mais doces e teu abraço me pacifica. Melhor que anestesia, é perder os sentidos enquanto tua pele percorre a minha e ainda ter a capacidade de sentir o calor do teu corpo. Narcose? Talvez, mas amor não, amor nunca. É palavra proibida, isso sim é droga, demência e realidade. É traficado sem autorização e paralisa todos os sentidos, fazendo com que não se sinta nada. Prefiro assim, sua loucura com a minha, num mundo paralelo formado por um sentimento sem nome, sem definição, que não conste em dicionário algum. É paranoia, é ansiar por algo que não existe, é ficar sem a cura. É onde posso provar que "pode-se morrer de amor e continuar vivendo" beirando o caminho sensato, a rotina, tão entendiante e sendo lúcida. Não sendo eu. Me sinto deslocada, eu sei que não sou daqui. Sei que não é aqui que eu tenho que estar.."

- Perdida num mundo onde quanto mais são, mais louco se fica, ganhando experiências e perdendo tempo, perdendo tempo longe de ti.

"Sempre fui daquelas que prefere uma metáfora a um clichê, contudo não sei se o melhor seria um olhar angelical teu ou um beijo na chuva. Dizem que se pode escolher entre o que fica e o que desaparece, mal sabes que eu faria de tudo para que tu pudeste permanecer. Mas decidiste ir embora e levar contigo parte de mim. E assim estou, desamparada, sem inspiração, sem muitas expectativas e aguardando as derrotas com pouco anseio. Estou com o coração quebrado e um buraco na cabeça, nele está escuro, o silêncio que preenchia o espaço entre o que eu penso e o que eu digo agora grita, chama teu nome, em vão. É estranho te cumprimentar como um desconhecido, quando o que eu mais queria era pegar na tua mão e não soltar nunca mais. No brilho do teu sorriso fiz um mapa, quem diria que eu me perderia neste caminho de ilusões cintilantes? Tu és o espaço vazio na minha cama, o reflexo do céu,sempre fresco e perigoso, como a madrugada; a estrela cadente, que ao passar discreta, apenas faço um desejo, uma vez que não posso tê-la. O teu coração é o único lugar que eu me atrevo a chamar de lar, e eu estou lá, bem no fundo, trancafiada, esquecida. É um lugar sombrio, teu passado ecoa pelos corredores da tua alma e te faz pensar em não sofrer mais, te faz acreditar que não é digno de amar outra vez. Está errado.Tua alma complexa, é crepúsculo, nunca aurora. É fria. Apagaste as estrelas, a Lua e não deixaste por nada o Sol entrar e irradiar tua essência tão bela, te fez escravo dos próprios pensamentos e estabeleceu princípios irrelevantes a tua própria forma de opressão. Onde está tua verdade? Onde tu a esconde? Medo é um sentimento criado para ser desafiado, portanto, o faça! Entre mil rostos e indecisões, me escolha, quero levar-te do inferno ao céu em apenas um segundo, dizer que, tu me chamas de anjo, mas ainda sim imagino se doeu muito ao pousares aqui. É cobiça. É pecado. É excesso de esperança. É querer o bem, querer o mal, é simplesmente querer. Só estou cansada das falsas promessas e mais ainda de dedicar cada misera frase ao teu descuido para com o meu amor, que obviamente não te importas nem um pouquinho em perder. Bem, chega de metáforas tolas, velhos poemas, e todas essas babaquices hiperbolizando os sentimentos "ruins". Eu já não aguento mais esse incômodo nos olhos, algo querendo escorrer. Como café amanhecido, me disseram que era amor não correspondido, que não se requenta sem se conserta. Eu não nego meus sentimentos, apenas os coloco em um potinho de vidro para que nunca se dispersem, e claro, podes roubá-lo de mim quando quiser. Entretanto, não estás preparado para cuidá-lo, ele é quebradiço, incompreendido e, por mais que eu não queira, todo teu. Sei lá, só acho que tudo se descomplica quando a gente se beija. E proferir que ainda te amo mais que tudo, é a coisa mais clichê e a mais verdadeira que eu poderia guardar a sete chaves no coração. Aí guri, por que não me beija na chuva e liga de madrugada dizendo que sente minha falta? Ai, ai! Pensando bem, adoro um clichê. Adoraria mais ainda se pudesse criá-los e recriá-los contigo. Por agora, utopia."

"Queria sentir de novo aquela adrenalina que me inundava ao fugir de madrugada ao teu encontro sem saber exatamente para onde iríamos. Queria sentir de novo aquele beijo doce tão amargo de recordações tristes só para me certificar, pela milésima vez, de que nosso gosto agridoce ainda é o meu favorito. Queria que fosse possível catar todas as ilusões em que me fizeste cair e, com elas, construir uma ponte a qual interligasse meu coração ao teu. Queria te dizer que o teu sorriso me deixa mais feliz que um feriado no meio da semana e que se for pra ganhar na mega sena, quero meu prêmio em forma de beijos teu. Queria que saudade fosse o nome do nosso animalzinho de estimação. Queria te fazer passar vergonha em meio ao público, elaborar uma declaração de amor, gritar para os quatro cantos do planeta que todo o teu encanto me pertence e só eu posso dormir com o teu moletom. Queria te mostrar que o céu é infinito, porém nada tão arrebatador tanto ver-te dormindo ao meu lado num dia qualquer. Queria te dizer que o brilho de uma constelação não equivale ao lampejo dos teus olhos mirando os meus. Queria poder te explicar que se cada pequena estrela fosse uma forma de demonstrar meu afeto por ti, o universo seria insuficiente para defini-lo. Queria salientar ao mundo que tu não me enlouqueces apenas quando puxa-me pela cintura, mas também quanto finge indiferença pelo simples prazer de provocar. Queria ter a coragem de confessar que os arrepios não são causados pelo frio quando nossos corpos interagem e nossas almas se entrelaçam. Queria calar-te com um beijo, alegrar-te com uma valsa, acalentar-te no inverno frio, mimar-te na primavera, abusar-te quando verão. Amar-te em todos os dias até o último do meu calendário. Te chamar de esfinge, desvendando tua mente, descobrindo o teu corpo, solucionando as charadas da tua alma, embalar-te como se fosse uma velha música suave e calma, levar-te comigo para qualquer lugar como se fosse brisa. Queria.. Partindo do pressuposto de que "Querer não é poder" , vivo das lembranças de um passado bom, presa no silêncio que o teu carinho genérico proporciona. Um caminho torturante de promessas ilusórias, palavras antecipadas e intenções subtendidas. Se ambicionar é real, prefiro suplicar o devaneio do meu pensamento infame. Te trazendo pra mais perto, sendo desonesta com os sentimentos novos deixando os antigos fazerem um carnaval em meu coração, redigindo uma orquestra de situações corriqueiras, impossíveis e sinceramente, abismada pelos detalhes irônicos inventados. Entretanto feliz. Minha felicidade paira como uma droga, alucinógeno dotado de nome e um sorriso lindo, onde o torpor é constante, a dormência é inebriante e a injeção é letal.."

"De um modo geral, todas as minha conversas mais produtivas traziam consigo uma generosa quantidade de álcool no sangue. A sobriedade nunca me caiu bem e, certamente, as melhores teorias, as quais encaro até hoje, foram criadas no meu pior momento de frenesi. A solidão caminhava por entre as ruas constantemente ao meu lado, entrelaçávamos as mãos e raramente decepcionava-me. O silêncio era bom, a madrugada era fresca, perigosa e pela primeira vez na vida eu não precisara dar satisfações a ninguém do por quê estar caminhando sem rumo aquela hora. Talvez o ato mais falho do ser humano seja esse, procurar amor numa dose de álcool, esperando um milagre, uma morte súbita, um subsídio repentino. Esperando, esperando. Esperar.. Confinar-se na fachada da aparência, bordando traços de um vazio trivial, constituindo máscaras, expandindo muralhas, encobrindo rastros, cultivando declínios e ocultando emoções. Através de um silogismo fraco, deparo-me com a conclusão óbvia de que nascemos para almejar, aguardamos a fase boa, a ruim, a péssima, somos constantes pessimistas; seres inanimados consumidos pelas horas de felicidade. As minhas eram essas. A calmaria era primordial, assim como a ausência de som sucumbia as distrações. Álcool é coragem líquida, cronômetro disparado, conselheiro mórbido e dissociativo. Procurei nos bolsos do casaco alguma senha ou comprovante que confirmasse à minha consciência de que minha hora de sucesso chegaria, porém não o encontrei. Deveria existir algo do tipo, um breve rascunho do futuro. Certezas! Até que este dia chegasse eu ansiaria, definharia. Alucinar sobre espaço e tempo fazia o mesmo rodopiar rapidamente. Em parte era revigorante. Era. Frases sobre o tempo que cura tudo já não fazem mais efeito sobre mim. Quem sabe, expectar a metamorfose das ideias era algo de nascença e presente no subconsciente humanitário. O que é desvantagem em qualquer meio. Expectativas em algo ou alguém é falta de juízo, é o serial killer das probabilidades, tal qual Esperança é o nome de um penhasco escorregadio. Presenciei em várias situações a nunca colocar fé em nada e nem ninguém. Num mundo onde empatia e álcool estão sempre em crise, nascer com um coração e um fígado já era um dano auto destrutivo. Morre-se por amor ou por cirrose. Dane-se, lobotomia doía e o elixir da amnésia imediata constantemente era fundamental.."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Penumbra constante, dissipando a memória, sugando as esperanças, desafiando os sonhos bons. Abismo de ilusões, buraco negro de situações errôneas e obscuridade leviana. Neblina negra que obstrui o elemento "força de vontade" e incendeia a serenidade."
Escrevi este verso em uma capa de livro há alguns anos, lendo-o hoje, percebo que minha opinião não mudou uma vírgula sequer. O amor é aquela praga que infesta plantações, corrói folhas, apodrece as raízes da sanidade. É aquele relógio parado. Agoniante. Felicidade provisória tal qual egoísmo é o vírus expansivo pertinente. Cada gota do temporal é uma lembrança e cada dose é uma ressaca de recordações. Amor é aquela religião inventada pelos fracos, de auto-confiança escassa, incapazes de sustentar-se em seu próprio eixo. Se fosse algo bom, nasceríamos costurados em nossa alma gêmea, usaria-se rédeas e grilhões. Entretanto, veja bem, num sopro de bom senso, obtém-se o direito de escolha, constando que seguir em frente é sim opcional.
Perder-se em um vício ou aliar-se à ele? Eis a questão.
Ser uma pseudo escritora falida levava-me a flertar com o garçom do bar toda sexta à noite. Enquanto servia-me, imaginava quantos desgraçados ele conhecida todos os dias, se era alcoólatra ou procurava libertinagem a cada noitada.
"Eu deveria trabalhar num lugar assim." - Pensei.
Meus versos de falso amor para uma pessoa falsa de nada valiam, todavia um depósito de destilados me cairia bem. Pelo menos em algo bom isto é lembrado, neste mundo tão vasto, existem mais órgãos compatíveis do que pessoas adaptáveis. Dissimular sobre estes assuntos tão moralistas era como repelir qualquer tipo de bons fluídos, estes que ainda compõe uma pequena parte do mundo. Ao invés que aumentar minha capacidade filosófica, envelhecia-me uns 20 ou 30 anos. Eu não deveria ficar tão surpresa com essas situações que encontram-se em constantes modificações. Sentimentos se perdem quando a consciência é imposta.
Cada segundo passado pelo ponteiro do relógio incita teu nome, porém eu o enfrento, desafiando o estado inerte de minha alma. É revigorante. Ao invés de um surto, trepidando-me emocionalmente, sento diante de minha velha máquina de escrever, desenvolvendo a crônica mais ingênua possível e parando bruscamente no clímax, aquele onde decidistes atravessar porta à fora, deixando-me sem ao menos um tostão de felicidade. Tão clichê. Outra tentativa. Flagrei-me mais uma vez ironizando os fracos sentimentalistas que por aí estão. Sentia-me um pouco mais contente. Sentia a onda forte de hipocrisia inundando meus limites e expondo feridas adormecidas. Sensação vaga essa. Nada que uma sutura de alegrias momentâneas não resolvesse. Por ora.."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Quase toda manhã, compro um café e sento na praça para apreciar as pessoas. Elas são engraçadas, passam correndo, gesticulando, falam alto ao telefone, meio lesadas. Não parecem possuir sentimentos muito menos problemas. São máquinas auto destrutivas e, de certa forma, isto me transmitia segurança, alívio e até receios. Os imaginava em um tabuleiro de xadrez. Os enamorados são as primeiras peças eliminadas. Eu os repudio. Essa felicidade genérica em suas expressões é tão momentânea e superficial. Excepcionalmente hoje, observar os pássaros parecia-me imensuravelmente mais interessante. Observem-os. Tão livres e coloridos, o maior de seus problemas é migrar no inverno para um lugar tropical.
Ah o calor!
Contudo, a parte mais aguardada era às 10hs, a saída da ruiva misteriosa da livraria, tão bonita e despreocupada. Se a mesma fizesse parte do jogo, certamente seria a rainha, ao julgar pelo livro de Jack Kerouac apertado entre seus braços. Da loja até a esquina mais próxima, ela desfilava uns cinco metros, parecia tão decidida e firme. Eu gosto de admirá-la, como um irmão, um avô, até mesmo como o pai dos seus filhos. Eu poderia esbarrar nela propositalmente e elogiar sua escolha literária, perguntar se passou pela prateleira dos livros menos procurados e encontrou o meu por lá. Arrumaria um emprego na livraria e a indicaria Bukowski, colocando um bilhete entre as páginas, tal qual sendo um convite para jantar. Em meia hora de conversa, ela me acharia um cético fanático, mas iria rir sobre minha forma de ver o mundo e soltaria frases de Nietzsche para que nossos assuntos entrassem em sincronia. Nos viciaríamos um no outro. Ela me conheceria bem e eu decoraria o aroma que ela traz. Entretanto eu sempre ansiaria o fim. Quem sabe a ruiva era uma engenheira ou professora, será que se importaria em casar-se com um escritor falido e sem ideias? Eu ficaria cego por seus encantos e até arriscaria compor o poema amoroso mais babaca, todavia o mais apaixonado que poderia ser feito.
Mas qual é a cor daqueles olhos?
Podem ser aquele tipo de arco-íris fatal, um carnaval tão convidativo, tão belo... Armadilha tão tentadora. Quem sabe se ao invés de ficar bebendo nas madrugadas de insônia, eu a observasse dormir. Quantas aleatoriedades levariam-me a arrastá-la ao melhor restaurante, ajoelhar-me diante dela e falar durante dez minutos sobre o quanto a admiro, persistindo na certeza de que a tal ruiva é sim o meu amor pra vida inteira.
Mas como se nem ao menos sei o nome dela?
Ainda desconheço o melhor método de indagar alguém. Qual é a melhor forma de tentar uma aproximação imediata se eu não gosto de apertos de mão e beijinhos no rosto me deixam nervoso? Reflito por mais alguns minutos e percebo a inutilidade de todo este esforço.
Poderíamos brigar, eu sairia bravo, poderia sofrer um acidente. Posso passar mal e descobrir que tenho apenas alguns meses de vida.
É. Não vale a pena tentar montar esse quebra-cabeças de cinquenta mil peças.
Existem pessoas que despertam nossos interesses, sentimentos confusos, estranhos. Convive-se com ela por um determinado período e é obrigado a admitir que o cachorro é sim o melhor amigo do homem. Passa um tempo, sofre-se o suficiente até chegar ao extremo de conhecer outro alguém. É o ciclo interminável da incapacidade de ser só. O medo maior é morrer sozinho, mas é sempre assim. Tenho que me acostumar com despedidas, trens partem o tempo todo, assim como os pássaros que acabam sempre voltando aos ninhos. Não importa o que aconteça, eu estarei toda manhã sentado na praça com o meu café amargo, contemplando o retrocesso humano.
Até o dia do xeque-mate..."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Entre tantos medos que me afligem nenhum deles compara-se ao pânico do passado. Aquele veneno doce, sublime e passageiro. Ah o passado. Quem me dera repetir momentos que nunca tornarão a suceder. Quem dera não tornar-me o que sou hoje. Ah lembranças. Que tanto machucam, que tanto ardem. Passado é aquela música chata que não sai da cabeça, é aquele zumbido pertinente no ouvido. Uma luz no fim do túnel que nunca parece chegar.
Ah os ecos derradeiros do pensamento. Esse aperto no coração que não decide em ser certo ou errado. Ah essas palavras soltas em frases imprudentes cercadas de intenções fúteis, entretanto tão confortáveis quanto um manto quente no inverno. Ah essa tristeza que me consome e me atormenta, mudando minha percepção de "tempo e espaço", difundindo minha personalidade e desencadeando detalhes antigos até então nunca observados. Ah aquele último abraço que não parecia ser definitivo. Talvez nossa almas fossem como aquele whisky envelhecido que melhora ao longo dos anos, distinto, raro e melhor avulso. Ah bebida. Meu estado de tristeza era basicamente como ir à festa e beber socialmente, eu escondia meus piores vícios numa máscara de porcelana. Sorriso no rosto, vestida com a audácia de um lobo, coberta por um manto de individualismo e de expressão tendenciosa. Escrúpulos não me moviam mais, contudo sempre era capaz de esquecer o esquecimento e afundar-me aquele mar de desalento inebriante. Ah o dom da memória seletiva. Amnésia nunca fora tão bem-vinda, dei dois tapinhas em seu ombro e a convidei para beber comigo.
Eu gostava de sentar na mesa de bar e observar o gelo do copo derreter, o que constatava minha teoria de que tudo que é sólido pode deformar-se e deixar de existir, que nada dura.. Gostava também de ouvir de estranhos histórias de amor que não deram certo. Era engraçado, as pessoas que quase nunca sabiam ser sinceras, quando baixavam a guarda, raramente dialogavam olhando nos olhos. Ah o corpo que tanto fala, sinais tão imperceptíveis que fazem toda a diferença. Toque no seu local mais sensível e descubra que o ponto G está nos ouvidos. Você também adquire conhecimento ficando de boca fechada e prestando atenção nos erros dos outros para não cometê-los futuramente. Mas sempre os comete.. Os contos são sempre os mesmos, porém com personagens diferentes que já tentaram alguma vez criar um mundo perfeito e esporadicamente o conseguia. Assista de camarote essa estrutura se romper e sinta o sentimento de viver de ruínas antigas. Ah esse labirinto inacabável de rancor e felicidade, onde o paradoxo é visível e a utopia é um quadro bonito e intocável. Ah essa loucura de não conseguir desvencilhar-se dos trilhos do sentimento, dos mapas desse sorriso traiçoeiro, de um olhar incisivo e vazio. Amor é tudo o que não é. Amor é só uma palavra que, dependendo das escolhas, altera o sentido da vida. São as palavras que machucam, as suposições que agonizam, que colocadas de má vontade acarretam lembranças com o dobro da vivacidade com que aconteceram. A memória, essa sim, inimiga frequente que te encara com um sorriso malévolo no rosto. Quero desatar todos os nós que nos prende, assim como aquelas manias já irrevogáveis. Vontade de queimar aquele colchão que ainda traz teu cheiro, me desfazer do passado que insiste em aparecer por aqui de vez em quando. Devolva-me, me quero de volta. Eu só não preciso de maus conselhos. Assim como qualquer ato que conecta minha linha de pensamentos com a tua teia imaginária de falsas ilusões não existe mais. Não posso mais ser aquela menina má que quebra as barreiras do esforço involuntário para visitar-te nos teus sonhos quando você bem quer. Tenho que me comportar. O inferno ficaria pequeno demais para nós dois..."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Por mais sem sentido que fosse, eu simpatizava muito com a ideologia de esconder-se num mundo irreal e imaginário. Nele eu invento. Sou rainha, dama da noite, a peça que se encaixa em todos os quebra-cabeças. Nele eu te moldo. Reestruturo tua sensibilidade e altero o status da tua liberdade. Nesse mundo perfeito, viajamos através das cores do arco-íris e Sofrimento é o nome de um reino distante. Aquela valsa só não é mais bonita que o pôr do sol refletindo a cor do teu olho, aquele sol não é tão mais puro quanto o sossego entorpecente que tua presença me traz. Entretanto nunca saberás deste lugar. Não correrás comigo na chuva de algodão e não saberás que as flores do campo se abrem devido ao teu sorriso e não por culpa da primavera. Neste espaço, te esculpo em mil faces, mil trejeitos. Te sequestro de mil maneiras, te roubo, me envolvo precipitadamente, contudo não me precipito em querer-te tanto só pra mim. Ficas perdido em meus labirintos, na trama dos meus cabelos e nas curvas do meu corpo.
Apenas te perco quando desperto. Meus dedos sempre dançam nas teclas da máquina de escrever, enquanto te desenho com minhas palavras. A realidade é perturbadora, assim como aquela saudadezinha que bate na janela de madrugada de vez em quando. Eu não me adaptava a isso tudo, só assim eu pudera perceber que as ilusões escaparam pelas frestas do pensamento e assumiram um papel real. Era engraçado como eu amava sozinha. Era engraçado alimentar um animal sedento por afeto, atribuindo qualquer pequeno gesto como um sinal de esperança serena. Realidade é olhar para uma estrela cadente e querer desejar qualquer coisa, no entanto sempre acabar comparando o sorriso dele com o brilho de uma constelação. Inevitável não pensar. É dançar conforme uma música desregulada onde sabes que os passos estão errados, mas sabes que não se pode modificá-la ou trocar o disco por não seres tu o ser dominante. Queria reviver aquele ensejo onde não precisava visitar esse mundo paralelo com frequência para sentir teu semblante, aquela ocasião onde eu não precisava decorar o teu cheiro e lembrá-lo todo dia, pois eu podia senti-lo a cada madrugada quando estavas ao meu lado. Ah que frenesi. Te desfaz nos meus braços de novo e me mostra que o infinito é quando nossas almas entram em sintonia e se reconhecem. Infinito era aquela tatuagem discreta no antebraço que ele possuía. Era como eu definia aquele pequeno instante que passava mais que depressa. Era como se perder num universo colateral e não se importar se a eternidade perpetuasse. Era veracidade e virou quimera. Era exatidão e transformou-se em teorias impraticáveis. Aquilo que existe de fato nunca fora bem-vindo, converteu-se em infortúnios cercados de linhas cruzadas e reviravoltas inimagináveis. Quem diria que trazendo nosso mundo à baixo eu conseguiria sorrir amarelo para as possibilidades reais da vida? Mas é assim mesmo, ninguém se alimenta de presenças e lembranças não te fazem respirar. Não tem volta e eu já me conformei. Faço do teu silêncio um argumento e da tua ausência um contrato com o sossego, enfim."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Essa é mais uma daquelas histórias sem final feliz, uma vez que ainda não teve fim. Mais uma história quanto tantas outras que vagam pelo universo, cercada de caminhos cruzados e situações antagônicas.
Não lembro ao certo como começara o envolvimento entre Maria Beatriz e Pedro Henrique, e não faço muita questão de recordar. Creio que fora em uma festa a qual ele se interessou nos fios do cabelo loiro dela e ela se encantou por aqueles olhos verdes. Trocaram telefones, toques imperceptíveis e risadas esbaforidas. Ele a convidou para uma bebida em seu apartamento, contudo pela primeira vez, sentia-se estranho por não invitá-la com segundas intenções. Maria Beatriz lembrava sua ex-namorada, todavia possuía um certo mistério que a tornava interessante e diferente das outras. Ela, por sua vez, não era aquele tipo de garota fácil que aceitava visitar o apartamento de um desconhecido. Mas algo a instigou a ir. Pelo meio do caminho discutiram sobre o melhor álbum do Metallica e ela ria descontroladamente pela mania que Pedro Henrique tinha de fazer sons estranhos com a boca quando faltava-lhe assunto. Subiram as escadas em silêncio e ao chegar na porta de número 13, Pedro Henrique a encarou por alguns segundos. Maria Beatriz sentia-se incomodada com encaradas bruscas, tomou a liberdade de virar a chave e abrir a porta como se frequentasse a casa de um velho amigo, gostou do que viu e surpreendeu-se com a organização do tal local. Em meio a vinhos e risadas surgiu aquele tipo de envolvimento manso, e de certa forma estranho, dócil e fugaz, deixando aquela sensação de querer novamente. Maria Beatriz acordara cedo e não sabia exatamente como agir com o menino que dormia ao seu lado. Que angelical. Ela queria poder sair correndo ou que o chão se abrisse no meio do quarto. Será que ele gostava de café na cama? Não Maria, não. Ela queria poder voltar a esse espaço em alguma outra oportunidade, então "esquecera" o casaco propositalmente em cima do sofá laranja. Passou-se um tempo. As visitas eram constantes, assim como as idas ao cinema, restaurante, shows, peças de teatro, enfim. Era um mundo novo para Pedro Henrique, Maria Beatriz era como aquela amiga de infância que ele nunca tivera, era aquela amizade colorida a giz-de-cera, meio borrada e com traços não tão definidos assim. Ela pensara em esquecer o casaco novamente no apartamento dele para assim ter sempre um motivo que a fizesse visitá-lo e cuidá-lo. Mas ele era mais esperto, preferia que, ao invés de esquecer o tal casaco, ela pudesse se esquecer um pouquinho por ali. Era tudo uma grande brincadeira. Com o tempo, ela pegou a mania dele de dormir com os pés descobertos, já ele, não passava mais nenhum domingo sem ouvir Florence and the Machine no volume máximo. Ah esse circulo vicioso de imperfeições que unidas formam um ser quase perfeito. Ele gostava do cabelo dela bagunçado pela manhã, entretanto gostava mais quando o mesmo fazia a bagunça. Maria Beatriz vestia suas camisas e ficava abismada com a capacidade dele de jogar as toalhas molhadas em cima da cama. Não, eles não moravam juntos, muito menos tinham algum relação.
Ela tinha medo de que ele não conseguisse explicar o que ela queria entender, ele tinha receio de que ela entendesse o que não tinha explicação. Amor? Não. Era um esquema mais simpático. Amor se finda, amizade permanece e cumplicidade, essa sim atravessa as barreiras de um relacionamento comum. Eles sistematizavam a fidelidade como uma camada fina de emoções momentâneas. Utilizavam-se da lealdade como quem respeita a pureza de uma criança inocente. Trocavam segredos, experiências sem sucesso, mas nunca sentimentos mais fortes, era a regra numero um da boa convivência impessoal. Maria Beatriz e Pedro Henrique nunca tiveram seus nomes marcados em uma música do Legião Urbana e tampouco combinavam. Eles se perdiam em outras pessoas, mas rapidamente conseguiam se encontrar em um abraço quente. Maria Beatriz não sabia o por quê de ser obrigada a ir ao pequeno apartamento, naquela vila tão distante em outra cidade para conseguir paz de espírito. Talvez o "13" estampado na porta era seu número favorito e a outra cidade seja mais receptiva e tranquila. Ou só talvez, passar algumas horas com aquele amor-amigo servisse como uma terapia de choque, que por enquanto ainda não doía. Por enquanto.
Eles dois eram como aquela mágica de encontrar um novo sinônimo para a palavra Amor a cada olhar que trocavam. Mais do que flechar seu coração, ela alcançou sua alma e acomodou-se por lá. Quem diria hein Pedro Henrique. Quem diria que seu coração bateria mais forte pela menina de sardinhas no rosto..”

Inserida por AmandaSeguezzi

Lugar Nenhum, 04 de janeiro de algum instante
Sexta-feira

Querido Alguém,

jurei que era amor só de segunda à quinta-feira e aqui estou eu te envolvendo em mais um dos meus contos. Pitoresco. Sabe quando você se apaixona por um traço de uma expressão ou um flerte despercebido? Paixão está nos detalhes e nas impressões subtendidas. Era como compreender as particularidades de alguém sem o melhor esforço, sem a menor explicação. Paixão é aquele afeto violento que limita as barreiras da fofura e desafia uma dupla, quem sabe tripla personalidade. Achei que tinha lhe cativado de alguma forma, contudo você conseguira o feito que abandonar-me sem ao menos ponderar os erros e certos olhando para trás. Não sei de fato o porquê de escrever esta carta-conto-desabafo, só peço que não cometa o mesmo equívoco futuramente. Apaixone-se pelas coisas imperceptíveis à olhos pouco sentimentais. Apaixone-se pelo modo como ela dança desregulada, por sua postura incorreta, a forma como ela destrói uma pizza em meio segundo. Não ria dela, ria com ela. Seja o motivo de todos os sorrisos dela. E agradeça. Ela era isso tudo aquilo que você não esperava, não é? Ela conseguia reunir os defeitos mais bonitos e as qualidades que você não chegara a cogitar nem em um ser perfeito. Era a sua dona, sua imoralidade, sua pequena. O olhar brilhante dela só caía nos seus. Ela te abraçava apertado e tudo ao redor decidia reagir à la câmera lenta. Mesmo que você tenha pseudo-amado, ou até mesmo que não tenha a menor noção do significado do termo "apaixonar", nunca deixe isso se perder. Desfecho trágico este nosso. Você me conhece, meu bem. Sou daquele tipo de pessoa que supera o medo de altura para alcançar o brilho da estrela de alguém. Faço das nuvens escadas e do arco-íris uma passarela que me permite chegar nos limites dos teus sonhos. Mas eu sou educada. Limpo os pés. Bato na porta. Peço licença. Só depende de você me deixar prosseguir ou não. Foi o que infelizmente não me deixasse fazer. E eu lamentaria se soubesse que nunca irias encontrar sua metade. Mas sei lá né, sua alegria entrava em harmonia com a minha, o que não pareceu suficientemente um argumento convincente. Sabe o descontentamento? Ele existe, está encoberto em algum traço desses rostos desconhecidos que tanto vemos. Gostaria de saber ler expressões, entretanto nunca fora boa nesse tipo de arte. Nunca tive sensibilidade muito menos paciência para aflorar esses aspectos disfarçados. Mas tem sempre alguém o qual você consegue ler a alma, essa sim a melhor de todas as leituras. Geralmente é aquela pessoa a qual não precisava saber muito para que os olhos transpassassem tudo. O tempo passou e eu praticamente fiquei analfabeta nesse quesito, o qual não me orgulharia nem se conseguisse um prêmio Nobel. Se eu soubesse, nunca teria sequer cogitado em desvendar essa casca que afasta sua índole da sua exterioridade. Arrependimentos. Mas é desse mesmo jeitinho que tem que ser, meu bem. A alma só engrandece quando o incentivo é maior. A gente só segue em frente se perceber que não se emburra com a barriga o que deveria ter vida própria. Sua mente é como um labirinto infinito que cansei de explorar. Culpa sua, não minha. Você não se permitiu ficar. E estamos bem. Talvez um dia nossos corpos se esbarrem, nossas almas entrem em confusão de novo. Você me diga que está tudo certo, que o tempo nos fez bem, que deparou-se com a feição enamorada funesta, todavia pura e verídica. Que não sente minha falta, que o café dela é o melhor. Poderíamos ir à um restaurante como bons amigos de velhos tempos. Você me falaria o quanto está feliz e inevitavelmente eu ficaria feliz por isso. Você iria embora e eu choraria por dentro. Mas ninguém precisava saber. Não compreenderiam um gesto, tampouco um sentimento tão bonito e ao mesmo tempo tão singular. Entretanto não encaro isso como um borrão do passado ou um reflexo do presente. Entre traumas e remorsos esse é a última vez que lhe dirijo qualquer verso. Seja leve e perceba um mundo colorido. Você já me fez flutuar uma vez e eu caí em letargia. Não cortarás minhas asas de novo."

Inserida por AmandaSeguezzi

“Reza a lenda que o teu abraço se encaixa perfeitamente no meu. Que a nossa risada possuí as mesmas notas desafinadas e que tua cama traz exatamente as marcas do contorno da minha cintura no colchão fino. Há quem diga que nosso humor é compatível e pertinente. Especula-se também que felicidade é uma palavra facilmente colocada naqueles fins de tarde de um passado infelizmente não tão distante. Dizem também que teu sorriso é mais largo quando estou por perto, que alguma força paralela nos ilumina quando nossas mãos se entrelaçam e saímos mundo à fora despreocupados. Indagam também que da tua casa até o infinito, construímos uma ponte multicolorida de felicidade e que à cada passo descobríamos uma cor a mais no arco-íris. Há quem diga que teu olho brilha enquanto me sonda e que meu coração salta pela boca quando ouve a tua melodiosa voz. Há quem articule que nossa alma engrandece quando pensamos subjetivamente e que de todos os mistérios das galáxias, o inexplicável ainda era o fato do veneno da tua boca chegar brando em meus lábios. Falaram que eu sou aquele trago de histeria que você procura em tudo que é lugar e que, pra mim, és uma anestesia errante. Apenas falaram, pena que você não escute anjos. Pena que só percebi o quão sutil eram nossas atitudes tarde demais. Pena que nos distanciamos justamente quando parecíamos tão iguais. Tente ouvir os anjos, eles dizem que a sina de todo caminho curvado tende a se cruzar. É celestial, ter medo de um futuro que até então não existirá. Pega esse teu braço e envolve na minha cintura, rapaz. Se só segurando a minha mão já poderíamos encarar o mundo, imagine tu equilibrando meu corpo e confortando minha alma como apenas tu consegues fazer. Ah. Cosmos é um cubículo de dois metros quadrados quando nossos sonhos se permitem conviver entrelaçados. Ouça, ouça os anjos. Eles acham engraçado o modo como meu pensamento alvo e o teu negro criam uma explosão de sensações sem sentido. É irreal. Estou de mãos atadas, com orgulho ferido e de olhos vendados, todavia eu ainda ouço os sussurros. Trate de ouvir os anjos moço, eles não são nada mais nada menos do que teu coração palpitando para onde queres ir. De onde nunca deverias ter saído."

Eu esperei.
E comigo a janela, a calçada, o portão. A casa esperou. Ansiosos pela chegada. Sonhei com a presença, meditei na conversa, envolvi minhas mãos no vazio. Falei ao vento, mirei-me ao sol, sorri para a nuvens brancas. Brinquei com a primavera, e chamei, chamei...
A chuva caiu e a tristeza com ela chegou, eu estava eufórica, ria da chuva, das poças que se formavam. E, no entanto, eu não te vi. Meus olhos vagavam, minhas mãos buscavam.
Eu não te vi.
Olhei pra tua janela e nada, nada de ti. Senti teu perfume que na minha mente se fez de homem, poesia e nós. Embriagava-me a vida. Mas não te vi.
Espelhei-me em vitrines, vi teu nome em diversos cartazes, soletrei letra por letra, cada uma com um carinho intenso, procurando gravar em cada uma as parcelas do meu sentimento. Em cada porta aberta tua pessoa era uma pergunta sem resposta. Um ponto de interrogação disperso em um vazio imenso, as beiras de um precipício insondável.
Meio sem jeito, olhei para o lado. Sorri. Pisquei. Não iria chorar, deixaria as lágrimas pra mais tarde. As paredes do meu quarto, os móveis, o silêncio, seriam testemunhas de mais uma desilusão.
E eu não te vi...”

Inserida por AmandaSeguezzi

“ – Na melhor das hipóteses, eu não te esperava

O entardecer era sempre uma incógnita. As horas passavam, sucediam-se perdidas em milhões de pensamentos que não eram, nem poderiam ser traduzidos para o real. O sol declinava lentamente, acompanhando a espera. Querendo presenciar o encontro, as nuvens passavam rápidas, uma empurrando a outra. Todos queriam ver.
O encontro não se deu.
Não ri. Nem chorei. Senti um vazio imenso, como se alguém absorvesse tudo de bom que eu tinha.
Na melhor das hipóteses, eu não te esperava.
Sentia-me leve, caindo sem ter um apoio, um chão, um fim para a descida.
A casa tornou-se grande e a minha solidão ecoou em cada canto dela. Ouvia. Conseguia perceber os lamentos que por ali perambulavam. As paredes estavam impregnadas de desilusões, alimentando-se das alegrias que antecederam ao encontro.
Que não se deu.
Andei de lá pra cá levando a solidão e a amargura. Foi então que minha amargura contida de repente explodiu em fases distintas e desconexas. Era um riso escabroso, um choro enfurecido, imprecações injustas. Briga com tudo e todos. Pisei na flor que se abria cálida para o orvalho. Desabafei em prolongadas falas, gestos carregados que denotavam tudo o que tinha de você em mim. Senti desejos arrasadores, explosão de ser o que não era. Desejei transpor o invisível que, aos meus olhos, eram enormes e insuperáveis. Eu sinto falta do inexistente. Do sonho que não consegui sonhar. Do amor que nunca tive. De um passado ausente.
A espera que virou espera.
Na melhor das hipóteses, eu não te esperava.”

Inserida por AmandaSeguezzi

“Sábado me deu uma típica saudade sua. Me deu vontade de te ver sorrir.”
Pensou ele assim que a vira na mesma praça florida, no mesmo banco de sempre.
Logo ele que estava procurando sentido na vida só não podia imaginar que o encontraria naqueles olhos. Ah, que olhos. Estes que demonstram a reciprocidade pura, sem cobranças. Infinitos.
Infinito era quando ela o abraçava, como um pequeno segundo de num rápido instante. Em um campo imenso ladeado de amores perfeitos e multicores. Colheram flores, aspiraram seu perfume. Abraçaram o ar, a sinfonia. A sorte. Como não chamar aquilo de sonho? É algo novo que transporta, que eleva, que transcende a realidade, ultrapassando qualquer limite impessoal. É como querer alcançar as nuvens, subindo somente em um tijolo, desdenhando as escadas e o avião. Ela conseguiu atravessar o deserto gelado dele com a mesma facilidade o qual se fez de luz e coloriu os dias dela. Assentiram que existe um amanhã feito de incógnitas. E se estavam juntos no agora, por que não pensar nele como sendo algo bom e subjetivo? O presente tornara-se realmente um presente e o futuro uma dádiva de premissas incertas e reviravoltas. Ele culpava sempre o sorriso dela, assemelhava a primeira vez que a vira com um dia ensolarado de verão. Como o tempo transformou-a em seu melhor feriado, melhor dia de chuva, melhor ida aos sonhos, caminho mais curto aos céus. Ela era aquele cobertor quente que, ao enrolar-se por seu corpo, fazia-o esquecer seus problemas e aquecia o coração. Como se não bastasse nesses encontros, o céu tinha que sorrir também. O pôr do sol era um aviso de que a mais bela luminescência, aquela que não se finda, estava dentro de cada um, e que ambas em sintonia recriariam constelações. A sinfonia continuava e eles saíram por caminhos distintos rumo à realidade. Mas não importa, ainda há muito tempo pela frente. O banco fica na mesma praça. Que por sua vez fica na mesma rua. Rua esta onde ela mora.
“Namora comigo no portão da minha casa, fica e não vai embora nunca.”, pensou ela enquanto o via sumindo ao horizonte da rua 7.

Inserida por AmandaSeguezzi

“ - O amor então seria ilógico. Mais um poema desnecessário, caótico e sem sentido.

Antônio construiu feridas ao invés de amores. Corrompeu a alma e envenenou o bom senso com pequenas gotas de ilusão. Levantou uma muralha de pedra e a camuflou com as cores do arco-íris. Eu nunca saberia diferenciar as multicores da parede gélida, porém fina. Eu nunca chegaria a imaginar que o meu olhar de poetiza fazia-me atravessar paredes, quebrar barreiras e chegar ao local onde ele escondia a sete chaves um segredo. O único defeito que ele trazia consigo era ter amado e até demais, flutuado e despencar em queda livre, corresponder e não ser recíproco. Ele possuía um nome guardado bem lá no fundo da sua alma, nome este que ecoava a cada vez que seu coração palpitava mais forte. Nome proibido, palavrão, gesto esse que o fazia assassinar cada sentimento puro disposto a orquestrar em sua vida. O serial killer das probabilidades que habitava nele não gostava de se machucar, trancava a porta, acorrentava as janelas e qualquer mínima fresta que fizesse a paz de seu ser acabar de vez. Mas quem disse que ele tinha paz? Ele queria viver na imensidão de um local qualquer, onde o vazio humano fosse preenchido pelo colorido da natureza ao tentar alcançar as nuvens, o azul infinito. Garanto que conseguiria, mas nunca sem amor. Contudo ele não sabia que esse sentimento era poderoso, talvez soubesse, porém esquecera assim que o último fio de esperança atravessou porta à fora sem olhar pra trás. Pensou numa certeza.
E no fim, o desengano.
Não milimétrico, que bom se fosse, mas foi um erro de grandes dimensões num campo pequeno, desproporcional a este lapso. Não só de memória, mas também humano. Real.
Um erro que chocou a esperança que estava florescendo, que foi de encontro a projetos. Como um projétil de grande potência impulsionado com grande força contra o corpo inanimado de pedra. Mas o problema é que o homem não é de pedra, mas sim um ser que pensa e sente. A chicotada irreal é um erro abstrato. O homem é apenas um homem. Sem certezas.
Que os corações aflitos e escorregadios um dia se encontrem.
Que eu bata na tua porta e me deixes entrar. Sem muitas explicações, eu não preciso, apenas me envolva em teus braços e diga que me aceita e estais pronto. Pega esse medo que te corrompe e o desfaz. Incendeia. Reserva um cantinho da eternidade para minha presença. Deixa eu tirar o teu sossego assim como tu o faz nos meus sonhos. Deixa eu retroceder até aquele dia que o teu sorriso enigmático me fez ficar intrigada por cogitar não ser verdadeiro e deixa eu desvendá-lo a cada dia do calendário até não existir mais chão. Deixa. Porque você sabe, bem no fundo, que aquela tarde de 25 de junho não fora em vão..

Epitáfio: Antônio foi espectro de homem, mas não foi homem. Só passou pela vida, mas não viveu. Fez tudo que queria e não teve tempo de apreciar o amor.

Inserida por AmandaSeguezzi

Eu, você – O mar e nós.
Saudade das pequenas coisas, saudade dos pequenos gestos. Sobre saudade, sei lá, eu não sei se tu vais me entender. Saudade pra mim é algo indefinível. É a ausência do presente. É andar em grupo e não se sentir parte dele, porque o pensamento está voltado para trás. Para aquela rosa vermelha que alguém colheu. Para as ondas de um mar no verão passado. É olhar o jardim e ver nele um outro. Talvez mais feio ou mais florido. Mas é aquele outro..
O nome ele era sinônimo de saudade. Os braços dele envoltos em minha cintura, sua risada baixa, sua pele quente. Sua forma de passar a mão direita sobre o cabelo escuro quando estava nervoso. Saudade é o modo como ele passava os dedos por meu corpo, contornando minha estrutura e desregulando meus princípios mais supremos. Quando ele beijava minha clavícula e acariciava minha têmpora com as costas das mãos, afirmando que nada possuía mais efeito do que meus olhos brilhando por nós e gritando o seu nome. Ainda não consigo definir. Saudade é acordar na cama dele e ter a honra de vê-lo dormir. Ar tão sublime parecia inofensivo, parecia ser meu por alguns instantes. Saudade é o choque que nossas peles ecoavam quando entravam em sintonia, o modo como nossas pernas se encaixavam, a forma como nossas almas se embalavam. Ainda não sei se me compreendes. Saudade era quando os motivos para ficar superavam os que queriam que eu fosse embora. É sentir o coração martelar e mesmo assim permanecer dormente e gostar da dor. É fazer da tua dor a minha dor. Da tua cama a minha cama. Da tua vida a minha. Saudade era aquela cabana pequena onde o telhado de palha nos permitia contar as estrelas, saudade se dava devido ao fato da tua voz rouca falando besteiras no contorno dos meus ouvidos, me abraçando mais forte a cada poema declamado à luz da lua. Ainda não consigo compreender. Saudade era quando teus olhos sorriam ao encontrar os meus. Trágico fim. Tu fugiste com a beleza da noite. Enfim, chorei. Senti frio, tua ausência. Meus pés pesados, minha mão gélida. E uma lágrima sempre rolava, dos olhos que antes sorriam. Saudade. Senti a carícia da areia fina que não machuca, do silêncio gritante a cada pequena onda. Mas eu ansiava por dias melhores. Queria que em todos os dias a primavera ditasse paz e harmonia. Queria que o revés fosse esquecido. Que o passado não pesasse. Que o futuro atraísse. Mas é impossível quando tua alma multicolorida invade a cidade, encobre o céu e me enlouquece. Isso é saudade? Ficarias tu orgulhoso por ser o protagonista de todas as minhas desgraças? Aquelas as quais espalhei entre mil estrofes... Mas fique tranquilo, jamais contarei sobre o nosso segredo a alguém, ninguém nunca saberá daquela mania tosca tua de dizer que se importava comigo a cada maldito final de semana. E acabou. Eu estava a quinze mil pés do chão e mesmo assim ainda conseguia canalizar os pensamentos nele. Avistando tudo lá de cima, inconscientemente eu não me surpreendia, pois encontrava um azul mais anil e mais bonito quando olhava no fundo daqueles olhos. Os mesmos que refletiam o céu e traziam o ar infinito para si. Doce, fresco e perigoso. Meu veneno agridoce favorito que agora parecia não possuir resto nenhum em minha saliva. Saudade é incompreensível mesmo. Ilusória. Comparei-o com aquela nuvem ao longe tão sólida, entretanto que o ilusório vício me impedia de perceber que era só fumaça o tempo todo. Estas nuvens, as mesmas que em algum momento do passado já desbravei. Sim, eu toquei as nuvens. Vi um infinito errante através da pequena janela. A chuva caía e com ela minhas lágrimas acompanhavam a gravidade. Saudade é aquilo que captura as melhores demonstrações de afeto e as arremessa de uma forma intensa num presente considerável, é aquilo que te algema e aprisiona nos porões da loucura que não te deixam ir. Indo. Rindo. Remando. Re-amando. Não importa se sou um bom marinheiro, a tempestade dele me inunda e eu naufrago. Outra vez.
Eu vivi porque amei e amei até demais.
E nós morremos jovens.”

Inserida por AmandaSeguezzi

"O nome dele era Bento e quando o vi, senti a ironia da boca molhada e pele convidativa me atraindo para mais perto. Queria poder ter contado o número de imãs que puxaram o corpo dele deixando-o mais próximo do meu. Minha pele alva entrara em contraste com o aroma canela que seus poros exalavam. Ah Bento, como dizer não para esse sorriso que tanto brinca no canto da sua boca? Como controlar essa insanidade que me toma quando rasgo tuas roupas? Um verão era pouco, assim como um sábado qualquer. E eu o tinha no lugar que quisesse, contudo nunca o suficiente. Eu gostava de desenhar a curva dos braços dele com a ponta dos dedos, gostava quando ele puxava meu corpo para si, como se os nossos batimentos só se regulassem ao encaixe dos nossos corpos. Que mentira, a taquicardia era certeira no mesmo efeito de uma bala calibre 32 quando as pernas dele deslizavam nas minhas e nossas espessuras se seduziam. Seduzir era o modo como os olhos verdes de Bento moldavam o meu rosto, captando qualquer pequeno detalhe, decorando cada sinal. Ele gostava de cochilar ao som de The White Stripes com a cabeça encostada em minha costela, gostava que mexesse no meu cabelo. Que anjo, o anjo Bento. Seria reconhecido fácil como um arcanjo se chegasse aos céus com o vapor pós-banho passando silenciosamente por sua epiderme. Todavia seus olhos brilhavam como quem dá um ataque rasteiro assim que o cetim vermelho sangue escorregava por minhas curvas. Por Deus, como eu o queria pra mim. Vê-lo não importava onde sempre fazia minhas pernas balançarem. Com o tempo, Bento virara sinônimo de faísca e um dos males da combustão espontânea. Com o tempo eu já não conseguia passar mais de um dia sem ouvir a voz cava dele cantarolando desafinado no banheiro de minha casa. Ele era um furacão e a cada encontro eu ia mais a fundo. Grande erro.
E ele se fora. E num instante o céu não tinha mais cor. Eu nunca compreendi o porquê, como também nunca me perguntei por que ao cair da chuva alguém chora na janela. Não tinha a resposta disto até aquela tarde de setembro de 92. Bento fora intenso como o mar e passageiro como um vento frio, vento este que me gelava a espinha e me arrastava para terras desconhecidas a cada toque. Descobri que Bento nunca poderia fazer milagres se só sabia realizar truques. Ele me conhecia por poetiza e gostava quando eu o dominava como dama da noite. - “Nossa, menina, tu encaixas todas as tuas desgraças em poesia. Se não fosse tão bonito, seria triste.” - Ele sempre dizia isso e, olha só, acabou virando uma delas."

O silêncio da presença dele ecoou pelos corredores e os rastros foram levados pelo vento.

Inserida por AmandaSeguezzi

- Era como se fossem os sonhos, os nossos sonhos se encontrando escondido
Ainda que eu desfolhe todas as árvores da primavera não enxergo o lampejo da tua alma. Ainda que eu desfaça os girassóis em milhares de mal-me-quer, cada pequena pétala é transformada em uma mera recordação. E eu fiquei ali, estática. Temendo a noite, ansiando o dia, me perguntando o porquê das garrafas jogadas ao mar nunca retornarem. Tua presença criou raízes e tua voz confundiu os meus sentidos, se misturando com as espumas do mar através da orla do vento. Ao longe eu avistava dois olhos negros como os teus, mas espera, teus olhos não eram tão turvos. Nem tão escuros. Nem tão tristes. Da vaga lembrança que tenho, tua mirada cinzenta refletia a lua nascendo num horizonte límpido. E na maioria dos sonhos tu estavas lá, padecendo sobre ruínas, as quais vistas do espaço gravavam nossos passos nas pedras rígidas. Oh, não consigo mais desenhar o teu semblante, sucumbi às tremuras da perda enquanto tentava com perspicácia e meia esperança desenhar as linhas da tua face, contornando aqueles teus traços na testa que intercalava incertezas e dúvidas. E tu foste embora como quem nunca cogitou em ser o mal do meu bem. Esqueceu meu nome, meu endereço, o modo como minhas aflições demoram a cicatrizar, você perdeu a oportunidade de ser a sutura das minhas feridas expostas. Saudade do tempo ao qual tu eras o meu refúgio e não abismo para o esquecimento aquele que costumo andar pelas beiradas, na ponta dos pés, de vez em quando. E se caso tu não souberes mais o que fazer, sabe para onde tens que voltar. Não, não estarei aqui quando tua percepção aflorar e fizer-te perceber que eu estava te equilibrando o tempo todo. Faz assim, pega as lembranças do passado e as faça de alimento, as mesmas que me serviram de cobertor nas noites desertas de outono. Garrafas nunca voltam quando jogadas ao mar, baby, e eu não precisava dessa resposta, assim como a cada vez que engano a vida enterrando o meu passado, pareço conseguir dez anos a mais. As curvas das conchas tratavam de sussurrar tua risada de vez em quando. Contudo eu estremecia, forte, oscilando meus batimentos cardíacos com minhas vontades inquietas de reconhecer o teu espectro em cada fonte de vida. Mas tu não eras nada disso. E você se foi. E a cada fim de tarde o sol não se pôs mais.
Ele morria.”
- E de certa forma parte da minha memória morria junto.

Inserida por AmandaSeguezzi

- Porque “Acaso” vai ser sempre o nome de uma rua escura

Meu querido Fernando. Não tão querido. E muito menos meu.

Não sei o porquê de estar te escrevendo uma carta, acho que me deparei com a nossa foto rasgada no canto da sala e, não sei, ouvi tua voz rouca gritando: “Alice, nós combinamos que iríamos tentar.”. E eu consenti entorpecida.
Ainda não sei o real motivo de gastar quase três horas e nove pontas de lápis para tentar lhe explicar que o teu sorriso reflete a cada canto em que deixo o olhar fixo. Queria arranjar uma desculpa para ter jogado vinte e três folhas fora e, em uma delas ali amassada, ter escrito à lápis bem fraquinho que amo a forma como você dança desastrado, amo seus dois pés esquerdos, amo quando teus olhos dançam sobre o meu corpo. Sei lá, Fernando. Mandei esta carta justamente porque ouvir tua voz perguntando “Alô, quem é?” tiraria qualquer gota de coragem que eu poderia ter ingerido junto ao whisky. Há tantas coisas que eu queria te dizer sem que teus olhos cinza me deixassem constrangida pelo simples fatos de pousarem sobre minha falta de concordância. Por favor, só não rasgue a carta na metade, assim como anulaste meus sonhos no meio do teu caminho. Por favor, Fernando, me perdoa por sentir dentro de mim a necessidade de expansão, da renúncia à solidão. E tu sempre foste a solidão em carne, osso e infelicidade, Fernando. Por mais que o teu semblante na minha rotina fosse como a claridade potente indo encontrar a noite estrelada, eu tive que perceber que todos os encantos acabavam à meia noite, e que não se saltam três metros à frente com quem não ousa a incentivar um pequeno passo sequer a diante. Perdoa o meu excesso que problemas, o meu estoque de loucuras e a minha vontade de esmagar o mundo num abraço quente. Perdoa-me por não ser o suficiente na tua insuficiência. Ah, quis o acaso que você caísse daquela escada e eu te conhecesse. Bonita gola pólo vermelha, óculos quebrados pitorescos. Sorriso encantador. Poxa Fernando, tinha que dizer na primeira conversa desinteressada que gostava de café e Charles Bukowski? Quis o acaso que tu me visse na chuva e me acompanhasse até o prédio com aquele guarda-chuva de bolinhas amarelas, quis ele também que você afagasse meu cabelo molhado dizendo que o loiro dos meus fios entrava em sintonia com a minha boca rosa claro. Quis o destino que eu gostasse de ti, mas não tão satisfatório a ponto de largar um futuro planejado antes mesmo do acaso ser acaso. Juro que tentei lhe ver que um parâmetro não tão sistemático, entretanto eu vi nosso futuro antes mesmo de pensar em ser presente. É por me conhecer, mesmo desconhecendo, que sei o quanto o meu instinto de não justificar os meus princípios, manipular os meios e obstruir os fins, lhe arranjaria dores de cabeça e no coração também. Entenda Fernando, minhas asas são maiores do que minha vontade que querer permanecer. Eu só queria que tu compreendesses que, se fosse para ser diferente, eu não me importaria em não entender o porquê de querer lhe dizer o quanto eu te amo a cada risada que nossas almas soltassem. Porque eu olho pra ti e não vejo um nome, não vejo um passado que pudesse nos atormentar, não vejo porque diabos nossos corações batem na mesma frequência assim que as linhas dos nossos corpos entram em confronto. Nossa única diferença é que teus olhos brilham mais e, ao meu lado, garanto que essa chama não duraria mais que alguns meses. Sim, Fernando, vou sentir falta de quando tu pedias algo doce e eu me oferecia como moeda de troca. Eu vi que estavas cego e já me senti vitoriosa por conseguir um pouquinho da tua atenção. Só sacrifiquei minha felicidade justamente por saber que não serias feliz chamando-me de “Minha esposa” a cada maldito dia.

De sua, não tão sua.

Alice

Inserida por AmandaSeguezzi

"Divinos são aqueles que eternizam um pequeno instante num grande momento. Divinos são aqueles que não partem ao primeiro sinal de fraqueza. Angelical era quando o brilho do teu sorriso iluminava o meu dia mesmo que por um segundo. Porque a magnificência de tudo estava nos detalhes que não repetiam, na tua forma agradável de abraçar a sorte e estabilizar os pecados do céu. Celestial definia aquele semblante triste que lhe tomava a cada despedida, assim como o ar sublime do afeto abrasador que nos consumia por inteiro ao menor gesto. Bem aventurados os que te cumprimentam a todo o momento, os que fazem da tristeza um mar de encantamento para, mais uma vez, sem encantarem com a curva da tua boca. Maravilhosa era a forma como tu me encaravas de longe, parecendo violar algum código por ser tão atraída por algo que até então tu não compreendias. Muito menos eu. Porque teu nome ainda me gela os ossos e o vento rasteiro suspira o teu aroma de canela compatível à felicidade de um sonho bom. Sonho era quando tu gastavas horas preciosas do teu tempo me fazendo de quebra-cabeças, adaptando minha falta de coerência com a tua tão correta, fazendo da minha loucura um refúgio dos teus sentimentos abstratos que coloriam a realidade de um jeito torto, complexo e mentiroso. Complexidade era saber que no dedo anelar dela encaixava-se uma joia dotada do meu nome que eu não me importaria se ficasse ali pra sempre. Tinha medo de vê-la tão livre a ponto de me esquecer, contudo, veja bem, aprisionar um anjo neste coração fraco e cansado me causaria noites de falência múltipla de vivacidade. Por que se trancou ali e jogou as chaves fora, pequena? Por que em meio a tanto caos e extermínio de bom senso eu percebi que tua mão tinha exatamente o contorno da minha? Ah, pequena, pega essa tristeza toda e expulsa, acorrenta. Faz dela uma ponte que a deixe encostar-se à minha. Diz pra ela que aqui dentro tem um vazio esperando para ser preenchido. Marcha fúnebre também é ritmo, meu anjo. Que nos embala quando o céu fica preto e branco e eu não te sinto. Há quem diga que quando uma lágrima por teu rosto escorrega, o tempo se fecha e a chuva realiza as mais sombrias coreografias. Lavando as almas ou simplesmente nos lembrando de que mesmo do outro lado do mundo, mesmo opostos num hemisfério, até no céu o no inferno, teu olho verde esmeralda atravessaria a atmosfera como uma estrela cadente que pairaria sobre minha vida como um meteoro infame. Não importaria se tu evitasses a morte, corrompesse a desgraça, relesse os horóscopos avisando “Cuidado, menina, vais conhecer um moço que mudará a tua história e vai fazer com que tanto os ares de cima como os de baixo se misturem, confundindo tuas ideias, teus mundos, tuas guerras entre tu e tu mesma, mas mantenha o foco e não desvirtue o teu caminho. Não cruze aquela esquina na quarta-feira.”, isso os videntes nunca contam. O destino não só te levou aquela esquina, como também te fez lembrar aquele momento a cada vida até hoje. O destino te desenhou pra mim e mesmo distante, em algum momento inesperado, a sorte nos acompanharia e nos guiaria até o verdadeiro caminho dos nossos corações. Não se evita a sorte, assim como o destino não aposta em segundas chances. E eu estou aqui apostando em nós. Azar é só mais uma palavra inquieta que cisma em te levar pra longe ao primeiro faro de medo e fraqueza. Divino era o modo como os nossos caminhos sempre se esbarravam, mesmo que inconscientemente. Porque eu não precisava de uma cartomante para entender que aquele sorriso lindo me causaria problemas...”

E trepidações ininteligíveis quando o anjo negro entortava os lábios com expressão de incertezas, admirando o horizonte e pensando: “Se isso for errado, que eu não esteja certa.”

Nunca estava.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Olhar a solidão refletida no espelho do quarto notoriamente me entristecia. Chega um dia em que nada mais importa, sabe? O alimento não tem sabor, as melodias perdem os tons, o céu lindo e infinitamente azul não surpreende mais. Num certo ponto, você percebe que o sol é oco e a luz que o segue passa a ser perturbadora. Depois de muitas decepções você entende porque rosas, as mais belas flores, trazem consigo o espinho cálido que lhes foi gerado. Com o tempo, a morte de Hamlet não lhe espanta mais, tampouco o sorriso enigmático de Mona Lisa não lhe instiga mais a perguntar por que diabos de não mostrar os dentes enquanto é admirada com pudor. Em certo período o arco-íris não é mais uma atração errante, todavia uma explosão de frustrações. Um fim de tarde não é tão belo quando visto em preto e branco. E você apenas respira e mostra os dentes, automaticamente. Solidão é espectro de alguém que passou pela vida e não se deu ao luxo de ficar. Solidão é minha amiga agora, eu a convido para beber e ela me conforta com dois tapinhas nas costas, ela dança comigo e parece não pedir nada em troca. Até que nos damos bem, mas ela nunca preencherá o seu lugar. Você era tudo. Agora é visto apenas em linhas sinuosas que dançam com a saudade sobre uma velha máquina de escrever. A gente se sacrifica pela felicidade de alguém que já é feliz sem a gente. E percebe que tortura é palavra bonita quando bem colocada. É não se preocupar com a dormência do corpo ou o incêndio da alma. É sentir o coração apertado por ver um sorriso largo, no entanto perceber que não é você o motivo dele estar ali. É sucumbir para as propostas corriqueiras de um passado, não de alguém, mas de um momento, ao qual felicidade era palavra bonita estampada nos seus olhos, no seu sorriso, na paisagem.. Solidão é sentir o vazio de alguém que chega na sua vida e colore o que nunca pareceu ter cor. É sentir que as dores são compatíveis e o tamanho das feridas antigas também. É querer curar com um pouquinho de afeto, uma risada baixa, servir como curativo para tanta escuridão. Solidão é uma partida inexplicável, sentir o chão sumindo como areia movediça. Nosso tempo bom fora medido milimetricamente em meio à ampulheta da vida, ao qual, no último grão de areia, nem as mais belas poesias te trariam de volta. Eu deveria me acostumar com esses tipos de despedidas que, quando seguem seu caminho, levam parte de mim junto. Já desmoronei e me remontei milhares de vezes e, mesmo assim, é difícil remodelar os pedaços que tu deixas por aí pelo caminho a cada vez que não pensas em olhar para trás. O dia fica cinza sem o teu encanto trazendo vida para situações imperceptíveis. Teu nome é sinônimo de solidão, rapaz. A infelicidade está costurada na tua epiderme, tua face é tomada de medo e desafeto e, apesar de tudo isso, eu enxergo uma esperança resplandecente que não dota de meu nome muito menos da minha alma. Solidão é descobrir que um coração não preenche dois espaços e não une duas almas perdidas por esses ciclos intermináveis. Você quer alguém que quer outro alguém, que quer outro alguém e assim por diante. Solidão é isso. É a inconstância, perceber que está sozinho mesmo que padeça sobre uma multidão de centenas outras almas vazias que procuram aquela que se acomode com a maior facilidade. Solidão é ser obrigado a reinventar-se a cada dia, sair por aí a procura de cores com outros nomes e olhares que tragam novas histórias, novas poesias. O céu azul é bonito todo dia, todavia nunca está do mesmo jeito. Está sempre em constantes mudanças, mas sempre mantém a beleza rara e o ar sublime. Seja um céu azul.”

Quem precisa de passado quando um futuro glorioso e incerto está para ser descoberto?
Ou omitido.

"Eu sempre dotei de vários vícios, cigarro era terapia e álcool me inundava de calmaria. Mas não era só isso, gostava de ver o vento arrastando as folhas e considerava isso um vício também. Assim como admirar um nascer do sol, as ondas quebrando e os pingos de chuva deslizando pelas janelas. Eu me encantava com tudo que eu não podia conter ou tocar. Você sempre se encaixou nessa categoria. Mesmo quando dormia ao meu lado ou me fazia cócegas. E nós riamos juntos, transformando o assovio baixo em um único tom. É até um pecado sentir aquela perversão toda e não poder harmonizá-la com minha imoralidade e tendenciosidade. Entretanto alguns dos meus vícios encaro como inimigos mortais, aquela xícara de café que tanto te traz de volta a cada gole, até mesmo os acordes de guitarra de Jimmy Page tal qual escuto dia após dia tentando, ao menos, encontrar um pouco de ti nas entrelinhas das notas. Que vício, este de te procurar em cada canto, ansiando por aquele momento em que o teu nada é o meu tudo e juntos nos completamos, e a cada centímetro tua presença me entorpece. E esse vício de ti me consome, que consome os meus outros vícios.Cada vez que te vejo é como colocar os dedos em um fio elétrico e gostar das dores do choque, é perceber que a abstinência do teu toque me restringe um sorriso. Me diz, me diz porque tua alma brilha tanto. Me conta o porquê desse teu sorriso deixar turvo todos os outros à minha volta. Explica pra mim como o capô do teu carro consegue ser mais confortável do que qualquer outro local no momento em que contávamos os focos de luz do céu. Aliás, mais um vício. Aliás, admirar as estrelas era o mais prazeroso de todos os outros, até o segundo em que pude contemplar o mapa do teu sorriso. Tua solidão também se fez meu vício, uma vez que nesse deserto de incertezas eu me deparei com a tua fraqueza, a tua péssima conduta por sentimentos carnais. E eu sabia disso, e te envolvia nos elos dos meus erros, na textura da minha pele sempre que o desalento me permitia. O teu maior vício era não se surpreender com nada, não sentir o gosto bom da veracidade correndo por tuas artérias. Tua alma é uma farsa, droga sintética. E ainda tinha o dom de me enfeitiçar com a leve jogada de cabelo para trás. Como largar o vício? Como lidar como esse meu mau hábito de não conseguir habitar o teu coração. E eu me esforço, fazendo com que o vício vire rotina, remédio obrigatório a todo momento. Prejudicial. Ah ilusão, o mais doce vício, veneno híbrido que mistura meus sentimentos já confusos com a tua confusão sem sentimentos. Em terra de ilusões perdidas, corações partidos são irrelevantes. E os vícios eram a minha morfina, raramente falhavam. Porque mergulhar de cabeça no que não se pode controlar ou realmente sentir é isso, a graça dos vícios talvez sejam essas mesmo, elevar o indivíduos ao ápice da felicidade e assistir aplaudindo a queda. E eu estava despencando, baby, e não caí nos teus braços. E cada partícula minha ressalvava que estrelas cadentes não eram nada mais, nada menos do que nossas almas entrelaças tentando rasgar a atmosfera como uma supernova, e quando isso não ocorria, elas choravam, e escorregavam como lágrimas no céu. Esse era o meu outro vício, fazer de tudo um conto de fadas, um conto do bosque, dotado de emoções inventadas, tampouco emoções. Eu queria fazer da tua dor a minha dor, entretanto nunca parei para analisar a possibilidade de você não sentir nada. E eu estava certa. Maldito vício que me ilude, que me encanta, que anestesia e cega. O que eu faço agora se esse vício anula o efeito de todos os outros? Eu procuro. Procuro mais cigarros, mais nascer do sol, mais estrelas. Eu procuro qualquer outro método nocivo ou não que me faça não te querer tão. E nunca acho."

E você, qual é o seu vício?

Inserida por AmandaSeguezzi

"Se pararmos para analisar cada lacuna pronta para ser preenchida em nossos corações perceberemos que para completá-las existe algo que se encaixa perfeitamente, mesmo que imperfeito, e os lados se moldam como quem suspira aliviado quando a agonia cessa, quando acomoda o que, na verdade, pareceu sempre estar ali almejando um despertar. Se pudéssemos ter uma prévia do futuro, aceitaríamos passar pelos mesmos erros que nos moldaram da forma como somos hoje, ou não? Quem dera poder desvencilhar dos males que me fizeram sentir e pensar assim como agora. Não ser tão calculista, desajustada, sempre em desacordo com o mundo, não retrair-me a uma luz ao fim do túnel, otimizá-la como um momento bom, vibrante e não apenas estar ansiando o fim. Porque vai ser sempre mais emocionante esbarrar com o seu futuro problema numa esquina qualquer do que o mesmo aparecer embrulhado em fitas douradas na porta da sua casa. E eu sabia que mesmo os nossos corações não se encaixando, eu esculpiria o teu até ajustar-se ao meu. Eu sempre estive ciente de que o teu equilíbrio tinha uma ponta de amargura e o meu a mais pesarosa covardia e mesmo assim insisti em uni-las para que tua tristeza se apaixonasse pelo meu medo e juntas derrubassem barreiras invisíveis. Que engano. Sentia-me cega por tua inconstância e tu o vitorioso por dominar a minha essência. E você ria quando eu remendava o teu coeficiente de loucura junto a minha monomania e me abastecia dela. O dualismo que te aflige me atrai para o abismo negro da tua alma. Que alma? Eu ando pelas pontas dos pés, desafiando os meu princípios e procurando nossas energias opostas. E nossos sonhos se encontram escondidos, meu bem, e neles nossos elos se vinculam como se o destino tivesse te reservado pra mim esse tempo todo. E eu aprendo que, de algum modo, consigo embrulhar o infindável por certos instantes e a eternidade é um espaço pequeno para fazer com que eu te visse todos os dias. Mas nunca era certo, não é? Porque a adrenalina da conquista só funcionava quando você via o fio que nos prendia quase se arrebentando. E quando eu acordava, percebia que mal tenho você nos sonhos, tampouco numa realidade que te puxa pra mais longe a cada ideia mal pensada. Percebi que só eu fugia nos sonhos ao teu encontro, nunca moveste um dedo para que o meu caminho fosse o mapa da tua felicidade, você não tentou ao menos harmonizar nossas emoções, não tentou. Não quis tentar. E eu ainda tinha esperança de que tu te apaixonaste por minha covardia assim como até mesmo a tua indiferença me abria um sorriso esperançoso. Nunca seremos um todo, eu não vou te conhecer melhor, não nos completaremos. Teu semblante à meia luz nunca será o meu equinócio. Mas eu tenho certeza de que, em algum momento, vou te encontrar em alguma esquina, e tudo o que acredito até hoje irá se transformar em cinzas que se perderão junto ao vento. Você fez das palavras espinhos e eu não consigo mais encaixá-las em poesia e até me preencho com esses devaneios.. Mas de quê importa? Eu me apaixonei por uma pessoa que eu mesma inventei."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Fiquei até tarde da noite questionando o porquê de te eternizar em cada pensamento meu. Tentava com persistência e coragem admitir que do fim não restara mais nada e que teus acenos subentendidos, tampouco eram sinais. Comecei anotando os teus trejeitos em pequenos pedaços de papel. Depois decorei tuas manias estranhas, tuas gírias, teus olhares. Eu me reestruturei só para não perder qualquer gesto que me permitisse te esquecer. Encontrava-te uma letra de música, numa poesia pela metade e até mesmo naquele abismo de incertezas que nos afastava. Saudade do tempo em que eu tinha por quem lutar. Que eu esquecia o precipício que reside em mim apenas para dar apoio ao teu. Não sei se vais compreender, sei lá, sabe. Sinto falta do que poderíamos ter sido, enquanto aprecio o peso de um futuro que eu mesma desenhei ao te admirar de longe. O erro exala simpatia até distorcer-se em inexatidão. E é sempre a mesma coisa, um texto se acaba e nossa história torta permanece, o que me causa palpitações, baby, uma vez que no contorno de cada letra o nosso dueto não parece fazer tanto sentido assim. E eu ainda insisto no plural, usando como argumento o arrepio que a tua presença me proporciona e os imprevistos que te atraem para o meu mundo. E há tantos imprevistos por aí, meu bem. Tua subjetividade é um imprevisto, dotado de sentimentos sem nome e efeitos colaterais. Saudade de ser aquela desequilibrada que esquece roupas, lembranças e sentimentos pelos cantos da existência como se nada mais importasse. Sinto a nostalgia de um ser esquecido e a melancolia dos infortúnios que esbarram a todo o tempo nos meus ombros já cansados. Sinto falta de não sentir falta, de não temer o gosto de ilusão a cada traço irreversível e desconhecido que trilho rumo ao norte de lugar algum. E nesse prefácio de pulsações involuntárias eu descobri que o azar bate à minha porta a cada dez segundos."

E num décimo desse instante eu ainda tenho a esperança de que você seja o azar da vez.

Mas nunca é.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Nunca mais” é uma expressão tão restrita para vontades tão claras – Pensei.

Nunca mais a possibilidade de um reencontro me invadiu. Eu morria a cada vez que o acaso te colocava no meu caminho e eu te observava mais vivo. E de certa forma tudo que um dia eu imaginei para nós dois parecia nunca ter acontecido. E o "para sempre" não era nada mais nada menos do que uma madrugada. Os nossos encontros pareciam aqueles caminhos feitos de pólvora que aparecem nos filmes, apenas uma fagulha de imprecisão era o suficiente. Nesse “nunca mais” passageiro, tuas idas e vindas não me animavam mais. E não entendia. Não associava a valsa lenta com a tua falta de ritmo, tua falta de vontade de querer ficar. Não compreendia o teu lado sistemático de me tomar nos braços a cada dois meses no ano. Sinceramente não me questionava do propósito de estar nessa guerra que ocorre no teu mundo e não me sentir desconfortável por um toque de bala perdida.No “nunca mais” que te traz pra perto eu enxergo que solidão mesmo é estar com alguém e mesmo assim se sentir sozinho. E tua presença é tomada de solidão da cabeça aos pés, mon amour. E tu te organizas nesses fragmentos desertos. E tu até me convence de que marcha fúnebre também é ritmo e nos envolvemos no mesmo compasso de necessidade e dúvida. Mas “nunca mais”, não é? Nesse jogo de azar sem vencedores e sem final ali estamos. Porque nessa roleta russa de “nunca mais” os teus tiros de más intenções já me causaram três ou quatro mortes. E eu morria antes dos disparos. A ferida exposta não me incomodava quando a zona de perigo ansiava por nosso confronto. O nosso “nunca mais” semeava uma guerra de silêncio constante e olhares gritantes. E eu me iludia por achar que teus olhos brilhavam por defrontar os meus, entretanto tive que interpretá-los como um inimigo, dotado de uma guerra sem som, sem armas, sem sentimentos. Tuas trincheiras eram mais resistentes do que as minhas e “nunca mais”. Ele disse que olha nos meus olhos e vê a farsa das minhas palavras, mas mal se dá conta de que tudo que escrevo reflete o modo como ele age. Então seria ele uma mentira?

Só se dá conta do peso da expressão “nunca mais” quando o fim lhe atropela no meio da rua. E esse choque é sempre inesperado, amor.”

Mais uma história não lida.
Mais uma vez.

Inserida por AmandaSeguezzi