Biografia de Almeida Garrett

Almeida Garrett

Almeida Garrett (1799-1854) foi um poeta, prosador e dramaturgo português. Seu poema “Camões”, uma espécie de biografia sentimental do famoso poeta-soldado, foi o marco inicial das ideias do Romantismo em Portugal.

Almeida Garret

Almeida Garrett nasceu em Porto, Portugal, no dia 4 de fevereiro de 1799. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, mas manifestou desde cedo uma inclinação para a literatura. Suas primeiras composições poéticas revelam caracteres arcádicos, devido à formação neoclássica por ele recebida. Os poemas da primeira fase denotam, ainda, rigor das regras clássicas, impedindo a livre manifestação do espírito romântico.

Por causa das perseguições políticas dos escritores liberais, Almeida Garrett fugiu de seu país e permaneceu na França e na Inglaterra, onde recebeu influência dos escritores românticos franceses e ingleses. “Não sou clássico nem romântico!” Era assim que Garrett se definia, mas o poeta teve um papel importante como introdutor do Romantismo em Portugal.

De sua extensa obra, destacam-se os livros de poesia “Camões”, “Dona Branca” e “Folhas Caídas”, os romances em prosa de ficção “O Arco de Santana” e “Viagem na Minha Terra”, e as peças de teatro “Frei Luís de Souza” e “Um Auto de Gil Vicente”.

Almeida Garrett se dedicou à política e cultivou a oratória parlamentar com as obras: “Discursos Parlamentares”, “Portugal na Balança da Europa”, “Da Educação”, entre outras. Faleceu em Lisboa, no dia 9 de dezembro de 1854.

Acervo: 17 frases e pensamentos de Almeida Garrett.

Frases e Pensamentos de Almeida Garrett

Este inferno de amar

Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói.
Como é que se veio atear,
Quando – ai se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… foi um sonho.
Em que a paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele olhar…
Quem me veio, ai de mim! Despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Não te Amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett
GARRETT, A. Folhas Caídas. Mem Martins: Europa-América. 2ª ed. 1987

Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta -"Floresce!"-
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

O coração humano é como o estômago humano, não pode estar vazio, precisa de alimento sempre: são e generoso só as afeições lho podem dar; o ódio, a inveja e toda a outra paixão má é estímulo que só irrita mas não sustenta. Se a razão e a moral nos mandam abster destas paixões, se as quimeras filosóficas, ou outras, nos vedarem aquelas, que alimento dareis ao coração, que há de ele fazer? Gastar-se sobre si mesmo, consumir-se... Altera-se a vida, apressa-se a dissolução moral da existência, a saúde da alma é impossível.

O que pode viver assim, vive para fazer mal ou para não fazer nada.

Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja e a mulher que se ama. A beleza, o espírito, a graça, os dotes da alma e do corpo geram a admiração. Certas formas, certo ar voluptuoso, criam o desejo. O que produz o amor, não se sabe; é tudo isto às vezes; é mais do que isto, não é nada disto. Não sei o que é; mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar, que se pode desejar sem a amar.