Álvaro Santos
AOS AMIGOS EVANGÉLICOS
Antes de mais nada, peço licença aos amigos evangélicos por lhes dirigir algumas palavras. E adianto que, seguindo o senso comum, uso o termo evangélico como equivalente a crentes das igrejas neopentecostais, como a Universal, a Renascer, a Mundial do Poder de Deus, a Quadrangular, a Universal do Reino de Deus e outras.
Devo também dizer, de início, que me considero cristão. Não em algum sentido religioso, mas como adepto e praticante das mensagens trazidas pelo Cristo. Aliás, em nenhum momento Cristo afirmou estar trazendo uma nova religião, mas sim a mensagem de um novo mundo. Estudei bastante o chamado Cristo Histórico, de forma a melhor compreender suas palavras e sua atitude nas circunstâncias da época em que viveu.
E é justamente pelo que aprendi da vida de Cristo que me surgem algumas dúvidas sobre o que hoje pregam as igrejas neopentecostais, pelo que me senti movido a conversar com vocês.
Cristo, como todos sabem e está tão claro nos 4 evangelhos do Novo Testamento, fez uma clara opção pelos pobres. Sempre abominou a riqueza material e o grande poder que essa riqueza conferia aos seus possuidores. Assim, foi para os mais pobres e os mais simples que Cristo disse trazer a mensagem de um novo reino, fundado nos princípios do amor ao próximo, da solidariedade humana (lembram-se da parábola do Bom Samaritano?), da generosidade, do desapego às coisas materiais, da compaixão com os desvalidos. Aliás, sempre é bom lembrar que a tortura e o assassinato de Cristo na cruz pelos militares romanos que dominavam a Galiléia atendeu às conspirações, aos insistentes pedidos e exigências dos grandes poderosos de sua época e das igrejas que lhes serviam, temerosos que estavam da crescente aceitação pelo povo das novas idéias trazidas por Cristo.
Bem, visto isso, vem-me a questão que quero dirigir-lhes. Hoje as pregações das principais igrejas neopentecostais, ao contrário das mensagens de Cristo, prometem aos fiéis o sucesso financeiro, material e comercial como prêmio de sua fidelidade à igreja, o que inclui o pagamento do dízimo e outras colaborações. Para tanto, os cultos dessas igrejas usam com grande intensidade testemunhos de crentes que dizem ter saído de situações financeiras e de saúde aflitivas, mas que hoje estariam em ótima condição material (vários carros, apartamentos, lojas comerciais, etc) depois de “abraçarem a Palavra”, ou, em termos práticos, depois de dedicarem total fidelidade à sua igreja. Acabam assim, essas igrejas, por estimular a ganância, o egoísmo, a competição, ao indicar o sucesso financeiro como uma benção divina àqueles que seguem suas regras. Um verdadeiro paradoxo em relação ao que na verdade nos ensinou Cristo, ou seja, que a maior riqueza de um homem está dentro de si mesmo, em sua paz interior e não em suas posses.
De outra parte, essas igrejas e seus autoproclamados apóstolos, bispos e pastores, pelo que mostram aos seus fiéis em seus pomposos cultos, fazem muito mais milagres que o próprio Cristo. Como disse um amigo meu, fazem milagres de “baciada”.
Amigos evangélicos, vocês hão de concordar comigo, há algo de muito errado nisso tudo. Cristo jamais concordaria com essas práticas, que elegem o sucesso, o dinheiro, o poder material, como objetivos maiores da vida.
Por fim, somente uma última questão. Assistindo os autoproclamados Apóstolos, Bispos e Pastores nos programas televisados, e sabendo que hoje são indivíduos riquíssimos, bilionários, que vivem uma vida de luxúria em verdadeiros palácios, qualquer pessoa não fanatizada, de bom senso, e com alguma experiência de vida, fica com a nítida sensação que se tratam charlatões, de indivíduos mal-intencionados, aproveitadores da ingenuidade e das dificuldades alheias; enfim, de espertalhões que tem grande habilidade em usar a palavra para iludir as pessoas. Exatamente iguais àqueles vendilhões que Cristo expulsou do templo.
Amigo evangélico, o que você acha dessas coisas, como pode me explicar tanta diferença entre o que pregam essas igrejas neopentecostais e o que de fato nos pregou Cristo?