Biografia de Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um poeta brasileiro, um dos mais importantes escritores do Simbolismo.

Marcado pela morte de sua prima Constança – a quem amava e estava com apenas dezessete anos, sua poesia é quase toda caracterizada pelo tema da morte da mulher amada.

Todos os outros temas que explorou como religião, natureza e arte, de alguma forma, se relacionam com o mesmo tema da morte.

Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens, nome literário de Afonso Henrique Da Costa Guimarães, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de 1870.

Após a morte precoce de sua prima e namorada Constança, filha de Bernardo Guimarães, Alphonsus abandonou o curso de Engenharia e passou por uma crise existencial.

Em 1821, viajou para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nessa época, entrou em contato com os poetas simbolistas. Em 1893, retornou para Ouro Preto, onde conclui o curso de Direito.

Alphonsus de Guimaraens optou pela carreira de magistrado, dividindo seu tempo, a partir de 1906, entre as atividades de juiz municipal em Mariana e a produção de sua obra poética.

Sua obra cultivou o transcendental, o místico, a religiosidade e a harmonia sonora das palavras, características do Simbolismo, movimento literário iniciado por Cruz e Souza, em 1893.

Os temas predominantes na poesia de Alphonsus de Guimaraens são o amor e a morte. Seu poema mais popular é "Ismália".

Entre suas obras destacam-se:

  • Centenário das Dores: de Nossa Senhora (1899)
  • Câmara Ardente (1899)  
  • Dona Mística (1899) (um canto a sua amada Constança, que morreu prematuramente) 

Alphonsus de Guimaraens faleceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921.

Acervo: 7 frases e pensamentos de Alphonsus de Guimaraens.

Frases e Pensamentos de Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens
Melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens. São Paulo: Global, 2001.

Hão de chorar por ela os cinamomos

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"

É necessário amar… Quem não ama na vida?
Amar o sol e a lua errante! amar estrelas,
Ou amar alguém que possa em sua alma contê-las,
Cintilantes de luz, numa seara florida!

Amar os astros ou na terra as flores… Vê-las
Desabrochando numa ilusão renascida…
Como um branco jardim, dar-lhes na alma guarida,
E todo, todo o nosso amor para aquecê-las…

Ou amar os poentes de ouro, ou o luar que morre breve,
Ou tudo quanto é som, ou tudo quanto é aroma…
As mortalhas do céu, os sudários de neve!

Amar a aurora, amar os flóreos rosicleres,
E tudo quanto é belo e o sentido nos doma!
Mas, antes disso, amar as crianças e as mulheres…

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O amor, a cada filho, se renova.
Mesmo no inverno, brilha a primavera…
E o coração dos pais, sedento, prova
O néctar suave de quem tudo espera.

Vai-se a lua, e vem outra lua nova…
Ai! os filhos… (e quem os não quisera?)
São frutos que criamos para a cova.
Melhor fora que Deus no-los não dera.

Frutos de beijos e de abraços, frutos
Dos instantes fugazes, voluptuosos,
Rosário interminável de noivados…

Filhos… São flores para velhos lutos.
Por que Jesus nos fez tão venturosos,
Para sermos depois tão desgraçados?