Alves Iury
Como uma manteiga posta suavemente em uma frigideira que há tempo já estava quente, esperando-a.
Desliza escorregando da colher bem devagar e quase não se soltando. Até que se desprende da colher se despreguiçando.
E em uma perfeita transição da colher para a frigideira, toca seus pés na superfície dura e quente e se derrama alongando, se deitando, derretendo-se toda a molhar a frigideira por todos os lados.
Consegue ouvir o som da cena? O chiado da manteiga, se assentando a frigideira e escorregando devagar, é uma sinfonia de gemidos.
Um prazer mordiscado.
Um chocolate derretendo no cantinho da boca. Escorrendo devagarinho a deslizar por cada poro como se fora uma criança que passeia pela cidade e desliza suas pequenas e suaves mãos pela vidraça do prédio conforme avança em seus passos despretensiosos; ao avistar a beira, vai desacelerando os passos para que deslize mais um pouco, adiando o momento em que seus dedos se desprendem, quase se despedindo, da última vidraça do prédio.
Assim imagino, o percurso de uma gota de chocolate escorrendo pelo canto esquerdo da minha boca. A sensação de senti-la rastejar de um canto da minha boca para outro, alcançando o queixo querendo se jogar de braços abertos ao abismo, esperando que meus dedos a alcance e a leve-a para meus lábios; me faz pensar em você.
Uma gota de desejo escorrendo por mim, eriçando cada poro em que desliza. Uma gota de desejo que por onde passa tudo vasculariza.
Algo me diz que essa gota precisa jorrar de algum lugar e terminar essa doce e sutil agonia que é, desejar você.
Te olhei e não senti
O coração palpitar
Percebi que o que há de vir
Eu poderia, evitar
Tinha amor e ainda assim pensei
Por que não te amar?
E se de ti assim pensei
Talvez eu decida tentar
Não por mim mas por você
Pois parece merecer
O que em outros ousa buscar
Só eu posso lhe oferecer
Afinal o que têm além
Daquilo que eu já não vi
Sua carinha de neném
E seus lábios de ofir
Os seus olhos eu ouvi
Isso eu não pude evitar
Mas terei que resumir
Há muito mais para expressar
Versos que sua boca não diz
Eles parecem cantar
Como explicar que isso condiz
Exatamente com o luar
Cantam em silêncio
Uma bela canção
De uma garota incrível
Solta nesse mundão
Como floco de neve ela paira
Mas como gota de vela ela pinga
Em minha pele, amor e raiva
O ardor da parafina
Parafina, parafraseando
Meu amor que por ti anseia
Calor que vai se solidificando
Consistente como a areia
Se dissipa em um punhado
Se com paixão não for regado
Porque não pode em um punhado
Um castelo ser criado
Se um punhado não é o bastante
Só te ver me é frustrante
Se em ti, tocar eu não puder
Te desejo mais a cada instante
Perceba sem mais tempo a perder
Tudo o que em silêncio podemos viver
Somos bons conhecidos
Mas bons amantes podemos ser
Doce e frágil parece ser
Penso até que vai quebrar
Torço para não acontecer
Pois não temos quem culpar
Se apaixonam sem querer
Quis, me apaixonar por você
Decidi assim fazer
E logo vou te convencer
Somos bons conhecidos
Mas bons amantes podemos ser